Pedro Álvares “Ronaldo” e a (re) descoberta do Brasil
Já
está. O Ronaldo demonstrou ser melhor a tratar as bolas do que os Suecos
produtores de almôndegas e o Paulo Bento provou que monta estratégias de
vitória de uma forma muito mais eficaz do que os senhores do IKEA na hora de
montar psichés de pinho, e por isso… vamos ao Mundial de Futebol que no próximo
ano se realizará no Brasil.
A
nação vibrou com o feito, embora talvez com menos entusiasmo do que é normal
nas vitórias dos clubes, porque isto de eu ganhar e o meu vizinho também, não
tem lá muita graça. Vamos fazer pirraça a quem? E vamos assobiar para onde?
Para a porta da Volvo? Da Atlas Copco? Do próprio IKEA?
Perante
os festejos logo se levantou também um coro de críticas ao jeito de tragédia e
com acusações de alienação.
Com
a crise que vivemos como é possível que alguém possa festejar e gritar golo?
Como se o momento exigisse que nos fechássemos todos numas caves e envoltos em
panos negros a escutar em perfusão sonora os discursos do Jerónimo de Sousa, da
Heloísa Apolónia ou da Catarina Martins.
Por
favor, a forma como o Ronaldo dá pontapés na bola pode ser muito mais inspiradora
na hora de dar pontapés nas ditas dos patrocinadores da nossa crise, mas claro,
se lhe encontrarmos as bolas, pois é coisa que neles raramente se encontra no
sítio.
Como
se o facto de festejarmos a vitória num jogo de futebol nos fizesse esquecer
que há o Passos, o Portas, o Orçamento de Estado e os cortes que nos deixam
mais pobres?
Estão
todos infelizmente tão presentes que uns golos e uns goles de cerveja até servem
para nos aliviar a dor.
Não
deixa também de ser irónico, ver os pretensos defensores do povo a passar-lhe
um atestado de estupidez assumindo que o futebol poderá fazer esquecer tudo o
resto. O povo é inteligente e sabe distinguir os territórios onde se movimenta.
Que o digam alguns políticos após as últimas autárquicas?
Do
outro lado da “barricada” e perante os festejos do Ronaldo, outro coro se
levantou desde logo: é tão vaidoso!
Na
Antena Aberta que há pouco escutei na Antena 1, um ouvinte Português afirmou
desejar o pior para Portugal no Mundial do Brasil e odiar o Ronaldo porque ele
nunca fazia adeus ao povo quando ia com os colegas no autocarro da selecção.
Por
favor, por mim ele até pode ir a jogar às cartas com a Irina no banco de trás.
Num
país de baixa auto-estima, o mínimo de amor-próprio é facilmente e desde logo
confundido com vaidade. O Ronaldo é mesmo bom, tem consciência disso e desfruta
naturalmente desse benefício de ser o melhor do mundo. É normal.
Patético
seria o homem dizer que era bom e depois ser realmente péssimo, por exemplo, a figurinha
que o Sócrates faz semanalmente na RTP.
Mas,
Portugal é o único país do mundo que é auto-suficiente na crítica de má índole.
Ao contrário de outras matérias, nesta não precisamos mesmo de importar nada
porque somos muito mais eficazes a criticar-nos do que qualquer estrangeiro que
possa referir-se a nós.
E
então quando falamos de êxitos…
Homem
bonito ou mulher bonita que tenha êxito foi porque se “deitou” com alguém, se
são feios é porque devem ter bons padrinhos e, em algumas situações, ainda se
arrastam os feios para os territórios da cama colocando aquela terrífica
hipótese de os seus genitais terem encantos que o rosto desconhece.
Porque
Portugal convive bem melhor com a desgraça e com a derrota, tendo sido por aqui
que se inventou aquele conceito do “sair de cabeça erguida” que é uma posição
anatómica que eu não entendo: a cabeça erguida é para não perdermos pitada do
ar de gozo dos nossos adversários?
Se
um dia tiverem tempo vão ao youtube e
procurem o festival da Eurovisão de 1974 em Brighton, Reino Unido, e vejam as
actuações de Portugal e da Suécia. Um senhor chamado Paulo de Carvalho, sozinho
em palco, arrasa toda a delegação Sueca na sua actuação. No final, ele sai do
concurso em último lugar e os Suecos saem como vencedores no momento que
revelou ao mundo um grupo chamado Abba.
Ontem
foi ao contrário e mudou-se o paradigma da desgraça e da bendita “cabeça
erguida” e até fomos nós que “esmagámos” a Pepsi.
Para
o ano, lá para o mês de Junho, entre o fim ou não da Troika e os programas
cautelares da União Europeia e dos leilões da dívida, se pudermos aliviar a
pressão nuns pulos patrocinados pelos golos do Ronaldo seremos por certo bem
mais felizes.
E
viva PORTUGAL.
Comentários
Enviar um comentário