“Tira a mãozinha daí…”
Seguindo
pela Auto-estrada A1 e a poucos quilómetros do Porto vejo um outdoor que me diz ter chegado a casa. À
primeira vista a mensagem parece-me simpática e adequada, até porque me sinto
sempre no Porto como em casa; mas depois verifico que tal se refere ao Porto na
vertente clube de futebol, e aí definitivamente e com todo o respeito, aqui não
jogo em casa. Hoje até venho assim contente, bicampeão e de gravata vermelha.
Mais
à frente vejo dois novos cartazes gigantes a anunciarem o disco de uma cantora
chamada Maria Lisboa.
Com
semelhante nome a querer vender discos no Porto?
Deve
sentir-se por aqui tão em casa como eu no Dragão; apesar, e registo, o disco se
chamar “Tenho fé em Deus”.
Pois…
só mesmo com muita fé, já se vê.
Continuo
a olhar para os oudoors e verifico
que entrei na “Área Motel”. Há o “Silk” e o “Emoções”, e a avaliar pelos
desenhos… saltos altos e champanhe serão coisas que não faltarão por lá a
preços que vão desde os vinte e cinco Euros.
Depois
da Maria Lisboa de mãos postas a expor as unhas de gel tratadas em algum corner de um Centro Comercial…
Não
fora eu ter boa memória e poderia passar-me despercebido o facto desta cantora
há já muitos anos, em tempos do saudoso top “Made in Portugal” que passava na
RTP aos domingos à hora do almoço, ter tido um êxito chamado “Tira a mãozinha
daí que eu sei que é bom mas não é para ti”.
E
agora com a fé…
Bem
pode dizer-se que não há assim tantas incompatibilidades históricas e há novas Madalenas
a pairarem arrependidas sobre as emoções e a seda da mais objectiva e brejeira lascívia
patrocinada a vinte cinco Euros… e com parque de estacionamento discreto.
Sigo…
Novo
cartaz: “Alvaiázere, a Capital do Chícharo”.
Não
sabia que tal leguminosa também tinha capital e anexo-a desde logo à minha
lista das ditas onde consta, entre outras, a do Móvel, da Chanfana, da Pêra
Rocha, do Cavalo, e até, imagine-se, a Capital do Palito, o Lorvão no Concelho
de Penacova.
Outro
cartaz muito bem situado, sobretudo se atentarmos que passámos perto de
Alvaiázere há mais ou menos cento e vinte quilómetros e que depois de uma
imersão em francesinhas e tripas, de volta ao sul dificilmente alguém se
lembrará de sair da auto-estrada para ir comer aqueles primos direitos das
ervilhas.
Vejo
mais um cartaz do Continente (“O que rende…”) e depois e já no Porto, os outdoors da pré-campanha.
Também
prometem “emoções” e “champanhe” para a nação, mas omitem naturalmente o preço,
que é, e eu sei e sabemos todos, bem mais de vinte cinco Euros. Aposto que até o
estacionamento será pago e muito pouco discreto pois terá a supervisão dos
delegados da EMEL.
Avanço…
“Tenho
fé…”…
Em
Deus sim tenho, embora não faça cartazes de mãos postas e nem sequer tenha
unhas de gel (e nem a unha do dedo mindinho crescida, ouviste Celso?).
Mas
nesta gente não tenho fé nenhuma.
Confesso
até que se pudesse fazia inversão de marcha e seguia o caminho contrário ao da
Maria Lisboa, acabando a cantar “Tira a mãozinha daí que eu sei que é bom mas
não é para ti”.
Sem
lascívia mas com amor ao ordenado.
E
já que fazia inversão de marcha talvez fosse a Alvaiázere comemorar com
Chícharos o bicampeonato.
Com
emoção.
As
histórias contadas pelos outdoors da
auto-estrada a um homem que viaja sozinho…
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