OPTIMISMO


Quem lamenta a “partida” do sol no final de cada tarde, talvez nunca se tenha predisposto a sentir os beijos que a lua oferece enquanto a noite nos envolve. Os beijos de onde nascem as mais inspiradas palavras de amor, que a alma é como as estrelas, e brilha de noite, à hora em que as guitarras choram de saudade e pedem a voz e a garra dos fadistas.
E dessas noites ficam sementes que apodrecem depois à chuva e ao sol dos dias, tão só para que delas possam brotar as flores e os frutos pelos quais o Homem anseia.
O Homem que se dobra para colher o trigo que lhe dá o pão e o faz caminhar de pé, o mesmo Homem que às vezes cai, e faz dessa queda uma pausa de repouso para retomar os seus dias com redobrada força.
Da intensidade da “queda”, ou chamada, depende a capacidade de um atleta voar para o record do mundo num salto em comprimento ou em altura.
Mas quem se fixar apenas na chamada dirá que um Homem caiu.
As pedras que ruíram de uma casa onde vivíamos são a oportunidade para a construção de um outro lar desenhado por nós e mais de acordo com a nossa vontade; um filho que chora e nos desperta durante a noite, é a oportunidade única para um beijo doce; as claras que ficam sobre a bancada depois de termos confeccionado ovos moles, não são um desperdício, são a base para umas igualmente doces e fabulosas farófias.
As lágrimas intensas com que choramos um amor estarão sempre condenadas ao ridículo quando nos reencontrarmos no abraço de um outro maior e melhor amor.
Optimismo…
A História faz-se mas não se conta no presente, e a semente que hoje está ressequida ou apodrece quase nunca consta na descrição da melhor maçã que alguma vez provámos.
Optimismo…
Sim, conheço-o dos meus genes.
  

(“Um mês A GOSTO” / Dia 19 / Letra O / Tema proposto por João Roque)

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