Janelas de papel
Era
uma vez um rapaz (sim, porque são rapazes e nunca meninos, os rebeldes
cavaleiros dos simples entreténs que brincam livres na rua com as cumplicidades
do luar) que todas as noites ansiava para que o silêncio da casa que acompanha
a escuridão que impõe o repouso das almas, lhe abrisse as portas dos sonhos e
por eles o fizesse voar muito para lá daquele ponto onde qualquer Homem julga
possível conseguir chegar.
Sem
as amarras das faces que nos marcam os dias, cada noite devolve-nos o doce
conforto de uma dedicação exclusiva ao pensamento e à verdade de nós mesmos,
com esse benefício acrescido das asas que não conhecem, e não se vergam a
quaisquer humanos limites.
Neste
ciclo dos dias simples no campo e dessas noites povoadas por milhões de
“viagens”, ansiava o rapaz por um momento em que os sonhos entrassem sem que
para isso o ocaso tivesse que ocorrer, na momentânea e previsível derrota do
sol que faz reluzir a lua.
Dessa
esperança se alimentou, e por essa vontade deu mote à magia com tal
intensidade, que a viu concretizada numa manhã que trouxe com ela uma criatura
apetrechada de super poderes, indescritível e fantástica maga que o convidou a
entrar no seu mágico palácio das janelas de papel:
-
Cada janela espreita para um sonho. Abre todas as janelas que quiseres, tendo porém
o cuidado de nunca as rasgar pois isso matará a magia que a ti e a todos os
outros permite concretizar os desejos mais incríveis do universo, tudo aquilo
que por entre o passado e o futuro, persiste eterno porque enraizado no mais
íntimo de nós.
Pela
mão segura, o rapaz deixou-se levar para o palácio e arranjou um canto discreto
de onde do alto de um pequeno banco de madeira de assento redondo, diariamente
ia abrindo as janelas que carregavam em si esse dom de o fazer sonhar estando
acordado e na companhia dos raios de sol.
E
assim, também os dias passaram a ter asas…
Conheceu
o mundo nas suas grandezas e misérias, aprendeu a conhecer os Homens e de
tesouros se encheu na riqueza que só os simples, pela tolerância, conseguem criar
pela alquimia das diferenças.
Repletos
de bênção do campo, de inverno saboreando deliciosas bolotas assadas num
simples aquecedor e de verão bebendo as mais frescas limonadas, os anos foram
passando, felizes, até o dia em que a maga teve de partir levando com ela o
palácio das janelas de papel, e o rapaz, já homem, partiu para o mundo que
antes espreitara, transportando com ele a gratidão expressa pela vontade de um
dia também poder “desenhar” janelas de papel, jamais desistindo de sonhar e
criar sonhos.
O
rapaz sou eu, Joaquim Francisco. E uma janela de papel, cada livro que tive o privilégio
de ler ao longo desta história tornada verídica pela magia de uma grande amiga
e mestra de sonhos.
Eterna,
ela continua a chamar-se Joana.
Dia
23 de Abril, Dia Internacional do Livro.
Meu bom amigo.
ResponderEliminarSem duvidas os livros são janelas que nos ajudam abrir, ver e viajar pelo mundo, nem que só seja em imaginação.
Por isso deves continuar a escrever estes belos textos para todos podermos viajar também.
Com um grande abraço.
Deste sempre amigo.
AR