Os heróis são eternos mas há manhãs em que deles sentimos saudade
Contrariando
as profecias, há manhãs de nevoeiro que não nos trazem nada e que
definitivamente nos deixam mais pobres.
Hoje
foi assim. Dois tiros certeiros no meu “porta-afectos”.
Eusébio
partiu.
Nunca
vi jogar o Pantera Negra pois quando vim para Lisboa ele já não abrilhantava as
tardes de domingo do velho Estádio da Luz onde eu não resistia a ir sempre que
ficava por cá, mas é pelo Eusébio que eu sou do Benfica.
O
meu pai é sócio do Sporting e seria lógico que eu seguisse a genética clubista
da família. Mas não, por mérito da arte de Eusébio e do relato dos seus golos que
chegavam ao velho rádio de pilhas do meu tio José Boquinhas, a genética
quebrou-se e hoje eu sou orgulhosamente o sócio número 34.044 do maior e melhor
clube do mundo, a minha paixão, o Benfica.
No
conforto do meu lugar cativo no novo Estádio da Luz, preservo a memória desses
golos mágicos e não me recordando das lágrimas de Eusébio na derrota no Mundial
de 1966 (eu nasci no dia 5 de Julho desse ano, precisamente 8 dias antes de
Portugal se estrear com uma vitória de 3 a 1 contra a Hungria) foi de um lugar
bem próximo dali que na noite de 24 de Junho de 2004 e no melhor jogo de
futebol que vi até hoje, testemunhei o choro de Eusébio na vitória por
penalties contra a Inglaterra em que Ricardo foi herói.
Nessa
noite, o menino que ouvia os relatos em Vila Viçosa teve o privilégio de chorar
com o Rei Eusébio.
Mas
de alegria, claro.
E
como se não bastasse a saudade de Eusébio na manhã triste de nevoeiro que hoje
me levou até Vila Viçosa, ao chegar à minha terra recebi a notícia da partida
do meu ilustre conterrâneo Dr. Joaquim Torrinha.
Temos
em comum o berço, Vila Viçosa, o nome de Joaquim Francisco, a profissão de
farmacêutico e, acima de tudo, uma sacra devoção à terra onde tivemos o
privilégio de nascer.
Partiu
uma enciclopédia viva da história de Vila Viçosa, um humanista e Homem de
excepção.
Em
Dezembro de 2012 enobreceu com a sua presença a sessão de lançamento do meu
livro Pomar das Laranjeiras, não supus que esse tão especial abraço que então
me deu ficasse também com o rótulo de saudade por ser o último por aqui.
Há
manhãs de nevoeiro que têm este condão de parecer tirar-nos os grandes, como se
os heróis pudessem morrer…
São
e serão eternos na história e em nós.
Mas
deixam saudades.
A memória de um enorme futebolista e de um Homem humilde e de uma simpatia contagiante.
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