Mensagens

A mostrar mensagens de 2010

2010

Descascadas e saboreadas todas as laranjas da colheita de 2010, partilho convosco, aquelas que a memória guardou: LARANJA DOCE – O Resgate dos Mineiros Chilenos Para mim, um momento maior. Perante o infortúnio, a humanidade reuniu talento e meios para fazer o que de mais nobre sempre lhe cumprirá fazer: dar ou acrescentar vida. LARANJA AMARGA – Crise Financeira A dívida externa, o desemprego, o caos dos mercados, ou pura e simplesmente, a queda das máscaras de quem sempre nos (des)governou na base da ilusão. E seremos sempre os mesmos a pagar por estes PECados, a provar o amargo. Um protagonista: José Sócrates. Porque o seu a seu dono. LARANJA SUMARENTA – Manuel de Oliveira 102 Anos a jorrar o sumo da criatividade e do talento, com uma lucidez que a todos faz espantar. LARANJA MECÂNICA – José Mourinho Excelência na gestão dos Recursos Humanos, índices de motivação elevadíssimos, rigor técnico e táctico, como segredo para as vitórias em todas as provas em que participou com o Inter de M

D. Catarina

É a mãe do meu melhor amigo e conheço-a desde sempre. Vivia numa casa muito central na Praça da República, em Vila Viçosa, uma casa em que a porta só se fechava à hora de ir deitar. Empurrávamos a porta, chamávamos e entrávamos directamente para a cozinha que era o local onde quase sempre a encontrávamos a fazer as melhores empadas e os melhores bolos secos (as broas alentejanas) que já comi e que, estou certo, nunca mais comerei igualmente boas. Vendia-as para fora e não chegavam para as encomendas, ou então vendia-as no café do marido, o Sr. Julião, que ficava mesmo ao virar da esquina. Esta casa de porta aberta era no entanto, e sobretudo, um entreposto de afectos onde ninguém passava sem resistir à tentação de entrar. Era um dos meus locais preferidos para brincar. Na casa havia um sótão onde sobejava espaço para dar asas à criatividade infantil, terreno ideal para todas as brincadeiras. E a meio da tarde havia o sempre momento especial do lanche. Comíamos os bolos, as torradas fan

É Natal!

Hoje é Natal. Hoje é Natal e eu sei que voltarei sempre aqui para celebrar a vida, na festa da consoada com os que são e fazem a minha vida, os presentes, os ausentes e aqueles que tendo partido, o meu amor tornará eternos na minha memória. Hoje é Natal e jamais deixarei de vir aqui aquecer-me na fogueira desta esperança renovada de um ano que se entrega a outro feito de expectativas e sonhos. Hoje é Natal e preciso deste encontro comigo para que no presépio dos meus dias possa emergir a estrela que por cima das minhas riquezas e misérias, por cima da minha verdade, do nada me faça ver um caminho, o caminho. Hoje é Natal. É vida. É dor feita alegria, tormenta tornada bonança, esperança arrancada ao desespero, é justiça, paz e tudo o que vale a pena. Hoje é Natal e eu acredito que em mim como em Belém, nasceu e nascerá sempre Jesus.

Vinte anos

Imagem
Chegaram hoje ao meu e-mail como presente de Natal e são as fotos de um jantar de curso realizado em Junho deste ano e destinado a celebrar os vinte anos da licenciatura em Ciências Farmacêuticas na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. Por iniciativa de dois colegas que estão actualmente ligados à Faculdade como professores e através da montagem de uma rede de contactos via Internet, conseguimos juntar cerca de 70% dos colegas. E foi emocionante. Eu nunca mais tinha voltado á Faculdade e foi feliz a ideia de marcar este reencontro para o espaço onde nos tínhamos conhecido e onde durante cinco anos partilhámos uma infinidade de emoções. Voltámos aos nossos lugares no velho anfiteatro e ainda conseguimos estabelecer a planta com os locais onde preferencialmente nos sentávamos. E quanto mundo se nos abriu daqueles lugares. Mas foi sobretudo muito bom rever as pessoas, os amigos que não via há vinte anos e que, confesso que em alguns casos, se os encontrasse noutro contexto, di

