Atravessar a “verdadeira” guerra por entre o sol da primavera
Quando
regressava ontem a Lisboa e finalmente em pleno gozo de um sol de primavera,
tive na A1 a percepção de que o único e grave problema do país é o excesso de
velocidade nas auto-estradas.
Entre
radares, veículos e homens colocados estrategicamente à sombra, aqueles
quilómetros de asfalto apresentavam um estatuto algures entre o “Big Brother GNR”
e a “Casa dos Segredos” sem Teresa Guilherme mas com a “voz” em tom “tinoni”.
É
que não fossem as acelerações e este país assumiria um incrível estatuto de
paraíso…
Na
Área de Serviço de Santarém, um grupo de homens daqueles que têm ar de ser
patrocinados pelo “Rendimento Mínimo de Inserção”, saiam de um veículo da marca
Mercedes para tentar impingir “i-Phones” de 20 Euros a incautos cidadãos já com
alguma idade que regressavam de Fátima e que ainda traziam um lenço colorido ao
pescoço. Passei por eles e entrei na Casa de Banho onde os membros de uma
claque de futebol de um clube com nome impronunciável se entretinham a
pontapear sanitas, portas, armários… e até a gramática.
Não
vi fardas por ali dado que estavam todas concentradas num parque exterior anexo
onde o acerto de contas pela guerra da velocidade se fazia com terminais de
Multibanco.
Bebo
um café por entre as asneiras vociferadas pela claque e entretenho-me a ler as
capas dos jornais. Parece que o Banco de Portugal comprou nova frota automóvel
de luxo para os seus quadros. Faço as contas e verifico que o meu recibo de
ordenado de Março contribuiu para cerca de 2% do valor desta aquisição, o que
me faz pensar se não deverei reclamar o apadrinhar de um dos veículos com direito
a nome numa chapa e um brinde ao jeito das Arrecadas de Viana recebidas pela
mulher do Primeiro-Ministro quando foi baptizar um barco.
Regresso
ao “Campo de Batalha” que estranhamente sou eu que patrocino através de uma
portagem cara, e apercebo-me que há cartazes gigantescos que falam de “Mudança”
ou então de “conseguimentos” estatísticos. Aproximam-se eleições e com elas estes
detalhes da rotatividade de faces, muito mais do que de políticas, a apelarem à
costumeira amnésia eleitoral dos cidadãos num país onde nunca nada muda e onde a
justiça e a impunidade dos poderosos se escrevem nessa linguagem perversa das
prescrições de que fala o jornal que tenho ali no banco ao lado do meu.
Deixo
a “guerra” por uns instantes para ir a um hospital próximo visitar um familiar.
Apercebo-me aí que a excelente organização do Parque de Estacionamento e da sua
cobrança contrasta com o caos do funcionamento que nem sequer permite ter um
pijama disponível para trocar o de um doente em caso de algum percalço.
Mas
isso não interessa mesmo nada porque é irrelevante quando comparado com a
velocidade; e no meu regresso à A1, junto a uma cancela de segurança colocada discretamente,
lá estão mais veículos e agentes para a “caça” aos bandidos aceleras.
Como
Portugal seria bem mais feliz e perfeito se andássemos um pouco mais devagar…
De
saída e agora já sem ironia apraz-me dizer que respeito sempre os limites de
velocidade e que acho muito bem o controlo e as penalizações para quem conduz
de forma irresponsável e tantas vezes atentatória da segurança dos outros. Mas,
por favor, há tanto mais a fazer para lá desta “intensa” caça à multa.
A disparidade de meios e de empenho acaba por ter um leve trago a ridículo.
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