A ilustre casa de todos nós
O
sol nasceu há pouco e a intensidade do seu brilho que cresce lentamente, impõe
um alucinado ritmo de cores à paisagem que a manhã me oferece.
Vejo
terra, mar, ilhas que intercalam verde com longitudinais extensões de areia,
uma infinidade de pequenos barcos fundeados numa competição de garridos tons, e
só as gaivotas e um ou outro barco que acelera, quebram a quietude da manhã,
quais estrelas cadentes no firmamento de uma noite estrelada.
Respiro
a maresia ansiando que ela jamais se apague da memória quando eu tomar caminho
por sobre o asfalto que privilegiado se estende entre sobreiros, searas e
infindáveis matas de giestas.
Breve
chegarei a casa e fumegará sobre a mesa uma sopa de tomate que também carrega
em si a nobreza de um pão de trigo e o gosto único de um ovo fresco cozido
manhã cedo agradecido a uma produtiva e poedeira habitante do galinheiro.
No
final, como sempre, irei sacudir a toalha na varanda que tem vista para o Paço,
porque os pardais que chilreiam no cipreste nosso vizinho já aguardam o petisco
das migalhas que em breve povoarão o chão de laje.
A
sopa estava boa mas faltava-lhe a intensidade de aroma dos frutos dos
tomateiros que o avô Joaquim antes plantava no Álamo e que regávamos com a água
do poço que escavámos em família. Os tomateiros que davam centenas de frutos
contabilizados um a um pela paciência do meu irmão num tempo em que “agricultura
biológica” era uma designação desnecessária por ser tão só um pleonasmo.
Neste
relato de um simples domingo de primavera, entre a terra e o mar e algures entre
o presente e as memórias, a excelência da Terra manifestada no perfeito
equilíbrio entre as diferentes componentes da sua dádiva.
O
Homem é apenas uma dessas componentes, beneficiário maior e a quem é legitimo
exigir que a preserve e jamais destrua por razões de ordem pessoal, económica,
política, religiosa, ou outra, o ciclo da complementaridade e simbiose perfeitas
entre as espécies e o espaço que as rodeiam.
E
mais se exige aos que cremos em Deus…
Hoje,
dia 22 de Abril, é dia Mundial da Terra, esse elemento comum que nos une a
todos, e a todos une à natureza.
A
Terra ou a ilustre casa de todos nós.
Igualdade,
paz, equilíbrio, honestidade, amor, verdade, comunicação, respeito, sorrisos,
beleza, sonhos, oportunidades, vida, generosidade, poesia, simplicidade,
prazer, tranquilidade, inteligência, simpatia, persistência, amabilidade,
justiça, energia, gratidão…
Pela
expressão da nossa vontade, que de tudo isto povoemos a Terra.
Gratos, será esta por certo, a melhor forma de a louvarmos.
Meu bom amigo.
ResponderEliminarMais uma beleza que nos dás.
Com um abraço.
Deste sempre amigo.
Tão bonito.... tão bucólico. Parabéns
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