O Dia Internacional de Qualquer Coisa
Eu
comprador de flores confesso aqui publicamente que o momento que mais detesto é
aquele em após uma guerra com o/a florista para o/a impedir de colocar papel
celofane ou plissado de cores inenarráveis a envolver as ditas flores, a
criatura me pergunta qual o autocolante que deve anexar ao ramo.
“Rápidas
melhoras”, “Felicidades”, “Parabéns”, “Amo-te muito”, “Eterna saudade”, “Sentidos
Pêsames”…
Tudo
existe na forma de corações e outras, e impressas em papéis onde predominam os
tons dourado ou prateado.
-
Não quero nada.
É
que para além de não ter que dar conhecimento a estranhos do objectivo de uma
compra de natureza tantas vezes íntima, as flores já falam por si em todos os
enquadramentos em que as queiramos oferecer.
Por
exemplo, não será preciso um autocolante para que num velório percebam que não
estamos ali com flores para desejar “Rápidas melhoras”.
E
mesmo em situações em que seja necessário acrescentar algumas palavras à
oferta, digo-as eu.
Ora
vem isto a propósito das sucessivas comemorações atribuídas aos dias, todas de
cariz internacional. Esta semana já houve o “Dia Internacional dos Irmãos”, o “Dia
Internacional do Beijo” e o “Dia Internacional do Café”.
Os
dias são como as flores e “falam” por si na expressão da nossa vontade e da
nossa liberdade; dispensam rótulos.
Dou
beijos todos os dias, bebo café todos os dias (é aliás uma das primeiras coisas
que faço pela manhã na companhia insubstituível da minha colega Carla Antunes)
e gosto e lembro-me do meu irmão todos os dias.
Por
este andar eu já não estranharei se surgir o “Dia Internacional da Sogra”, o “Dia
Internacional da Mordidela Sensual na Orelha Esquerda” ou o até, e porque não,
o “Dia Internacional do Arroz de Lampreia”.
Há
que ser razoável e deixar os dias para que cada um os preencha com o que lhes
sai da real gana e com aquilo que o faça feliz.
Se
a febre persistir, estarei tentado a propor a existência de um “Dia
Internacional Livre de Evocação e Comemoração Internacional”.
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