Eu amo-te com a infinita convicção de que jamais te deixarei partir
Revejo-me
na foto que está em cima da cómoda da casa da Tia Carlota e do Tio Joaquim. Foi
tirada no dia do casamento deles, 1 de Outubro de 1972, e eu estou de mão dada
com o meu irmão junto aos noivos no altar da Senhora da Conceição, em Vila
Viçosa.
Eu
tinha seis anos, a foto é a preto e branco mas eu recordo-me que os meus calções
de veludo eram da cor do laço de cetim com uma pérola que levava sobre a camisa
branca, e eram num tom bordeaux.
Pela
memória, e muito mais pela vontade, nós insistimos e pomos cor sobre o preto e
o branco de muitos dias, na forma de uma muito marcada esperança com que
enfrentamos o que nos dizem ser as inevitabilidades da vida; e hoje eu acredito
que o Tio Joaquim irá melhorar e tento que ele também acredite pela forma como
lhe sorrio.
Mais
tarde, quando o dia segue pela coerência de um triste tom de cinza, eu viajo no
carro com os meus pais. Vamos de regresso a casa e de encontro a um chá que nos
aqueça, conversando e sobrepondo os planos das férias de verão ao tom da tarde.
Viver
é semear o futuro não assumindo quaisquer pontos finais na “história” que
escrevemos para nós próprios.
E
não tarda quase nada até ao momento em que tu chegas e me ofereces o azul no
olhar aceso que me fala de amor com mais verdade do que todos os poetas do
universo.
Na
parede do fundo da pastelaria onde conversamos, a televisão passa os golos do
Benfica; mas eu troco todos os golos do Glorioso pelo teu olhar.
Lá
fora chove no início de uma noite escura, mas o que importa?
A
minha noite faz-se da cor da minha vontade: eu amo-te com a infinita convicção
de que jamais te deixarei partir.
Tu
és a chegada definitiva ao melhor de mim, mesmo por entre domingos (cinzentos)
que são tecidos à escala da própria vida.
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