A vitória do dinheiro na goleada sobre a dignidade
Há
muito sabíamos que os zeros à direita no saldo bancário, e o poder que
indirectamente lhe está subjacente são mais eficazes do que a honestidade na
definição da importância de uma qualquer pessoa.
Na
morte da poesia, já não são os sonhos que comandam a vida, como dizia António
Gedeão na sua “Pedra Filosofal”, mas é o dinheiro que define todas as
prioridades.
A
essência de Portugal que está expressa na sua Constituição, é ferida de morte
para que os números do Orçamento Geral de um Estado que não sabe cortar a
despesa onde deveria cortar, se mantenham dentro de determinados valores,
criando desde aí um conjunto de propriedades sedativas que mantenham
adormecidos os “Mercados”, esses Adamastores do Século XXI que nos perseguem
nas Tormentas deste tempo.
E
o grilhão, o medo dos “Mercados” congela a liberdade e o respeito pelo
designado Estado Social, esses mais básicos e justamente expectáveis direitos
dos cidadãos que nunca se negaram ao cumprimento dos seus deveres para com o
Estado e os seus semelhantes.
Até
o Presidente da República olha antes de mais para o “dinheiro” do orçamento e
para o desejado sossego dos “Mercados” sem jamais olhar para a pobreza que é por
esta via um inevitável destino dos concidadãos que o elegeram e que ele
prometeu defender no exercício do seu cargo.
Pelo
poder do dinheiro se faz revogável a irrevogável honra que deveria nortear
qualquer “estadista”.
Pelo
dinheiro, e às vezes até por muito pouco dinheiro, se mata a vida e se fere
decisivamente a honradez do próximo.
O
dinheiro e o controlo orçamental condicionam ainda e decisivamente o julgamento
e a posterior condenação de classes profissionais inteiras que deveriam merecer
de todos muito mais respeito.
A
“cunha” pelo poder e a “gorjeta” ou as “luvas” que suplantam os méritos
naturais são patrocínios aceites quase como universais e legítimos neste “Monopólio”
em que o dinheiro compra “bairros inteiros” e onde quem paga pode sempre “sair
da prisão”… ou então nem ir para lá.
A
conta bancária, os carros, as jóias, as roupas e outros luxos, são a “água
benta” para o baptismo de Senhoras e Senhores que recebem a submissa
“genuflexão” de nações inteiras, com independência de quaisquer outras virtudes
de carácter, essas sim que seriam merecedoras de tal tratamento e distinção.
Pelo
dinheiro e pelo poder se compram títulos que o pouco saber e a pouca aplicação
ao estudo jamais poriam atrás de qualquer nome de gente assim de tão pequeno
porte e tão poucas virtudes.
E
agora…
Mesmo
os comprovadamente grandes, para que possam ter a honra de repousar no Panteão
Nacional, é necessário que a Assembleia da República que no Orçamento de 2014
aumentou em 4% a despesa com salários e em 90% a despesa relativa a subsídios
de férias e Natal, encontre uma folga orçamental para o fazer.
A
menção às despesas de uma trasladação para o Panteão Nacional feita ontem por
Assunção Esteves a propósito de Eusébio e tendo como exemplo Aquilino Ribeiro,
são indignas de uma segunda figura do Estado Português.
Quando
falamos da honra dos heróis, e tal como os nossos pais nos ensinam de pequenos
que não deve fazer-se à mesa, manda o bom senso que não se fale de dinheiro.
É
uma questão básica de educação e tudo isto começa a ser de facto uma grande
“fantochada” de miúdos.
O
grande Aquilino de quem eu leio e releio “A casa grande de Romarigães” e
“Quando os lobos uivam” afirmou que “alcança quem não cansa”.
Inspiremo-nos
e ganhemos força para que não nos cansemos nunca.
Uivemos
com a bravura e a altivez dos lobos porque esta casa é demasiado grande para
gente tão pequena de carácter e que só fala a linguagem vil dos orçamentos.
A
gente pequena de “tostões” a gerir indignamente impérios de milhões… de alma e
de grandeza.
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