“Custe o que custar”
O
Primeiro-ministro de Portugal afirmou ontem a propósito da morte de uma cidadã
que não beneficiou de todas as opções de tratamento disponíveis para a
patologia que a atingia, que “os Estados devem fazer tudo o que está ao seu
alcance para salvar vidas humanas, mas não custe o que custar”.
Nós
sabemos que os recursos disponíveis não são ilimitados, mas há prioridades; afinal
de contas a vida de uma mulher ainda vale mais do que um outdoor das campanhas eleitorais que o Estado vai patrocinar muito
em breve, e só para dar um exemplo.
Porque
quando se trata da vida de alguém, é mesmo “custe o que custar”, digo eu.
Digo
eu e esperaria eu que o dissessem os deputados dos partidos que apoiam esta
maioria e que gritaram a defesa da vida sempre que o parlamento discutiu a
interrupção voluntária da gravidez, por exemplo. Onde estão essas vozes?
Onde
está o Professor João César das Neves e os movimentos que fazem vigílias à
porta da Clínica dos Arcos nas Amoreiras?
Já
alguém se manifestou em Massamá?
O
que disse a Conferência Episcopal Portuguesa a propósito destas declarações?
Acaso
a expressão de vida de um feto no seu contexto intra-uterino seja mais
relevante do que a de uma mulher com cinquenta anos?
Ou
será que encontrámos no desequilíbrio orçamental uma justificação para assumirmos
e legalizarmos a eutanásia?
Onde
está a coerência?
Será
que ela é tão ténue que não consegue vencer os ícones imbecis do que se
convencionou chamar esquerda ou direita no desenhar de um espectro politico
onde o cidadão só conta para o financiamento e para uma cruz num boletim que dá
acesso ao poder?
O
respeito pela vida deve ser transversal a todas as suas dimensões e expressões;
e os heróis, os que ficam com nome inscrito na História dos povos são os que se
guiaram pelo “custe o que custar” que tantas vezes lhes “custou” a própria vida
para que a dos outros pudesse emergir da dor da morte anunciada.
A
vida deve ser o mote supremo no guião de quem comanda um Estado, e eu… não
gosto e nem voto em quem pensa e diz o contrário.
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