Eu não resisto nunca…
O
eléctrico trepa veloz pela calçada, mostrando saber de cor todas as curvas do
caminho. Com ele, quando acelera e frena, os nossos corpos ganham o toque de
coreografia de um bailado que deixa aos olhos o benefício exclusivo dos
abraços.
Eu
não resisto nunca a olhar-te ao jeito de quem te abraça.
Ali,
algures entre Alfama e o Castelo, há uma estrada marcada por séculos de passos
e vontades, uma calçada de Lisboa que hoje é para nós a inédita rota de um
sonho que por ser tão nosso, tem sobrenome de eternidade.
No
cimo da colina há uma mar de flores lilases que são a antecâmara perfeita para
a vista que nos revela as cores garridas do casario que parece render-se ao Tejo,
o rio perfeito, que, hoje e com o sol deste fim de tarde, beija Lisboa com a
força de um inultrapassável azul.
E
de azul se tinge também o rendilhado namoro dos nossos olhares.
E
das nossas tantas palavras…
Há
séculos que Lisboa semeou aqui esta varanda, trono e casa para os nossos sonhos
que não têm idade.
E
por entre os olhares e as palavras, eu não resisto nunca a tocar-te ao jeito de
quem te beija.
Depois,
descemos a pé pela calçada, deixando-nos ir com o sol que parte, mas a tempo de
ver como a fachada da Sé se ilumina e se revela perfeita com esta luz do fim da
tarde.
Não
tardará um adeus, a saudade semeada por um abraço de despedida, um beijo… e as
nossas mãos que se tocam quando os lábios não conseguem travar um muito breve:
-
Amo-te.
E
parto com a certeza de que lá atrás e antes do instante deste amor, não há nada
que importe; e à frente, a sorrir-me assim intensamente como o faz agora a lua
que brilha no céu de Julho, estás tu.
Eternamente.
Penso
em ti.
Sabes, eu não resisto nunca a pensar em ti ao jeito de quem te abraça… e
de quem te beija.
Comentários
Enviar um comentário