Geração “nem, nem…”

Um estudo publicado esta semana refere ser já superior a 300 mil, o número de jovens que em Portugal NEM estuda, NEM trabalha, o que levou já à sua designação como “Geração nem, nem”. São números deveras preocupantes e com a agravante de terem aumentado muito num passado mais recente. Vai assim muito composto o pelotão dos jovens que relativamente ao futuro, a única atitude que lhes apraz ter é encolher os ombros. Sabemos que desta inércia até à marginalidade e ao recurso a meios ilícitos de financiamento, é um passo muito curto e, talvez não seja por acaso, olharmos para o lado e vermos como a criminalidade aumenta por todo o país, não poupando já qualquer região. E já não adianta tentar tapar o sol com a peneira, atribuindo as responsabilidades deste aumento da criminalidade aos imigrantes que chegaram ao nosso país, este é um problema mais profundo e com raízes na nossa própria sociedade. E quando tento perceber como é possível que um tão grande número de gente se disponha a este es

Compras, livros e dias felizes.

O Natal, por mais crise que se sinta, é também, inevitavelmente tempo de compras, e para mim, é o momento de cumprir este exercício fantástico que é descobrir aquilo que dentro das minhas posses, consiga expressar a quem gosto, todos os meus melhores e maiores sentimentos. Com efeito surpresa, um cocktail de “pensei em ti”, “gosto muito de ti” e “não te dispenso no novo ano que vai entrar”. O sítio onde mais gosto de fazer estas pesquisas, confesso-vos, é nas livrarias, pelas melhores razões do mundo e mais uma, o vício que me ficou da infância e juventude. Passo a explicar. Quis um dos acasos mais felizes da minha vida que a minha tia avó Maria Teodora, uma das heroínas da minha história, fosse empregada de limpeza na única livraria que existia em Vila Viçosa e me tivesse levado muitas vezes com ela para o trabalho, o que fez com que eu tivesse desenvolvido uma relação de profunda amizade com a proprietária da Livraria Escolar, a D. Joana Ruivo, outra das grandes heroínas da minha his

O dia de Nossa Senhora

Imagem
8 de Dezembro, com independência do ano, é e será sempre o dia maior de Vila Viçosa. Será sempre designado, conhecido e vivido por todos os calipolenses como “O dia de Nossa Senhora”. Foi no Século XIV que o agora São Nuno de Santa Maria, então o guerreiro e patriota exemplar D. Nuno Álvares Pereira, fundou a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no Castelo de Vila Viçosa. Mais tarde, em 1646, um dos meus conterrâneos mais ilustres, D. João IV, coroado rei de Portugal seis anos antes, entregou a coroa que era símbolo da sua realeza, à Senhora da Conceição, fazendo com que mais nenhum monarca português a usasse na cabeça, e nomeando Nossa Senhora rainha e padroeira de Portugal. A história mais uma vez e sempre a ser a raiz deste orgulho de ser Calipolense, tendo o privilégio único de sermos da terra da Padroeira de Portugal. Quiseram as circunstâncias da vida que hoje, ao contrário do que acontece na maioria de todos os anos, eu passasse este dia longe de Vila Viçosa, alimentando-o das

Contra-Informação

Ao fim de mais de uma década de presença nas nossas vidas, a RTP resolveu suspender o programa “Contra-Informação”. Ao longo dos anos sempre me assumi como um entusiasta deste programa, apreciando, para além obviamente da componente caricatural dos bonecos, o facto de quase ao mesmo tempo da notícia, os seus autores conseguirem brincar, ter uma visão humorística de bom gosto, relativamente a todos os acontecimentos, positivos ou negativos, que se iam sucedendo em Portugal ou no mundo. Por isso vou ter saudades e por isso tenho dificuldade em entender esta decisão, numa altura em que necessitamos todos de uma injecção de boa disposição, numa fase em que ansiamos todos pelo exorcizar de tantas desgraças com que diariamente nos deparamos. Bem sei que não devia estranhar pois já sei que estes são tempos de informação a favor, tempos em que os políticos reagem muito mal à informação quando ela é do contra, e nem que seja apenas e só para divertir. E pronto, lá voltaremos nós aquela velha e

União Ibérica?

