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TESTAMENTO DE UM ANO COMUM

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  Ainda que o tempo novo seja benefício de um qualquer, bem concretizado impulso edificante do coração, muito mais do que um sortilégio do calendário, assumamos a contagem, e avancemos, então, muito felizes, para o ano da graça de 2024. Imunes à noite, pelo tanto de sol que nos cumpre a vontade, deixemos brilhar, com fé, e sem falsos pudores, a maior beleza do mundo, que é afinal, o imenso sorriso de Deus. Que os nossos dias sejam pão de poesia na verdade de beijos transparentes e sem equívocos, rasgando as sombras para seguirmos o próprio caminho, com aquela tranquilidade que não nos sonega o perfume suave das rosas. Indefectíveis da liberdade, soltemos sem cedências, o verbo e o gesto que nos dizem a alma, e assumindo a paz como causa própria, concretizemos abraços e pontes à escala do microcosmos por onde navegamos, e de onde somos. Ofereçamos à diferença, a inclusão no privilégio de vidas inteiras, sem a sobranceria de quem apenas tolera cores alheias, e, sempre, na coerênc

O MUNDO MAIS BONITO E CONFORTÁVEL NUM TEMPO A CHEIRAR A FLORES

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Quando na tarde quente de 26 de julho chegaram a nossa casa, em Vila Viçosa, vindos do México, a Edith, a Fanny, o Hector, a Mónica, o Roberto, e a Valéria, talvez eu não tivesse ainda apreendido, apesar dos meus 57 anos, que não existem estranhos, para quem vive no mesmo Padre Nosso, e respira o ar da mesma fé. Galgando o tempo todo, e a maior imensidão dos espaços. Não me recordo, por exemplo, das primeiras palavras que trocámos, no carro, entre malas e o sol de quase quarenta graus, porque afinal, pelo coração, já nos conhecíamos de há muito mais de mil anos. Depois, rezámos muito, rimo-nos sem freio, fizemos duetos entre Amália e Chavela, ou Luís Miguel e Mariza. Combinámos Cocadas com Pastéis de Nata, Ginjinha com Margueritas, Migas Alentejanas com Guacamole, e conversámos, conversámos… trazendo ao presente as histórias, as lendas, as famílias, numa enorme planície de encontros, e já despidos daquela percepção que nos vê a nós, Europeus, como frios e demasiado “importantes

QUE 2023 NOS ENCONTRE FELIZES

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Por mais que janeiro pareça indiciar o reinício, não existe tempo, que só por si possa ser, ou fazer-se novo. O tempo é o tempo, inevitável contagem, e novo só poderá ser o Homem que o agarra e assume, predispondo-se a vivê-lo com a sua verdade até ao detalhe de cada milésima do seu ser. Para que serve voltar ao dia um, se sobre ele impera a velhice do coração triste? O sucesso do novo ano será a expressão do nosso compromisso com o melhor de nós mesmos, a paz será o desabrochar dos nossos corações lavados, a fé terá a força do tanto que podemos sonhar, a festa, por entre o fogo do riso à solta, será o encontro da liberdade de todos, no chão comum aonde desabrocham as rosas, e o amor, sem pudores ou convenções, dar-nos-à a chance de sermos inteiros numa casa com beijos, como janelas, abertos ao mais fascinante horizonte. Cesse, pois, tudo quanto a “velha” astrologia canta, porque a estrela somos nós, mulheres e homens, a brilharmos pelo abraço, e pela palavra, sobre os silêncios e as s

