CSI, Priscillas e… menos mal que ainda há flores
Atravesso
o parque de estacionamento e no meio de um canteiro abandonado ao destino de terra
seca e árida descubro um pequeníssimo “bouquet”
de amores-perfeitos.
Não
resisto e fotografo-os.
Avanço
até à rotunda que se encontra por ali, onde duas agentes da Polícia Municipal
estão em delírio a passar multas aos donos dos carros que estão mal
estacionados. Pela azáfama consigo percepcionar que foram recrutadas em alguma
equipa que tenha ido representar Portugal nos falecidos “Jogos sem Fronteiras”.
Há
um individuo vítima desta acção que descobre o carro das agentes, um Smart, estacionado no mesmo local das
viaturas multadas, e resolve fazer uma foto.
Uma
agente para outra:
-
Olha o espertinho…
E
uma das agentes para o individuo:
-
Olha, não te esqueças de sorrir para a fotografia.
E
o homem para elas poupa-se nas palavras e acena com a mão direita; dedo médio esticado
e devidamente ladeado pelo anelar e o indicador em pose de reverência à sua
majestade.
Eu
fujo definitivamente deste “CSI – Mercado do Bolhão”.
No
hall enquanto espero pelo elevador
vejo uma mulher alta e algo espampanante. Tem pelo menos uns quinze centímetros
de salto e tem base na cara que dava para pintar as paredes da minha sala.
É
interessante como os travestis surgiram como imitação de mulheres, as Drag Queens levaram a imitação ao
exagero, e agora são as próprias mulheres que assumem a pose e o tudo das suas
imitações, como se o Carnaval de Torres Vedras fosse como o Natal e ocorresse
todos os dias.
Entramos
juntos, nós e mais uma dezena de pessoas, num filme a que se poderia chamar “Priscilla,
a Rainha do Elevador”.
Fecham-se
as portas atrás de nós e a “Priscilla” descobre que vamos parar em todos os
pisos até ao décimo.
Desabafa:
-
Que chatice. Vamos parar em todas as “estações”.
Eu
tenho vontade de lhe perguntar:
-
Olha filha tu sabes quando é que vais ser estrela?
Mas
contenho-me, pois no final teria de lhe dizer que isso só aconteceria se algum
dia lhe caísse um cometa em cima da “mise-en-plis”.
E
a “Priscilla” sai num piso antes de mim deixando-nos o odor de um perfume que
deverá ter sido comprado na “Perfumes & Co” aproveitando as promoções que anunciam
por SMS aí umas dez vezes por semana.
Eu
saio depois, volto a ter rede e vejo que me enviaste uma mensagem de bom dia.
Sorrio
e penso nos amores-perfeitos do parque de estacionamento.
Menos
mal que ainda há flores que “explodem” no deserto…
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