A lição de uma velha árvore já morta
Gosto destes dias em que a visão do sol nos alimenta uma secreta ilusão, mascarando o típico frio de um Outono que a copa amarelecida ou avermelhada das árvores denuncia a qualquer instante. No campo dispensamos o calendário, e pelos aromas, pelas cores e por estas sensações, conseguimos sempre saber qual a estação do ano em que nos encontramos. Na casa de Vila Viçosa, quando olhamos o Terreiro do Paço pela janela da cozinha ou pela varanda, uma velha árvore implantada no quintal da Vizinha Clotilde, sempre nos ajudou nesta tarefa de aferição do tempo, porque no Inverno tinha os troncos à mostra, na Primavera revestia-se de folhas verdes que cairiam depois já amarelecidas no Outono, e nos dava centenas de alperces doces durante o Verão. No quintal todas as árvores tinham uma história: o pessegueiro rasgou-se ao meio por acção dos helicópteros que trouxeram o Papa em 1982, ano em que a nespereira deu fruto que parecia milagre, e esta árvore, contava a vizinha Clotilde, tinha sido...