Esperando a notícia

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Na minha cidade, o eco dos cravos persiste, com férrea vontade, entre os murmúrios, inundando as manhãs, claras ou não, de um indisfarçável sabor a liberdade. À sua sombra, e ainda que chova ou faça frio, eu espero, insistentemente, pela notícia feliz, dando uso ao banco de madeira, que é benefício de quem legitimamente espera pela paz que semeou. Entre os arbustos, os olhares dormentes, e o passo de quem ainda não aprendeu a trocar a pressa pelos detalhes de festa que qualquer coração confessa, muito cedo, quando ainda é manhã. Oxalá a História não me desiluda, e possa, em verdade, colocar o amor, com versos ou prosa, na primeira página do jornal. O renascer da notícia, no armistício guiado pelo sonho, e na vitória plena e lavada da poesia. Tirar-lhe-ia o meu chapéu, saboreando de Lisboa, o assobio afinado de uma melodia nascida da revolução. (Foto: Lisboa | Campo dos Mártires da Pátria | Manhã de 30 de novembro de 2022)

A minha mãe e as flores do açúcar

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A mulher mais bonita do mundo faz hoje 80 anos, e eu e o Zé Artur gozamos do imenso privilégio de a termos como nossa mãe. Mãe e eterna casa, numa perspetiva plural colhida desse amor maior com o nosso muito querido e saudoso pai. Um amor pleno, sem muros e sem reservas, na mais generosa partilha e mescla do ser e da identidade. Enquanto buscava as primeiras palavras para este texto, aconteceu que num gesto brusco ao fechar o porta luvas do carro, entalei e parti o terço que ali mora. Reparei-o de seguida, julgando deixá-lo intacto, mas apercebi-me mais tarde que lhe faltava uma Ave Maria, caída algures num daqueles “esconderijos” que têm os carros. Foram infrutíferas, as tentativas para encontrar essa pequeníssima esfera de madeira. Na interseção entre o divino e a vida de todos os dias, no louvor, na festa, mas também no suporte ao lado mais intenso da dor e do silêncio, uma Ave Maria discreta, que não se vê, que saiu da forma comum, mas que nos acompanha sempre: é assim, afi

Breves átomos de eternidade

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As memórias são antídotos do deserto E as memórias na genética do amor são rios de água fresca, que, muito generosamente, “ateiam” as raizes das rosas, dissimilando-lhes o perfume, e denunciando-as em sorrisos à superfície do tempo.  Tal qual as memórias com núcleo na fé, e na perspetiva de Deus, dissolvem a distância desde aqui ao Céu, tornando-se átomos, ainda que muito breves, de eternidade. Faz hoje dois anos que a vida me pediu a missão mais difícil: viver sem te ter aqui, ao alcance de um abraço… ou até de uma gargalhada. Reinventar-me, em ser e ânimo, aproveitando para oferecer novas formas às jazidas de saudade que compõem o deserto. Pela sede dos olhos, buscar as embaixadas do céu que se preservam no coração. E de tudo, e sobretudo, das memórias, fazer-me barco, água e rota de boa esperança, ousando dizer-me em versos toscos que anunciam um suave amanhecer. Porque quem ama suplanta a morte, erguendo-se com todos os seus, até aos umbrais das cidades mais ousadas do futuro.  

Cinquenta e seis

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  Envelhecer é deixarmo-nos adormecer pelo tempo, sonegando a esperança e a festa, aos  amanheceres que vêm ao nosso encontro. P uro desperdício. Muito antes , passa-se pelo “pronto-a-vestir das idades maduras”, e compra-se o traje de virtudes, que tem pospontos sisudos, e onde qualquer laivo de riso, se passa, muito cuidadosamente, a ferro, para que  sobressai a m  as faces  hirtas  e engomadas. A alma amarfanhada  pela doce inquietude dos sonhos,  posta perante um espelho a “gritar” méritos e estatuto. As palavras dilaceradas pelo equânime silêncio que não é sim nem não. A poesia encarcerada numa vivenda humana, com marquises de lata, piscina… mas sem o canto de um r io que nos banhe e incentive à viagem. Os baloiços parados, e arrumados com  a fantasia , na renúncia ao combustível bioenergético, e muito saudável, que sempre nos oferecem as asas. Não me procurem no reflexo dos espelhos, mas nas mil ruas que de mim nascem,  a cada  despertar . Leiam-me nas palavras ditas e escritas, c