Um destino
Eu
não acredito no destino.
Não
acredito que exista uma inevitabilidade cósmica que faça de nós meros e passivos
espectadores assistindo ao desenvolvimento de uma história que é a nossa
própria história.
Acredito
apenas que existem momentos e pessoas que se aproximam muito dos nossos sonhos
e da nossa vontade, e existem cumplicidades que de tão perfeitas parecem ter a
marca do divino.
Sonhos,
vontade, cumplicidades… e quando tudo é assim tão perfeito e tão nosso, até
parece um destino que ultrapassa e esmaga a aparência de um qualquer momento.
Estar
em casa sozinho num serão de verão a procurar parede para pendurar um quadro
que um amigo fez e me ofereceu; reler alguns trechos de “A mensagem”,
contemplar a dedicatória feita por um amigo e colocar o livro na estante na
secção / “altar” especial de Fernando Pessoa; arrumar mais três livros na
estante, um DVD e colocar um novo livro de receitas numa das gavetas da
cozinha; alinhar quatro presépios na colecção; incorporar os “novos” tintos por
região e data, contemplando uma “tampa” especial de porcelana com cabeça de
pássaro; guardar patês no armário; arrumar as meias novas, a camisola, o pólo,
a camisa e até alinhar o novo perfume com as essências disponíveis no móvel do
quarto; “colar” na porta do frigorífico, um azulejo que representa São
Francisco de Assis; pensar na data em que irei ao “El corte ingles” comprar
algo de que necessito usando um cartão presente; arrumar um pião de madeira e
um marcador de livros feito de cortiça; escrever a palavra “amor”, para que
seja a primeira na primeira página de um bloco com capa de cortiça; acabar a
noite a construir um Lego que representa o Big Ben e lutar com o sono por não
querer deixar a obra a meio…
E
o estar sozinho é apenas um brevíssimo detalhe físico por entre um “destino”
onde também ecoam milhares de palavras, um “destino” muito bom e tecido pela
amizade de cada pessoa que se faz presente em tudo, e sobretudo na memória
activada pelo coração.
E
estes objectos todos?
Nem
seria preciso que estivessem por aqui para que os amigos fossem lembrados e me
fizessem companhia neste serão, mas no fundo estes objectos são beijos e
abraços que me confortam e fazem companhia numa aparentemente solitária noite
de verão, algures por entre o “destino” da melhor amizade.
A tal amizade que vai tecendo a minha própria história por entre os “sins”
e os “nãos” das opções que vou fazendo.
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