Abril em Portugal
Visto do alto, o Ribatejo tem o
jeito de um imenso mar de verde... e inundada e fértil é a lezíria salpicada
aqui e ali por breves ilhas, branquíssimos casarios das aldeias e vilas da
beira Tejo.
No voo, desviamo-nos para oeste,
sempre no rasto do verde, e de repente, o recorte mágico da Pena prepara-nos
para a imensidão de azul que jamais saberemos dizer se é rio ou Atlântico.
Seguimos depois como que fazendo-nos ao sul,
e não fosse o Cabo Espichel lá mesmo ao fundo, e juraríamos ser infinito o
areal da Caparica que o mar beija continuamente pela espuma ritmada das ondas, alvas dobras de lençóis gigantes ajeitados no perfeito leito desse indescritível tom de azul.
Sob o olhar cúmplice do Cristo Rei e
ali por sobre a ponte, o avião desvia a rota, faz meia pirueta e fica
cara-a-cara com Lisboa, majestosa, imperial nas suas colinas revestidas de um
casario que compete em cor e na intensidade de uma luz que nunca deixa de ser
clara.
Nos pontos mais altos, as torres e os
zimbórios onde brilham os sinos, sinalizam a inevitável fé de uma terra sagrada:
Estrela, Sé, Santa Engrácia, Santo Condestável, São Vicente, Memória...
Mas sabemos que os segredos e as
virtudes estão guardados algures nessa malha de ruas, entrelaçado de
indecifráveis calçadas e vielas, as veias por onde corre o povo nesse bravo acto
de dar vida à cidade pátria dos heróis do mar.
Há veleiros ancorados na margem do
Tejo que pela encosta da Sé namora Alfama…
Irresistível, como que cumprindo um
doce destino e voando cada vez mais baixo nesse corredor imaginário entre a Ajuda
e o Castelo, o avião faz-se à terra numa descida com ares de uma vénia que se
impõe à indiscutível majestade de Lisboa.
E há sempre um ponto novo e diferente
que descobrimos neste privilégio do voo de uma chegada.
O sol brilha forte, estão vinte e
cinco graus quando abandono o avião e comprovo como já inundou a cidade, esse inesquecível
sabor do ar que só tem a primavera.
Abril, finalmente, definitivamente, o mês de Portugal.
Mas Abril molhado, sete vezes trovejado
ResponderEliminarRUI PEREIRA