Morremos… mas apenas demos mais um passo
Tudo
parece pequeno perante a fome que persiste e que sentimos nos arranca a vida; e
até o mar é um lago que se pode fazer nosso à mercê de uma pobre balsa.
Morremos…
Mas
apenas demos mais um passo, um pequeníssimo passo num destino inevitável.
Arriscámos
tão pouco perante a morte que sentíamos chegar nesta aridez onde o nada, o é em
absoluto e tão demasiado cruel.
Nós
morremos aqui à superfície deste mar onde as praias ousam beijar oliveiras.
E
a paz?
Sentimo-la
nós enquanto subimos para enfeitar o céu nas noites longas e doces, e nos
cruzamos com a dignidade dos Homens que se afunda com a Jangada da Vergonha que
nos ofereceram como passo, numa triste ilusão de liberdade.
Ontem
à tarde o jornal Espanhol El país publicava
na sua edição online a seguinte
notícia:
“Paquete
de luxo com 700 turistas europeus afunda-se ao largo da ilha de Malta e provoca
a morte de todos os passageiros”.
E
seguindo o link chegávamos à noticia
cujo primeiro parágrafo era:
“Esta
notícia é falsa, mas se fosse verdadeira durante quantos dias e quantas horas falaríamos
sobre esta tragédia?”.
Morreram
900 pessoas num naufrágio no Mediterrâneo, imigrantes ilegais que buscavam o
sonho da Europa.
O
mundo faz o escrutínio entre vidas de primeira e de segunda perante o
verdadeiro naufrágio: o da dignidade do Homem.
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