370 anos e um dia depois do 1º de Dezembro mais famoso da nossa história, a FIFA, o organismo que rege o futebol a nível mundial, votou contra a união ibérica, feita na perspectiva de trazer para a “jangada de pedra”, o campeonato das nações, a prova maior do futebol mundial. Quão conjurados, os senhores da FIFA atiraram pela janela os sonhos dos Vasconcelos do século XXI, que hoje têm nomes como Madaíl ou Sócrates, escolhendo a longínqua Rússia onde hoje proliferam milhões e milionários sempre empenhados em “investir” nesta arte do pontapé na bola. Apesar de não me ser indiferente a perspectiva de uma meia-final de um campeonato do mundo na minha “catedral”, manda o bom senso que me congratule com esta decisão, considerando até ser ultrajante, esta intenção demonstrada pelo estado, de investir milhões numa prova futebolística, quando tantos milhões faltam para equilibrar as nossas contas e quando a milhões de portugueses são pedidos sacrifícios com real impacto na sua qualidade de vid

Juan e Angeles

Conheci-os em 2001, são os pais do meu particular e querido amigo Juan Blas Delgado. Celebrámos o nosso primeiro encontro com uma visita a Mafra, impulsionados pela vontade de ver de perto o Convento de cujo Memorial, Saramago foi autor maior. Dali fomos até Sintra, fazendo o percurso inverso das grandes pedras, verdadeiras heroínas do livro que descreve os amores de Baltasar e Blimunda. Acabámos a tarde aconchegados a um chá em Seteais, falando ali, à sombra da Pena e do Castelo dos Mouros, e avistando ao longe o imenso Atlântico, de sete ais, de sete suspiros, de lendas de moiras encantadas e de amores. Sintra no seu melhor. Como para Byron ou Eça, Sintra também foi para nós nesse fim de tarde de primavera, o mote para falar de amor. Desde então foram incontáveis os momentos que passei com o Juan e a Angeles, sobretudo na sua casa acolhedora na pequena terra mineira de Riotinto, bem no meio da Serra de Huelva. E a recordação mais viva desses encontros, será sempre a imagem de uma fel

Viagem a Portugal.

Imagem
A revista Pública publica hoje uma interessante reportagem sobre a visita a Portugal de um grupo de amigos, todos jornalistas, que se conheceram quando algures no seu percurso profissional se cruzaram em Tóquio como correspondentes de importantes meios ou agências de comunicação: La Stampa, France Press, BBC, CBS News e Associated Press. Todos os anos se juntam para conhecer um país e 2010 foi o ano dedicado a Portugal, tendo escolhido como guias da sua viagem Saramago, Eça, Byron, Tabucchi, Beckford e Soror Mariana Alcoforado. Um luxo, digo eu. Inevitavelmente chegaram a Vila Viçosa, fazendo menção da nossa terra nos seus relatos de viagem, não lhe poupando elogios, nem ao Alentejo em geral. O inglês William Horsley não deixa de referir também o facto de o hábito tão british do chá das cinco, ter sido instituído por uma calipolense ilustre, D. Catarina de Bragança. Às vezes é necessário que venham assim os forasteiros para nos ensinar a estimar e a apreciar ainda mais o que temos e qu

Até que enfim!

O Papa Bento XVI tornou-se o primeiro Papa a “tolerar” o uso do preservativo, nas situações em que esteja em risco a saúde, evitando o contágio de certas doenças sexualmente transmissíveis nomeadamente o VIH-SIDA. Saúdo a decisão mas não posso deixar de lamentar o tempo que demorou até chegarmos aqui.O tempo aqui representou muitas vidas e muito sofrimento.

