Se ao menos eu andasse com castanhas nos bolsos
O táxi tarda e eu vou entretendo o olhar com as cores
do Outono que brilham à minha frente.
A casa atrás de mim tem algo de Brideshead, e por
momentos eu sou um Charles Ryder / Jeremy Irons revisitando o passado, o dele que
influenciou o meu, e acabo a assobiar a música fantástica do genérico da série
de televisão.
Atraído pela música, há um esquilo que desenha linhas
curvas como ondas sobre o relvado e que se aproxima de mim na esperança de que
eu tenha alguma comida para lhe dar para lá do assobio.
Porque é que eu não ando com castanhas nos bolsos...
Brinco com ele um instante junto a uma árvore que me
assalta o pensamento com um dos meus sonhos: ter uma casa entre os troncos de
uma árvore grande…
Para lá dormir contigo numa noite estrelada, e quiçá
escrever uma história que fale de um esquilo assim rebelde como este; que até
pode achar-me muito simpático, mas assim, sem nada para roer, despede-se e
vai-se embora.
Fico eu e a árvore numa manhã fria que gela as mãos.
Ainda se eu tivesse uma castanha no bolso, assada e
quente como as que vendem no Rossio.
O táxi chega e eu despeço-me da árvore.
O meu taxista tem trinta anos, nasceu na Turquia, tem
símbolos do Islão na viatura, e um aparelho auditivo que lhe denuncia uma
elevada surdez. Percebo que lê os meus lábios no retrovisor para melhor me
entender.
Conversamos todo o caminho e no final e enquanto me
entrega o recibo, surpreende-me:
- Tenho a certeza de que o seu futuro será feliz.
Agradeço e estendo-lhe a mão.
A mão afinal só aparentemente vazia; porque entre a
liberdade de Brideshead, os sonhos de um esquilo e de uma casa na árvore, a
tolerância e o afecto...
As nossas mãos vão ganhando o calor e o poder de milhões
de castanhas.
Ao ritmo da nossa história e a denunciar a ambição de sermos felizes.
Comentários
Enviar um comentário