Conheces o Camões?
Num
dos dias da semana passada fui com o meu livro “As bolachas mágicas da Avó
Inácia” até à sala de um infantário onde estavam cerca de quarenta crianças de
quatro anos.
Todos
de bibe azul aos quadradinhos e muito alinhados, ouvi-os cantar a canção do bom
dia já predispostos para me ouvirem a contar a história, algo intrigados com a
presença de um estranho ali pela manhã.
E
a Educadora começou por falar de livros e lembrou-lhes o que já antes lhes
havia explicado sobre os escritores. Um dos rapazes vendo que a minha cara
correspondia à foto da contracapa do livro, rápido me questionou?
-
Conheces o Camões?
A
associação é demasiado lisonjeira para mim e fez-me pensar que talvez aquela
criança ache que os escritores vivem todos num panteão qualquer, que se
levantam da tumba todas as manhãs e tomam o pequeno-almoço juntos a debitarem
sonetos e versos enquanto partilham as meias de leite e os pães com manteiga…
Uma
espécie de “Clube de poetas”, por certo envolvendo os mortos e os ainda vivos.
Expliquei-lhe
que o conheço apenas pelo que ele deixou escrito; e pensei mas não consegui pôr
em palavras para quatro ano, esta ideia de que a humanidade dos anos que eu
viva tem sempre a oportunidade de se cruzar com a eternidade dos heróis que
cruzam os séculos.
Um
benefício nosso.
Passei
a contar a história e a conversa animou à volta da magia, da imaginação, da
alegria de conseguirmos chegar até aquilo que mais queremos.
E
quando um deles me fez a pergunta de um bilião de dólares:
-
Porque é que escreves?
Respondi
que utilizo as palavras para construir o mundo que eu quero e que eu desejo,
não desistindo porém de tentar que o outro mundo, o real, herde também a arquitectura
que expressa essa vontade.
E
confidenciei-lhes que a magia é afinal esse trilhar dos sonhos e a fidelidade
ao que importa, nós.
Não
sei se as crianças me entenderam enquanto comiam as bolachas e comentavam uns
com outros, tudo aquilo que de mágico esperavam lhes pudesse acontecer de
seguida.
Mas
vocês meus queridos amigos entendem-me perfeitamente.
Comentários
Enviar um comentário