O Olimpo dos dias simples
O teu sorriso acode-me à lembrança na
hora de adormecer. Já pousei o livro de poemas de Eugénio de Andrade e apaguei
a luz; nos lábios um padre-nosso que quase nunca acaba…
Há uma estrada íngreme que contorna e revela
os segredos da montanha; nós seguimos juntos pela sua rota.
Como quem passeia, subimos sem que
saibamos se o caminho nos fez romper o céu, ou se o céu é ele próprio este
passo lento entre o rubor das cerejas maduras, aqui e ali interrompido por um
beijo à beira de uma fonte.
E a água assim bebida dos teus lábios
tem sina de ambrósia e néctar dos deuses, enquanto tudo à volta tomou do sol e
de Apolo as qualidades; e os grilos e as cigarras, o fulgor do vento entre as
árvores, são o toque da lira, o canto das musas e a dança das cárites neste
Olimpo sagrado com que tu vestes a montanha.
A casa de Zeus e Hera, e a eternidade
perfeita entre os cristais e os doze deuses do monte sagrado que se eleva do
mar Egeu.
Acordo sem que a noite e o sonho me
tenham desmontado a lembrança; contínuo a ver o teu sorriso.
E enquanto ando descalço sentindo o
fresco do chão da casa, e quando abro a janela, respiro a brisa das sete horas
e sinto que a manhã me beija, eu nunca sei se o Olimpo e o céu são os sonhos de
um poeta adormecido ou se são estes dias simples que aparentam quase nada mas
que têm tudo e o teu rosto que sorri.
Mas aposto que são os dias.
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