A vertigem da mudança.

As notícias de hoje são dominadas claramente por dois acontecimentos: a cimeira da NATO que decorre em Lisboa e o consistório convocado pelo Papa Bento XVI reunindo no Vaticano todos os Cardeais da Igreja Católica. Relativamente à NATO, fala-se de uma cimeira histórica, uma cimeira que vai fazer aprovar um novo código de conduta da aliança, adequando-a às realidades dos novos tempos, nomeadamente ao perigo que o terrorismo hoje representa. É a aliança atlântica verdadeiramente a digerir o 11 de Setembro de 2001 e o ataque ao World Trade Center de Nova Iorque. Longe vão os tempos em que a NATO agrupava as forças contrárias ao bloco de leste, ao Pacto de Varsóvia, sendo um dos actores no palco da chamada Guerra Fria. Os “inimigos” de então estão hoje sentados à mesa desta cimeira a discutir a nova realidade do mundo. No caso da Igreja Católica, o Papa convida os Cardeais a reflectir sobre os novos tempos e a fazer um exame e uma reflexão sobre os últimos tempos da Igreja, nomeadamente so

Haverá sempre estrelas no céu.

Para comemorar os 30 anos de carreira do Rui Veloso, a rádio Antena 1, minha habitual companhia nas viagens pela nossa terra, tem salpicado as suas emissões com uma rubrica a que chamou “Rui Veloso integral”, onde algumas figuras públicas falam do artista e da sua obra ao longo destes anos, culminando sempre com a apresentação de uma canção de algum dos muitos álbuns que foram nascendo da inspiração da dupla Rui Veloso / Carlos Tê. Sem que alguma vez me tivesse identificado com um fã incondicional do artista, reviver estas músicas tem sido uma experiência interessante que me tem devolvido a lugares, a tempos e a pessoas que foram fazendo e sendo a minha história ao longo destes 30 anos, exactamente 68% da minha existência. Tem sido pois um reencontro muito agradável com parte da minha “banda sonora”. O já clássico “Chico Fininho” deu o mote para o Rock Português que animava as minhas festas improvisadas nas salas de aula da velha Escola Secundária, quando arredávamos as mesas e as cade

Reencontro

Quis a vida, e em minha opinião, a sorte, que recentemente e de forma inesperada, me cruzasse ao fim de 26 anos de ausência de total contacto, com alguém que em determinado momento da minha juventude tinha vivido comigo uma aventura de vivência e de partilha Católica, verdadeira tatuagem de virtudes no carácter, que jamais, por muito tempo que passe, poderei apagar da minha existência: os Convívios Fraternos. A partida foi dada no mesmo local e ao mesmo tempo, a chegada coincidiu também no espaço e no tempo, mas quase nada há em comum nos trilhos que cada um percorreu para chegar ao reencontro. Para além das diferenças que o espelho todos os dias nos reflecte: mais ruga ou menos ruga, mais cabelo ou menos cabelo; após estes anos, verificamos que falta tempo para contar todas as histórias e tudo o que de marcante aconteceu, e sobram assuntos e vontade de os partilhar. E em tudo o que mais me impressiona neste reencontro é que tudo pode mudar, os contornos podem ser todos imensamente dif

Vila Viçosa – Pintura a Aguarela

Imagem
Tive ontem o privilégio de estar presente na inauguração da exposição colectiva que reúne trabalhos de três artistas, no Cine-Teatro Florbela Espanca em Vila Viçosa: Ana Bastos, Vicente Sardinha e o meu particular amigo José Barreiros. Dou os parabéns aos artistas pela generalidade das obras expostas, onde está bem visível a marca de Vila Viçosa e dos seus inconfundíveis recantos, a que a cada um de nós, Calipolenses, nos une sempre uma história ou um acontecimento.Continuem a dar expressão à vossa arte porque nós agradecemos.

E se...

