Por ti… colher a sorte numa triste manhã de inverno
A
negra cortina das nuvens, mais até do que o voo alucinado e o choro das
gaivotas por sobre nós e por sobre a terra, indicia que lá não muito longe, ali
na zona do Bugio onde o farol testemunha a entrega do Tejo ao Atlântico, segue
de tormenta a manhã no mar, insaciável sofreguidão no abraço das ondas, muito
para lá da sua costumeira fidelidade à areia da praia.
Por
aqui, na muito rara pausa de chuva num dia tão cinzento de Janeiro, há um homem
com uma voz demasiado rouca, indício marcado de uma intensa e longa história,
que insiste em apregoar a “sorte” no refúgio dos anónimos convocados pelo aroma
e pela promessa de uma bica quente que nos possa confortar o ser.
A
“sorte”…
Saberá
cada um qual é a sua nesta roda que é a própria vida no inevitável percurso
pelo calendário.
E
a minha sorte, eu sei, transpiro de certeza… és tu!
E
não te trocaria jamais por nenhuns quaisquer muitos milhões de nada e do que
quer que fosse, se de amor infinito se me enche a alma quando tão-só e desde
aqui de longe eu penso em ti.
Tão
vulgar se torna o ouro nesse tão breve instante em que o dia me oferece a bênção
de apenas um beijo ou de um abraço teu.
O
desenho do teu rosto perfeito sobrepõe-se a todas as imagens que me envolvem, e
projecta-se nítido e sempre no sorrir tímido dos teus olhos céu, nessa cortina
tecida pelas nuvens e permanentemente rasgada pela inquieta dança das imperiais
aves que dominam o “tecto” de todos os mares.
Há
tempestade no mar…
E
eu, que bebo das palavras e dessa mágica e única paz que a intensa memória me
solta de ti, sou sobre a terra o mais feliz de entre todos os homens.
Que
não importa a distância, o silêncio e o não ter-te aqui, quando apenas saber
que existes e amar-te assim, é alinhar o destino com o maior dos sonhos…
É colher da vida a maior sorte.
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