As “casas secretas” do “país das maravilhas”
Depois
de ter partilhado hotel no fim-de-semana com uma actriz que não é cantora mas
que enche os maiores pavilhões do país para a ouvir cantar ao jeito de um
personagem de ficção de uma telenovela da TVI, e ainda no contexto dos
fascículos distribuídos diariamente pelo Correio da Manhã sobre a “bárbara”
versão Portuguesa e Século XXI de “A Bela e o Monstro”; “encarrilho” na ideia
de que em Portugal, ficção e realidade se imiscuem numa larga zona cinzenta
onde uma e outra são impossíveis de separar.
Acho
também, e na sequência disso, que ter uma “Secret Story“ é definitivamente um
“Factor X” para “Quem quer ser milionário”. Se a tiver, não é “Seguro” que
atinja o êxito, que sempre pode surgir também por “Portas” travessas, mas por
certo dará “Passos de Coelho” para tal, num país posto propositadamente a
crescer ao ritmo “alucinante” de uma tartaruga coxa.
E
nesta nacional “Casa dos Segredos” a voz é como sempre a do dono, neste caso, a
dona, que apesar de não saber expressar-se em Português, utiliza um elementar
sistema de tradução simultânea para converter o seu Alemão natal na linguagem
seca e mortífera dos Euros, a qual todos infelizmente entendemos. Por vezes até
bem demais.
E
quando alguém tenta transgredir logo se escuta:
-
Dies ist die stimme.
Que
é mais ou menos como quem diz:
-
Venham de lá mais uns milhões.
Uma
sessão do parlamento tem afinal tudo a ver com uma gala dominical apresentada
pela Teresa Guilherme, embora no caso do hemiciclo, a loura seja menos
espampanante, esteja habitualmente sentada e tenha uma leve pronúncia à moda de
“Bigeu”.
Os
intervenientes, ausentes e presentes, mas todos, figuras distintas do
“programa”, leia-se nação, têm os seus segredos bem (ou mal) guardados. Nesta
camuflagem dos vícios privados pelo “manto diáfano” de um tão ténue e falso
sentido de responsabilidade, o maior artista é sempre o que melhor esconde os
seus próprios segredos (ou os da sua trupe):
-
“Forrei a marquise com o dinheiro que ganhei no BPN”;
-
“A minha mulher é pobrezinha mas o meu genro comprou o Pavilhão Atlântico”;
-
“Em Paris, mantive uma relação incestuosa durante dois anos com o PEC IV”;
-
“Tirei a licenciatura por fax a um domingo”;
-
“Travesti-me de doutor”;
-
“A minha mulher vai à missa e eu vou para a Fundação dormir a sesta e sonhar
com o Miterrand”;
-
“Adoro submarinos e ainda irei jogar à Batalha Naval no Alfeite”;
-
“Quero muito reformar o Estado mas dado que a Troika recomendou o aumento da
idade da dita, a reforma fica para depois”;
-
“Sou ex-toxicodependente no que a aplicações financeiras de empresas públicas diz
respeito”;
-
“Já fui a um casting do La Feria e no
duche canto sempre a Nini dos meus quinze
anos”
As
nomeações para a saída da casa (do poder) são feitas semanalmente pelos
concorrentes com recurso às capas de distintos jornais e, de tempos a tempos, o
público é chamado a votar as expulsões (ou não) através de chamadas que só são
de valor acrescentado para a produção do programa (Orçamento de Estado) pois
para o votante têm um sistemático valor subtraído às pensões, subsídios de
férias e Natal, ordenados, etc.
O
conteúdo pornográfico é em tudo semelhante ao do programa da TVI embora o
televisivo seja bem mais pudico pois usa e abusa dos edredões. Na nação é mesmo
tudo às claras e sem dó nem piedade.
Por
isso sempre podemos dizer que estamos… lixados. E neste caso sem margem para
quaisquer dúvidas pois não é ficção e é a mais pura realidade.
Precisa-se
pois com urgência de uma nova grelha de programas mas já agora com um pouco
mais de… chamemos-lhe decência.
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