A simplicidade do presépio e o aplauso do povo
A
cirurgia às cataratas a que o meu pai foi hoje submetido no Hospital da Luz
deixou-me com uma vista privilegiada para o Estádio e para a multidão que se
despedia de Eusébio.
A
cultura dos heróis não se aprende nas universidades, pelo contrário, vive-se na
simplicidade que cria a proximidade com todos e que jamais é capaz de dividir
algo e/ou alguém.
E
os heróis até podem beber whisky ao pequeno-almoço, que bem pior são as bebedeiras
da vã e balofa vaidade.
Não
sei se o Senhor Dr. Mário Soares se lembrará da tarde do dia 9 de Março de
1986?
Tomou
posse para o primeiro mandato como Presidente da República e apesar de ter
chamado a Lisboa as estrelas da política internacional, incluindo George Bush
pai, na altura Vice-Presidente de Reagan; teve a acenar-lhe a GNR e a PSP que
faziam a segurança.
A
inveja, a sobranceria e a vaidade levam sempre a estas tristes figuras.
A
multidão continua a mover-se lá fora.
O
dia ameaça chuva.
Estou
sentado na Sala de Espera ao lado da Árvore de Natal e começo a notar a
inquietação de duas freiras já muito idosas que estão à minha frente.
Não
conseguem encontrar o menino Jesus no pequeno presépio de figuras de pano à sombra
da árvore, e de repente, em dia da Epifânia, eu e elas estamos como Baltasar,
Belchior e Gaspar, todos à procura do Menino Jesus, mas neste caso sem a ajuda
de uma estrela.
Acabam
por me ajudar a maior proximidade e também as lentes progressivas que trago
sempre comigo: o Menino Jesus estava bordado numa posição que o coloca ao colo
de Maria.
As
minhas companheiras de presépio riem e agradecem-me muito, afinal eu quando me
ponho assim de cócoras já tenho alguma dificuldade em levantar-me.
Não
tardam a chamar-me do corredor porque o pai tinha chegado ao quarto e a
cirurgia tinha sido um êxito.
Mais
uma hora e estamos os dois no carro a caminho de casa. Chove copiosamente.
O
Céu quis beijar a terra da simplicidade da campa rasa de Eusébio…
Eu
sigo com o meu pai e, chegados a casa, deparamos com a minha mãe a preparar
sete frutas para a nossa sobremesa em Dia de Reis: Romã, Noz, Maçã, Banana,
Laranja, Morangos e Meloa.
A
mesa de Natal vai hoje ser finalmente “levantada”, esta mesa que tem presente a
simplicidade do presépio na bênção desta família de sete que é sem dúvida a
minha maior riqueza.
Às
vezes não vemos Jesus porque O andamos a procurar entre os grandes.
Errado.
Está
na grandeza das coisas simples e hoje por aqui em sete frutas e nos nossos
sorrisos.
A
simplicidade do presépio que é também a simplicidade dos heróis que o povo
aplaude espontaneamente no usufruto da sua suprema inteligência que não vai
atrás de vaidades.
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