Os abutres na vil caçada ao subsídio
Ao
melhor jeito de Lucky Luke, o cowboy que é mais rápido a disparar do que a sua
própria sombra, antes da chegada do recibo de vencimento ou de qualquer ida ao
multibanco com acesso ao meu extracto bancário, fiquei a saber por uma
funcionária do meu banco que na passada sexta-feira me tinha sido pago o
subsídio de Natal que eu optei por não receber em duodécimos, um verdadeiro
luxo num país com elevados índices de desemprego e onde as claras dificuldades
financeiras da maioria da população perspectiva um Natal mais carregado de
dificuldades do que de bacalhau ou bolo-rei.
Actualmente
em Portugal uma das situações mais pornográficas com que somos confrontados (e
a “Casa dos Segredos” quando comparada com isto até parece o “Clube das Virgens
Inocentes”) é o despudorado ataque aos subsídios de Natal e de Férias, em
grande parte pelo Estado que se inspira na Troika e não consegue controlar a
sua própria despesa, mas também pela banca e afins.
Como
se entre Estado e banca existisse assim uma fronteira muito marcada e não
fossem hoje uma e a mesma coisa na vil e explosiva cumplicidade que há muito
casou o poder com o dinheiro?
Mas
voltando ao meu subsidio, depois de morto 49% do seu valor às mãos de IRS,
taxas e sobretaxas, o “meu banco”, o tal do “aguenta, aguenta”, resolveu como
abutre voar por sobre o “resto”, atacar em força e apoderar-se rapidamente
dele.
Mandou
então a dita funcionária convidar-me para fazer aplicações financeiras que me
foram apresentadas na forma de um menu, do qual eu simpaticamente recusei todas
as ofertas até porque o dinheiro em causa já tem destino no contexto da
apertada e correcta gestão de meios da minha economia doméstica.
O
tal planeamento e a gestão correcta de recursos que o Estado não consegue
copiar.
Mas
o abutre não desistiu…
Segunda-feira
recebo uma nova mensagem a convidar-me à compra de acções dos CTT com a
garantia de que tirarei do investimento uma rentabilidade extraordinária.
Recuso
novamente e volto a dar a mesma justificação durante a resposta em que ainda
consigo manter algum tom de simpatia.
Mas
quem é que diz que o abutre desiste facilmente quando voa sobre uma presa?
Terça-feira
é dia da chegada de novo e-mail e desta vez acompanhado de um folheto em que me
é proposta a compra de garrafas de vinho da Quinta do Crasto a uma média de 33
Euros por garrafa. Não se desse o caso de eu querer adquirir uma maior
quantidade de vinho, mandam-me também em anexo todos os mecanismos de acesso ao
crédito a que eu posso recorrer salientando os juros fantásticos.
Continuam
os estímulos ao crédito bancário para coisas tão essenciais à vida como… o
vinho.
Já
não respondi para não ter de ser inconveniente na forma e no conteúdo da
mensagem para a funcionária que faz o que lhe mandam fazer e que também é por
certo uma das vítimas do “aguenta, aguenta”.
E
o silêncio já é por si, e neste caso, uma forma de desprezo.
Está
a passar a Quarta-feira e ainda não recebi novo e-mail, mas temo que da
perseverança dos meus interlocutores ainda possa vir a caminho qualquer
proposta para a compra directamente ao banco, de alheiras, polvo, peru,
aletria, arroz doce, bacalhau, fofos, broas castelares, filhós, sonhos de
abóbora, bolo-rei ou até couves.
Mantenho-me
na expectativa e sobretudo vigilante para defender esta porção de dinheiro que
restou depois do ataque legalizado da pirataria do Estado que me tira cada vez
mais para me dar cada vez menos, com uma nova temporada da saga “Os dias do
desespero” já aprovada para 2014 por via do Orçamento de Estado, essa “novela”
que mata definitivamente o espírito de Robin Hood e coloca o roubo aos pobres
no suporte à loucura dos “ricos” e dos bancos com dimensão de tasca (com todo o
devido respeito que reconheço dever ter para com as tascas).
Hoje
ao chegar a casa deparei-me com um panfleto por debaixo da porta que tem como
destaque: “Será que os mortos podem voltar a viver”? Eu não iria tão longe pois
bastar-me-ia saber se os vivos o poderão um dia voltar a fazer.
Relativamente
ao banco, e se for caso disso lá terei de mandar dizer ao senhor Ulrich que
“aguente os cavalos” e me deixe em paz até porque será só uma questão de tempo:
entre IVA, portagens, imposto sobre combustíveis, taxas moderadoras, etc; todo
o dinheiro acabará por chegar às suas mãos e às dos seus amigos.
Mas
deixe-me pelo menos ter a ilusão de que serei eu a “cozinhar” o meu Natal, já que infelizmente e à partida, muitos há que não o poderão fazer.
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