Segunda-feira
Abrir
a tábua, ligar o ferro e eliminar algumas rugas na camisa; retirar o fato do
roupeiro e ver se as calças têm o vinco em condições ou se necessitam passar também
pela tábua onde antes esteve a camisa; retirar o cinto que melhor se adequa à
cor do dito fato e ao tamanho dos passadores do cós; engraxar e dar brilho aos
mocassins que estiveram em descanso…
E
a Segunda-feira nasce muito antes da meia-noite, entrando pela tarde de domingo
e trazendo com ela aquele estado semi-depressivo que se pode considerar a
ressaca da Sexta e do Sábado à noite, estado que tentamos tratar ao serão com
um infinito Zapping entre programas
de TV que revelam talentos musicais, de dança ou outros, painéis de debate
sobre foras de jogo e golos de futebol, os comentários do Prof. Rebelo de Sousa
e os programas da RTP Memória em que o Júlio Isidro revisita talentos tão
antigos que ficamos ainda mais deprimidos quando nos apercebemos que já
passaram décadas desde os tempos em que nos deliciávamos com a modernidade de “O
Passeio dos Alegres”.
Nada
nos satisfaz e tudo parece agravar definitivamente o estado neuro-psíquico de
depressão. Por esse facto, levantamo-nos dezenas de vezes do sofá para irmos
até à cozinha tomar um copo de água e de caminho “apanhar” alguma bolacha ou
pedaço de chocolate que tenha sobrado do fim-de-semana.
Aproveitamos
para contemplar a lua que se vê muito bem desde a janela da Cozinha e reparamos
que o Parque de Estacionamento ao redor do prédio voltou a estar repleto de
carros.
Amanhã
estarão todos em fila com o nosso a caminho dos empregos.
Acabamos
sempre por ir para a cama mais tarde e sem sono porque de manhã deixámo-nos
estar a dormir até mais tarde, activamos o despertador e sentimos a dor de pensar
que muito cedo ele soará para nos despertar naquele exacto momento em que
estávamos pegados ao sono. Até já poderíamos ter estado acordados durante uma
hora, mas quando soa aquela maldita campainha…
Depois
é o espreguiçar entre o amaldiçoar da sorte, o aparar a barba com um olho
aberto e o outro ainda a dormir, o acabar de acordar debaixo do duche, o
reencontro dos pés com o aperto dos mocassins, a urgência de uma bica, as
torradas acompanhas das páginas dos jornais lidas na Banca do Sapo, o elevador
e a conversa de circunstância com os vizinhos que descem com um estado de
dormência idêntico ao nosso, os bons dias dados ao senhor que se cruza sempre
connosco durante o passeio matinal do cão, as piadas da RFM, o trânsito, as
buzinadelas, as rotundas que a malta aborda como uma dança de cadeiras, o frio
no escritório porque o ar condicionado esteve desligado durante o
fim-de-semana, a minha colega Carla e a conversa temperada de bocejos a
lamentar o quão injusta é a curta duração do descanso…
E
depois toca a trabalhar.
Maldita
Segunda-feira?
Não
coitada.
O
problema não é dela mas dos dois dias de descanso que a antecederam.
Tivesse
o fim-de-semana três dias e a ver se nós não detestaríamos a Terça-feira…
O
descanso é tão bom.
Comentários
Enviar um comentário