SE
Se o céu não se vestisse de azul e alguma vez pudesse tardar
a aurora, eu pegaria num lápis da cor da minha vontade, e desenharia com ele um
imenso e luminoso sol que incendiasse a Terra de uma inesquecível madrugada… de
liberdade e do mesmo tom do teu olhar…
Se Lisboa não tivesse jamais acontecido, eu inventaria
para nós uma cidade tecida pelo sonho de navegar, a proa de uma nau na rota de
novos mundos, da fé, de canela e açafrão…
Se nós não tivéssemos um rio, eu daria as mãos ao
barro da montanha para escavar um Tejo de águas calmas, uma fonte directa ao
mar envolta por todas as nossas palavras de amor…
Se os nossos passos fossem órfãos de um caminho, eu
desenharia ruas na esquadria que nos dita o desejo, e teceria sob os nossos
pés, um imenso tapete de pedras brancas e negras alinhadas no contar de uma história
feita de ondas e flores...
Se eu não fosse poeta, tomaria de uma gaivota as asas e
rasgaria o céu num voo ousado e louco, tatuando assim no infinito, todas as
palavras com que te abraço nas tardes convocadas pela sorte.
Viveríamos então juntos numa casa de janelas altas,
travando a aceleração do tempo com a eternidade do nosso amor.
E mesmo se alguma vez fosse necessário partir e eu sentisse
saudades tuas, pegaria nos segundos em que penso em ti, e com eles teceria uma
estrada que abraçasse a Terra; depois seguiria por ela para ir ter contigo e
dar-te um beijo.
(“Um mês A GOSTO” / Dia 6 / Tema proposto por Bruno
Silva)
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