O império da moral e o pecado da hipocrisia
A
República da Irlanda é um dos países mais católicos do mundo, talvez não só
pela dimensão da fé da gente, mas também porque a fidelidade ao Papa ajuda a
delimitar as fronteiras relativamente à Coroa Britânica e à fidelidade Anglicana.
Segundo
os dados de 2011, 84,2% da população afirma-se católica; e destes, 51,6% vão à
missa pelo menos uma vez por semana, existindo ainda uma fracção de 20,9% que
assume participar na Eucaristia em média uma vez por mês.
Foi
neste contexto que no último sábado o “sim” ao casamento entre pessoas do mesmo
sexo ganhou em referendo por 62%.
Numa
reacção ontem à noite, o Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do
Vaticano, comentou estes resultados afirmando que “A Igreja deve ter em conta
esta realidade, mas no sentido de reforçar o seu compromisso com a
evangelização. Eu penso não poder falar-se apenas de uma derrota para os princípios
Católicos, mas sim de uma derrota para a humanidade”.
Não
fora a fé dos Homens e a soberba das religiões já teria apagado Deus do centro
do universo.
Parece
estranho…
Mas
quando os Homens se substituem a Deus no juízo das atitudes e das opiniões dos
outros, e até da maioria, quando se colocam a eles próprios no altar da
clarividência que advém de terem “consumido” maior dose de Espírito Santo… pura
e simplesmente acabam por matá-Lo, substituindo-O por uma humana face temperada
de vãos interesses.
É
o império da moral sobre o do amor e da fé.
As
normas tecidas pelos interesses a calarem a essência divina, focando-se na
banalidade da forma muito mais do que na riqueza do conteúdo.
Quer
estejamos nos desertos da Síria ou entre altares barrocos do Vaticano, porque o
terrorismo e “esta evangelização” são formas medievais ao estilo das cruzadas
para impor “verdades indiscutíveis” em batalhas contra a inteligência e as
convicções oferecidas pela fé dos demais.
Evangelizar
a Irlanda no contexto em que sugere o Cardeal Parolin será atentar contra o
amor e fazer o apelo à hipocrisia, essa mesma que corta os Homens ao meio, enchendo
os púlpitos e as sacristias de virtudes, e os silêncios obscuros dos mais
perversos vícios privados.
E
tudo isto quando o Evangelho é na sua essência o maior e mais completo poema de
amor que alguém um dia poderia ter escrito, a obra-mestra que casa o que se diz
com o que se faz na expressão divina e inspiradora de Jesus Cristo.
O
amor… aquele que nunca se esconde e para o qual o Homem foi feito.
O
amor que é a essência da liberdade, da verdade e de tudo aquilo que mais importa.
Eu,
Católico, muito me alegro pelo resultado do referendo na República da Irlanda.
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