Eu não resisto nunca…
O eléctrico trepa veloz pela calçada, mostrando saber de cor todas as curvas do caminho. Com ele, quando acelera e frena, os nossos corpos ganham o toque de coreografia de um bailado que deixa aos olhos o benefício exclusivo dos abraços. Eu não resisto nunca a olhar-te ao jeito de quem te abraça. Ali, algures entre Alfama e o Castelo, há uma estrada marcada por séculos de passos e vontades, uma calçada de Lisboa que hoje é para nós a inédita rota de um sonho que por ser tão nosso, tem sobrenome de eternidade. No cimo da colina há uma mar de flores lilases que são a antecâmara perfeita para a vista que nos revela as cores garridas do casario que parece render-se ao Tejo, o rio perfeito, que, hoje e com o sol deste fim de tarde, beija Lisboa com a força de um inultrapassável azul. E de azul se tinge também o rendilhado namoro dos nossos olhares. E das nossas tantas palavras… Há séculos que Lisboa semeou aqui esta varanda, trono e casa para os nossos sonhos que não têm idade....