Os dias da gripe
Importante
e forte, eu?
Se
até um vírus tão comum me derrota desta forma…
Suei
toda a noite por mérito dos anti-piréticos e anti-inflamatórios, não me
reconheço no aroma do pijama e o despertar clama pela urgência de um banho.
Água
morna, gel, uma lentidão confrangedora, o esfregar o corpo como se estivesse a
passar a escova e sabão azul e branco todo o Terreiro do Paço, a toalha, o
roupão...
Uma
pausa para respirar fundo e tomar coragem entre cada pequeno gesto.
Doem-me
os músculos da barriga pelo esforço de tanto tossir quando me dobro para calçar
umas botas de lã.
Foram
tricotadas pela minha avó Natividade, que partiu em 1998 mas deixou cá estas
relíquias e este privilégio que eu poupo e que ofereço a mim próprio apenas nestes
dias que não são nada fáceis.
Depois
sento-me no sofá para descansar e ganhar coragem para ir preparar o
pequeno-almoço.
Descansar
de uma noite de sono e o vírus a deixar-me totalmente à mercê daquilo que as
anedotas contam de nós, os Alentejanos.
Passaram
dez minutos e aí estou eu a arrastar-me para a cozinha, mais pela necessidade
de fazer lastro no estômago aos medicamentos do que por vontade de comer.
E
retirar-me o apetite…
Leite,
café, pão com queijo, biscoitos sem açúcar... e valha-me a generosidade das
minhas queridas Mina e Natália que tantas laranjas me deram no fim‑de‑semana.
Depois
mais sofá e e-mails.
O
meu pai ligou e é curioso que acha sempre estranho quando digo estar doente
pois é como se o convívio diário com os medicamentos activasse automaticamente
em nós farmacêuticos, uma importante e decisiva profilaxia contra todos os
males:
-
“Atão mas tu tás doenti”
-
“Nam pai. Tou brincando”.
Ligo
a televisão, passo pelos canais todos e acabo na RTP Memória a ver um programa
em que a Teresa Guilherme e o Manuel Luis Goucha (ainda de bigode) entrevistam
o Eusébio.
Não
resisto a este momento "prefácio de panteão" e muito menos à promoção
de umas esfregonas "inteligentes” algures no intervalo.
Vá
lá alguém saber como pode uma esfregona ser inteligente...
O
meu estado é tal que fico cansado só de ver a esfregona a mexer em ritmo “Melga
& Mike”.
Desligo
a televisão, escrevo, leio mais e-mails,
como mais biscoitos...
E
sempre a respirar fundo no sofá entre cada actividade.
Aproxima-se
o almoço e novo momento de cozinha no bailado frigorífico, microondas e mesa.
Mais
repouso, televisão nem vê-la...
Tento
ler mas dói-me a cabeça...
Tento
escrever e parece que estou a escrever guiões para uma novela Mexicana...
Mais
repouso.
Adormeço.
Não
tarda nada e terei de ir preparar o jantar... antes de ir descansar.
E
depois dormir, suar, banho...
E
quem é que disse que os Alentejanos nunca se cansam do sofá?
Vou trabalhar!
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