Palavras ao vento
Sente-se
a brisa do Tejo quando o sol se põe e a fachada dos Jerónimos emerge num tom
verde que rima com a fonte da Praça do Império, a explosão artificial de água que
à mercê do vento acaba quase sempre por me vir beijar o rosto quando sou apenas
mais um na grande MARCHA DOS DESALINHADOS que por uma noite abre uma excepção e
se alinha na disposição de matar saudades recuando vinte anos e reencontrando o
FADO e a história de tantos dias felizes.
Por
instantes olho à volta mais do que para o palco e descubro que NÃO SOU O ÚNICO
a ter agora cabelos brancos e a ter sofrido um upgrade no volume corporal.
E
elas são agora senhoras cheias de madeixas louras.
Estamos
todos diferentes mas parece que só por fora… afinal, quem NASCE SELVAGEM jamais
se rende a “gaiolas”, e isso percebe-se claramente quando todos juntos abrimos
as vozes e se solta o tom de LIBERDADE da nossa genética de “filhos da
madrugada” e cantamos a urgência do querer que sente que AMANHÃ É SEMPRE LONGE
DEMAIS.
Estou
em festa com a minha geração e não é só para matar saudades.
Hoje
sorrimos porque algumas causas dos anos de entre oitenta e noventa do século
passado, TIMOR por exemplo, já deixaram de ser um PERIGO e já deixámos para
trás alguns dos mais tristes dias de AQUELE INVERNO.
Mas
para quem sonha, as lutas nunca têm FIM, e FINISTERRA, ao jeito de um cabo
algures na costa dos nossos medos, é tão-só um breve momento de ilusão porque a
nossa sina é SER MAIOR e é feita de conquistas mares fora em busca de um
derradeiro e perfeito LUGAR AO SOL.
Mesmo
que tantas vezes… SÓ NO MAR.
CHAMARAM-ME
CIGANO já muitas vezes por causa desta inquieta errância. Mas mesmo assim prometo,
e prometo-me, não deixar morrer o “diabo” que tenho na mão… deixando de o ser.
Eu
e todos aqueles em quem me reconheci na plateia e no palco do concerto da
Resistência no Centro Cultural de Belém, quando as palavras e os acordes foram
a expressão sonora do ADN da minha geração.
Cá
fora, no ar da Praça do Império, há agora mais do que água da fonte, há
palavras ao vento, pedaços de história e de vontades beijando-nos pela via da
memória que se tornou tão nítida.
A
NOITE vale sempre a pena quando é assim um momento de encontro com amigos e
quando percebemos que nunca estaremos velhos porque por mais anos que passem… “só
o sonho fica, só ele pode ficar”.
Comentários
Enviar um comentário