Vodka, baldas e… praxes académicas
Jamais
esquecerei os anos que entre 1984 e 1989 passei na Faculdade de Farmácia da
Universidade de Lisboa.
Para
além de toda a formação de qualidade que aí recebi e que me “moldou” como
profissional, tive o privilégio de conhecer colegas com quem partilhei
muitíssimas horas de muito para lá do estudo, criar cumplicidades num tempo em que a
liberdade em Portugal ainda era uma adolescente, e fazer com eles a descoberta de um mundo que se preparava para deixar cair muros e relançar
a esperança.
Muitos
de nós estávamos deslocados, a viver numa cidade muito maior do que as nossas terras do interior onde permaneciam os nossos pais, e fomos criando uma nova
família à volta das mesas das cantinas universitárias onde sempre almoçávamos e
jantávamos aquela bendita solha frita.
Brincávamos
muito, tivemos direito a uma aula falsa no primeiro dia na faculdade, queimámos
o “grelo” e benzemos as fitas, mas sempre a cantar e a fazer festa.
E
foi suficiente.
Chamo
hoje até aqui estas memórias para vos dizer de caminho que detesto as praxes
académicas e que acho inacreditável como as “academias” toleram este tipo de
actividades que beliscam a dignidade dos alunos.
Não
tolero cortejos académicos patrocinados por marcas de cerveja e outras bebidas,
as “latadas” e as infinitas semanas de festa que se destinam apenas a camuflar
o desejado consumo excessivo de álcool, de sexo e de todas as outras coisas ao melhor
estilo da “Casa dos Segredos”.
Acho
ridículas as tunas, agremiações universitárias semelhantes a “Ranchos
Folclóricos das Universidades” onde a brejeirice se confunde com a ousadia e a
liberdade com o exercício de uma intolerável falta de educação e de respeito
por tudo e por todos.
E
esta minha avaliação não a faço por estar velho, faço-a na posse de todas as
minhas condições físicas e mentais, apelando à sensatez, que é algo que muito
prezo.
Em
Portugal e em pleno Século XXI, o retrato robot de um estudante universitário é
um “gajo” vestido de preto que consome álcool em excesso, que faz noitadas,
canta e baila em infinitas festas e que conhece melhor as marcas de Vodka ou de
gin do que qualquer matéria que conste nas sebentas, nos livros ou nos jornais.
De
passagem faz uns exames para conseguir um diploma, que isso sim interessa muito
mais do que aprender seja o que for.
Afirma
que livros ou jornais são objectivamente uma “seca”.
Experimentem
a perguntar-lhe se conhecem a “Absolut” ou o Saramago e vão ver que a primeira
todos conhecem, mas o segundo…
Sei
do que falo, tenho provas muito concretas entre amigos, mas também conheço
gente, filhos de amigos e meus amigos que estão nos antípodas destes
comportamentos, sendo a óbvia excepção que sempre confirma a regra.
A
regra da imbecilidade que ao longo dos anos tem ferido a dignidade de jovens e
famílias com real impacto psicológico e físico em pessoas que deveriam estar
tão-só a viver os melhores anos da sua vida.
Ninguém
sabe o que verdadeiramente se passou na Praia do Meco na noite em que morreram
seis jovens levados por uma onda.
Talvez
nunca se venha a saber.
Mas
basta a suspeita para que se tome uma atitude e as universidades públicas e
privadas têm a obrigação de a assumir condenado e matando este tipo de praxes
inadmissíveis.
Uma universidade educa e educar é cultivar valores e ensinar a distinguir o certo do errado
à luz do respeito que todos os Homens nos merecem.
Não podia estar mais de acordo e embora deteste a palavra "proibir", penso que se se provar tudo o que parece ser verdade neste triste caso do Meco, a juntar a tantas outras coisas do passado, é tempo de ilegalizar de vez essa coisa estúpida e sem qualquer efeito positivo (não me venham cá com a questão da integração dos caloiros - uma treta!).
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