INFINITO
No dia em que se propôs aprender a contar os números
até ao último e lhe foi explicado que não o iria conseguir, o meu sobrinho João
chorou no seu primeiro contacto com o infinito.
Passarão os dias e ele irá aprendendo, como eu ainda
hoje, que o infinito não é mote para chorar no assumir do impossível, o
infinito, o universo é afinal nosso cúmplice, tingindo-se de azul todas as
manhãs para se alinhar com o céu que trazemos na alma; e apagando-se depois
pela noite para que possamos sonhar e voar na companhia de todas as estrelas.
Sentimos todos os dias o abraço infinito do universo
ao grão de areia que é cada um de nós no contexto da Terra e do tempo, sentimos
o beijo do sol… e deixamo-nos ir pela poesia, essa arte destemida que busca “infinitos”
e cala todos os impossíveis.
Porque se o universo é infinito, qual é a razão pela
qual o nosso querer haveria de ter um fim?
Os Infantes nascerão sempre da glória de um querer bem
maior do que o ruído “impossível” dos Adamastores nas tormentas dos cabos que
teremos de cruzar.
E com a aparente contrariedade se tece uma corda ou se
constrói uma vela para a nau com que navegamos…
Se a lua não estivesse assim tão suficientemente afastada
de mim e com “olhos” para te ver, o que teria eu ao meu alcance para te mandar
na distância, os mil beijos de amor que todas as noites o meu desejo desenha
para ti?
Possivelmente nada.
E se o infinito não existisse, que medida poderíamos
nós atribuir ao amor que chega de encontro ao sonho para nos moldar a vida?
O infinito é pois a inspiração e o universo para onde
voamos, sabendo que poderemos nunca chegar ao último número, à última estrela, ao
último instante… mas cada algarismo ou cada degrau mais à frente deixar-nos-á sempre mais perto de nos
sentirmos grandes.
(“Um mês A GOSTO” / Dia 10 / Tema proposto por Maria e
Manuel Baptista)
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