Parque temático em versão genérico sem bioequivalência
Num
processo de pulverização de qualquer parque temático infantil em versão
genérico sem bioequivalência produzido em vão de escada na Índia, o Carnaval
semeia pelas nossas ruas uma prole de figuras estranhas e medonhas.
Já
não falo das crianças que para estes dias prepararam uma invasão de Violettas,
princesas ou Invizimals; e eu na Sexta-feira de manhã fui desde logo atacado no
elevador por uma menina envolta em cor-de-rosa, com tiara de plástico prateado na
cabeça e um casaco de penas por cima do vestido algo amarrotado, e também por
um guerreiro medieval com espada a condizer com uns óculos “super fashion” transparentes…
Mas
falo dos adultos.
Assim,
na peixaria do Pingo Doce fui atendido por uma senhora que envergava uma
bandolete de Coelhinha da Playboy, o que juntamente com o seu avental de
borracha ensanguentado pelos Robalos, e também o buço mal aparado, lhe dava um
ar de fugir.
Ela
própria naquele estado parece ter fugido de algum hospital psiquiátrico onde
tratava de uma profundíssima paranóia.
Fugi
mas na caixa tive de optar por um rapaz de chapéu de Cowboy e uma senhora tão
pintada que mais parecia ter assaltado o equipamento de maquilhagem da mãe.
Optei pela segunda e vi jeitos de ela chegar a uma altura em que não conseguia
ver os artigos, tal o risco de os olhos ficarem colados pela quantidade
industrial de rimmel.
O
que ela se esforçava para manter os olhos abertos…
E
o Cowboy ali ao lado com o seu chapéu de JR Ewing parecia o neto ilegítimo de
algum dissidente dos Village People.
Vou
comprar o jornal…
Na
banca está uma menina a comprar adereços da Violetta e a ser assessorada pelas
avós que mais parecem as bruxas da Branca-de-Neve. Os artigos a que associam os
melhores adjectivos são pura violência sobre as crianças; juro que são piores e
mais feios do que um par de açoites.
Não
aguento.
Vou
até à pastelaria para tomar café em sossego e reparo que os empregados envergam
perucas e andam a servir às mesas em passe de samba embalados por uma
aparelhagem em volume altamente proibitivo.
Só
me faltava ter de beber a bica ao som do “meu amigo Charlie” num sambódromo
genérico com vista para a Serra de Sintra e entre folhados, Queques e Bolas de
Berlim.
E
a consciência do ridículo é por estes dias um conjunto vazio.
Voo
imediatamente para casa porque um dia de folga do trabalho não pode ser
desperdiçado assim.
Entro
no elevador do prédio não sem que antes saia de lá um Ninja envergando uma
espada fluorescente, uma criatura verde que deve ter aprendido a gritar com a
buzina do Farol do Cabo Espichel.
Bolas…
Carnaval?
A
quaresma já e em força.
E
nem vou dormir a sesta porque com o andamento que isto leva tenho a sensação de
que ainda me poderá aparecer a Angela Merkel em bikini à boleia de um pesadelo
aterrador.
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