O sonho de uma manhã de verão
Há
um campo imenso em tons de verde e rasgado por flores, que encaminha inevitavelmente
os nossos olhos para o mar que ao longe toca o céu num degradé por entre mil
tons de azul.
O
sol nasceu não há muito tempo, e o navio imponente que passa a ritmo constante cumprindo
o seu destino, tomou desta hora um inédito tom de ouro que brilha intensa e
incansavelmente.
Eu
vejo o ouro a cruzar e por sobre o azul.
Escuta-se
o vento que sopra forte; e o velho pinheiro e a mancha ali à direita de um
pequeno canavial que toca o leito quase apagado da ribeira, já se renderam e
parecem querer voar aproveitando este impulso do ar que corre veloz dando-nos a
sensação de fresco por entre a manhã de verão.
Há
uma casa que já foi branca, o que resta da torre sineira da pequena capela de
uma quinta que alguém um dia sonhou com vista para o Atlântico, e que é agora
uma sombra de cal com buracos de onde nascem e crescem silvas… e amoras.
Passa
gente, a pé ou em carros, cumprindo com perícia o labirinto das horas neste
ciclo irredutível do tempo; mas és só tu, o meu amor de rosto sereno e
perfeito, quem eu vejo encostado à paragem de autocarro a quem estes dias de
estio e férias ofereceram uma inédita solidão.
Eu
voo por sobre esta manhã e por este sonho que não tem palavras.
Nos
sonhos os gestos e os olhares falam muito mais do que aquilo que os lábios
possam dizer.
Eu
voo por sobre este sonho que talvez nunca venha a ter nome.
Nos
sonhos, pouco importa o nome, e o importante mesmo é saber como não acordar.
De
repente eu estaciono na paragem, tu abres a porta e entras enquanto eu ouço
mais do que nunca, o vento; dás-me então um beijo e seguimos os dois em
direcção ao mar.
Os
dois felizes, a sorrirmos e sem nunca nos deixarmos acordar.
Comentários
Enviar um comentário