Os divórcios inevitáveis
Há
momentos na vida em que a existência de uma Maya cartomante dentro de nós, com
ou sem lipo-aspiração e outros quaisquer tratamentos estéticos no sentido de
aumentar e dar nova forma aos seios; mas com a garantia de uma eficácia de 100%
nas previsões, nos daria um jeitão para nos poupar a alguns dissabores na hora
de escolher um marido ou uma mulher, melões e melancias, mangas, Presidentes da
República, Primeiros-Ministros, Presidentes de Câmara, etc; e até poder dar-nos
algum desafogo económico, por exemplo na hora de escolher uma raspadinha ou
preencher o boletim do Euromilhões.
Às
vezes aproximamo-nos dessa condição de prever o futuro.
Uma
amiga confessou-me que ao chegar à igreja vestida de noiva e de braço dado com
o pai, já com todos os convidados dentro da igreja para assistir ao seu
casamento, no instante em que lhe escancaram as portas do guarda-vento e viu ao
longe a talha do altar-mor pensou de si para si:
-
Bolas, tens feito muitas asneiras mas hoje acho que exageraste. Isto não vai
dar certo.
Esteve
casada três meses, o que comprova que a previsão que fez do cataclismo foi
certeira, muito possivelmente por ser demasiado óbvia e fácil à luz da mais
pura racionalidade, mais até do que daquela intuição de que o género feminino
costuma fazer bandeira.
Também
há outras situações em que o próprio não consegue prever nada mas se acedesse à
informação e à opinião dos que o rodeiam, por certo se pouparia a alguns
dissabores.
Também
pelo Alentejo e há alguns anos, a meio de um banquete de casamento, naquela
fase em que já toda a gente almoçou e a “malta” aproveita para ir ao café tomar
a bica, e as senhoras que sofrem dos joanetes vão a casa mudar de sapatos,
fomos encontrar a nossa amiga, a noiva, sentada sozinha no meio do salão com um
ar muito triste.
Quando
lhe perguntámos pelo noivo, a resposta foi pronta e certeira:
-
Foi visitar o Paço Ducal com uns amigos da terra dele que convidou para o
casamento.
Estava
na cara.
Só
ela é que não conseguiu prever aquilo que todos antecipámos logo ali: o
casamento durou dois ou três anos.
Fazendo
uma extensão desta muito pessoal necessidade de uma Maya para podermos prever o
futuro no contexto das nossas vidas privadas, para a gestão do país e para a
previsão do défice das contas públicas, fico na dúvida se é genética esta lusa
incapacidade para acertar.
Na
maior parte das vezes o défice fica acima do acordado com os credores e no ano
passado parece que ficou objectivamente abaixo porque nos “sacaram” mais
dinheiro no pagamento do IRS.
Todos
os “irrevogáveis” ministros se congratularam com a situação e puseram ar de
festa, esquecendo-se que esta música foi tocada por cima da nossa pele em pose
dolorosa de bombos… com pancadas extra que seriam perfeitamente evitáveis.
Haja
decência.
Nas
histórias, os heróis nunca são os vilões, os que erram por excesso ou por
defeito, muito pelo contrário, são as vítimas que dão a sua vida no patrocínio
a uma causa.
O
seu a seu dono e curvem-se os políticos todos perante nós, os verdadeiros
heróis anónimos assinalados não por medalhas ou condecorações, mas tão-só pelos
recibos de ordenado.
As
Mayas até podem ser necessárias para escolher melancias ou para a sorte do
Euromilhões, mas para a gestão da vida privada ou para a gestão de um país,
elas são perfeitamente dispensáveis à luz da racionalidade que no caso da vida
privada fica às vezes beliscada pela dormência do amor e da paixão, e no caso
da gestão de um país pela falta de competência.
Não
tiveram nem um “feeling” na hora em que vos escancaram a porta com vista para o
altar onde nos imolaram?
Agora não se admirem se isto resultar em divórcio…
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