Não é por existirem nuvens que o sol deixa de nos fazer o dia
Já
há muitos anos e ainda quando a catequese paroquial era ministrada nas
instalações do Convento de Santa Cruz no piso imediatamente acima da Sociedade
Artística, uma reconhecida “artista” da sociedade calipolense, efectivamente mais
rica de escudos do que virtudes, repreendeu-me em plena lição quando no âmbito
daquela sempre cretina discussão sobre “o que queres ser quando fores grande”
eu ousei assumir uma ruptura com o destino e dizer-lhe algo que saía do
território muito limitado entre um pai barbeiro e uma mãe costureira.
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Tu sabes lá quanto custa pagar uma universidade?
E
ali, naquele hiato entre a escola e a brincadeira, momento em que supostamente
eu iria aprender a amar a Deus, aquele “morcego” esquálido e tenebroso quase matava
o meu amor por mim reduzindo-me a auto-estima quase até ao nível das
classificações da filha que frequentava a mesma turma que eu e que não era uma
aluna brilhante apesar de ser boa rapariga.
Poderia
eu agora explicar como foram os indefectíveis de direita que semearam a
esquerda no Alentejo, germinada e crescida por acção do adubo da “legítima
revolta”… mas hoje não me apetece de todo ir por aí.
Esta
história vem à baila depois de ontem me ter acudido à memória ao fim do dia algures
no trajecto entre Lisboa e Coimbra.
Ontem,
dia 6 de Novembro, foi dia do 73º aniversário do meu pai, acontecimento que levou
o meu amigo Álvaro Coelho a sugerir-me que algo escrevesse sobre o meu
progenitor, apesar de já o ter feito antes e em múltiplas ocasiões.
E
pensando caminho fora, ao som do fado para fugir aos relatos de futebol
veiculados pelo rádio, este acontecimento surgiu porque de entre tudo e de
entre toda a vida que devo de facto aos meus pais, há algo que por genética e
educação também muito lhes tenho a agradecer: um sentido positivo para a vida e
a garra de sempre acreditar que o que vem a seguir será melhor.
Ao
contrário das pessoas negativas, aquelas se fixam sempre no lado negro de tudo
e que no limite até conseguem olhar o parto como antes de mais um momento
terrível de dor (ou de um corte no útero em caso de cesariana e anestesia),
sempre me ensinaram que até da morte se pode fazer passagem para algo de
positivo. Basta ter fé e apenas querer e lutar com muita garra.
E
viessem “morcegos tenebrosos” a pairar sobre mim que eu estive sempre vacinado
para lutar contra eles, sobretudo através de um bom sorriso que é a coisa que
mais irrita quem nos quer ver menos bem.
Ontem
o sono derrotou-me à chegada e já não tive tempo nem forças para transcrever pelas
minhas modestas palavras, o enorme que foi esta dádiva e herança dos meus pais.
Faço-o hoje que por coincidência é dia de aniversário da minha colega e amiga
Júlia Lameira que chamo aqui à baila porque de entre todo o muito que nos fez
amigos, esta sina de sempre olhar para o copo “meio cheio” foi algo que muito
nos aproximou.
De
facto, não é por existirem nuvens que o sol deixa sempre de nos fazer o dia.
Entretanto,
de saída sempre vos digo que apesar do “morcego” sempre fui um homem de fé… e
seguirei sendo.
E
porque dos fracos não reza a História, jamais enunciarei o nome da dita criatura
agoirenta.
Mas
porque aos fortes deve sempre a História fazer justiça, deixem-me que partilhe
convosco três nomes: Mimi Lisboeta, Adélia Duarte e Bárbara Elisa.
Também
foram minhas catequistas, grandes amigas e por obra e mérito dos seus exemplos fantásticos
de mulheres na vivência de uma fé enorme, foram sementes da minha própria fé,
aliadas e impulsos sérios nesta vontade de sempre ser grande e ser maior.
Foram sempre, um pouco de sol.
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