É tão fácil descobrir a primavera por entre tudo o que nos acontece
Na
janela da cozinha está um vaso de cartão de onde brotam viçosos coentros. O
“kit” composto por vaso, sementes e terra foi-me oferecido no Natal pela minha
querida amida Teresa Lopes e a “sementeira” ocorreu durante um pós-jantar de
família lá em casa, com o meu sobrinho João muito entusiasmado pelo facto da
actividade agrícola ter lugar sobre a mesa da sala, ainda que devidamente
protegida.
Já
me estreei a comer uma Alentejaníssima açorda preparada com os ditos coentros.
Sempre
que saio de casa pela manhã trago no bolso um guardanapo de papel com migalhas
de pão do pequeno-almoço. Um melro muito simpático espera por mim no relvado de
acesso ao parque de estacionamento e eu partilho com ele a primeira refeição do
dia.
Já
se aproxima a menos de um metro e eu até o baptizei com o mesmo nome da pessoa
que por via do pensamento toma o pequeno-almoço comigo todas as manhãs.
Chamo-lhe…
Na
estrada entre Leião e Porto Salvo, onde eu passo todos os dias, há um campo que
por esta altura é leito para uma seara de trigo que cresce a olhos vistos e que
eu já vejo bailar ao sol todas as manhãs.
Sinto-a
como uma privada nesga de Alentejo que veio até aqui para me abraçar.
E
é tão bom ver o Alentejo e lá ao fundo o amor a tingir o horizonte.
A
noite passada, como em todas as noites, adormeci ao som das palavras que me
mandaste escritas numa mensagem e que li em voz alta como cantiga do privilégio
de um ninar que eu sei jamais ter fim.
E
adormeci sem me lembrar de absolutamente mais nada; só me recordo que sorria.
A
sorrir…
Da
mesma forma que acordo, rego os vasos, falo com o melro e me entrego ao abraço
da seara de trigo.
Quando
nós amamos e nos sentimos amados, é tão fácil descobrir a primavera por entre
tudo o que nos acontece.
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