Meninas ao palco
Depois
do Estádio da Luz e dos golos do Benfica ao Sporting de Braga, depois da bifana
com mostarda ingerida à sombra da roulotte
situado por debaixo do viaduto da Segunda Circular, ir ao Casino Lisboa para
ver uma peça sobre o universo feminino na década dos quarenta e representada
por três actrizes, faz com que a “roleta da sorte” nos coloque rodeados por “ondas”
de descendentes da eterna Eva.
E
por todos os lados numa sala completamente cheia…
Na
fila de cima senta-se um grupo de tias, mas das ilegítimas porque são daquelas
que falam alto para toda a gente ouvir, e a conversa é “supé intessante”:
-
Mas você gosta dela?
-
Agora sim mas antes fiquei aterrada, tá a ver? Pedi “pa” ela me escadear o
cabelo e quando a vi cortar tanto… fiquei aterrada. Mas depois ficou bem. Não
vê?
-
Sim…
O
sim foi dito num ar tão cínico que até eu me virei para trás e bisbilhotar o
cabelo da outra.
Na
fila da frente senta-se um grupo mas em dois tempos pois a líder da segunda
metade e que enverga um colete de pêlo que parece ter sido herdado do avô da
Heidi, confessa ter tido alguma dificuldade para estacionar.
Dão
dois beijos e percebe-se que estas não vieram de Cascais pela A5 e devem ter
vindo pela A8 e das faldas de Loures. Aliás, a forma como gesticulam e gritam e
o tom de framboesa do Báton comprovam como o Carnaval de Torres é como o Natal
e é quando uma mulher quiser.
Entretanto
em cima…
-
Não querida, eu não desisti da ideia do segundo furo na orelha mas já agora
segui o seu conselho e faço só depois das férias da neve “po” causa do incómodo
do capacete.
Ao
meu lado senta-se entretanto um casal de homem e mulher em que ela tem um ar
mais másculo do que ele. O primeiro comentário desta quando vê uma frisa de
sapatos no palco à frente da cortina.
-
Olha que estupidez.
Ah
macho…
Em
baixo continua o desfile de Carnaval e percebe-se pelas gargalhadas que a malta
não quer perder a noite de alforria:
-
Ficaram para lá a emborcar. Afoguem-se em vinho…
E
pelos tons do cabelo vê-se que estes foram pintados à pressa com tintas
genéricas.
Em
cima…
-
O pior é ao fim-de-semana por causa das unhas.
-
Ah pois é…
-
Sabe “couto” dia vi lá o Ricardinho a fazer a depilação?
-
Ah sim?
-
Fingiu que não me reconheceu.
Ao
meu lado…
-
Dá-me ideia que isto é estupidez de gajas.
-
Querida, pode ser que não.
-
Se for saímos a meio.
Em
baixo continua a festa das “vaginas unidas jamais serão vencidas”…
-
Eu deixei-lhes lá uma tachada de arroz de marisco… e com gambas descascadas.
-
Depois do teatro ainda vamos às bifanas de Vendas Novas?
-
E até a Mizé vai beber uma imperial.
-
Ah, ah, ah…
As
luzes começam a apagar-se e parece que vai começar o teatro.
Agora
no palco.
E
a “machona” do lado saiu a meio e levou com ela o Nelo… digo, o marido
contrariado.
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