A laje de onde varremos as cinzas é a mesma que servirá de chão ao lume aceso que nos aquece
Gosto
deste abraço que me oferece o teu cheiro, deste informal repouso do meu olhar
sobre o teu ombro, a escuridão com que pinto o mundo para melhor espreitar o
melhor de mim.
Ficaria
assim a vida inteira...
Mas
há um som agudo que me desperta, o prenúncio do movimento de um comboio, e eu
entrego-te as mãos para caminhar contigo; estas mesmas mãos, tantas vezes mães
do gesto de um adeus
As
mãos são como um cais e um cais é como qualquer dia.
O
mesmo espaço, uma indefinida sina, um destino solto e à mercê do tempo.
A
partida?
A
chegada?
A
laje de onde varremos as cinzas é a mesma que servirá de chão ao lume aceso que
nos aquece.
O
cais de onde parte um amor é o mesmo aonde chega outro bem maior e mais feliz.
A
laje, o cais… e os dias.
Até
as lágrimas parecem coerentes e sempre iguais; sendo afinal tão diferentes como
parágrafos líquidos e sem letras na expressão de estar triste ou ser feliz.
Hoje…
Entrego-te
as minhas mãos para caminhar contigo enquanto lentamente passa por nós o
comboio que me trouxe até aqui.
Depois
dou-te um abraço e caminho junto a ti pelo cais e por entre a certeza de que
cheguei e não querer partir jamais.
O
comboio é a sorte, sinto-o claramente depois de acordar cheio de saudades tuas
para um daqueles dias em que é tão fácil escrever sobre o amor.
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