A recente discussão do Orçamento de Estado para 2011 apanhou-me a ler a biografia de Adelino Amaro da Costa, Ministro da Defesa no governo de Francisco Sá Carneiro e, juntamente com ele, uma das vítimas de Camarate. Ao longo das páginas de leitura fácil, descobrimos um homem brilhante, dotado de uma inteligência invulgar, de uma nobreza de carácter e um sentido de dever e patriotismo assinaláveis. Em suma, um homem que em tudo contrasta com os protagonistas actuais da política, a maioria dos quais nos ofereceu um espectáculo degradante em directo da Assembleia da República, para desprestigio de todos e do país que somos. Inevitavelmente dei por mim a cair naquele exercício “sebastianista” tão recorrente na História de Portugal e que é o “E se…”. E se D. Sebastião não tivesse morrido em Alcázer Quibir, e se D. Teodósio, o príncipe educado pelo Padre António Vieira, não tivesse morrido tão jovem e tivesse podido suceder a D. João IV, e se D. Pedro V não tivesse morrido tão cedo, e se Sá

Farmácias da Europa / Farmácia Monte

Imagem
Ao entrar nas instalações dos Serviços Farmacêuticos do Hospital Garcia de Orta, em Almada, deparei-me com um interessante cartaz denominado “Pharmacies of Europe”, não datado, mas pelas informações que recolhi, com pelo menos 10 anos. São apresentadas várias farmácias, num conjunto de imagens que ilustram a história da farmácia na Europa ao longo dos séculos, assim como a expressão do gosto e das diferentes culturas, evidenciada na diversidade de soluções arquitectónicas. Juntamente com farmácias de por exemplo Basileia ou Munique, há uma farmácia Portuguesa, nada mais nem menos que a Farmácia Monte, de Vila Viçosa. Com o meu orgulho de Calipolense, reforçado com o meu orgulho de farmacêutico, não resisti a tirar uma foto com o telemóvel e a publicar este texto no Pomar. Afinal de entre tantas pérolas que a nossa terra encerra, esta é mais uma de valor inquestionável e inigualável, que a família de proprietários, os descendentes do fundador, têm sabido preservar, o que nos tempos que

13 de Outubro / O milagre do subSOLo

A ninguém ficou indiferente a situação ocorrida numa mina algures no Chile, que resultou num grupo de 33 operários mineiros soterrados a cerca de 700 metros de profundidade. Desde o dia 6 de Agosto que temos acompanhado diariamente os esforços para conseguir chegar aos mineiros, a construção de um longo túnel que os permita resgatar em segurança. E hoje ao longo do dia temos assistido, um a um, à libertação destes presos da má sorte e de um destino que os transportou para uma profissão dura, de alto risco e tantas vezes exercida em péssimas condições de segurança. Quando escrevo este texto acabei de ver a saída do 23º mineiro. À parte a exploração mediática e a já costumeira colagem política, o dia de hoje ficará assinalado nos anais da história como um dia do qual o mundo se deve e pode orgulhar. Reuniram-se esforços, meios técnicos e humanos, inúmeras vontades, quebraram-se fronteiras e ideologias, para cumprir uma missão nobre: salvar vidas. Coisa rara num mundo que geralmente se as

O Zé, o Pedro, o Paulo, o Xico e o Tio Jerónimo

O jornal Sol de ontem, tal como outros meios de comunicação, titula que os partidos e os respectivos lideres, dão por adquirido o chumbo do orçamento de estado para 2011 e preparam-se já para eleições. Foi posta de lado toda e qualquer hipótese de diálogo, de negociação, e assume-se a ruptura que trará por certo o agravamento da nossa já muito débil situação financeira. É a irresponsabilidade a ser levado ao limite. A situação exigia a maturidade de partir do objectivo assumido como compromisso por todos, fazendo cedências de parte a parte. As pessoas, todos os Portugueses exigiam essa maturidade. Mas olhando para os intérpretes desta “novela” de cariz rasca em que se tornou o país, já nada nos surpreende. O terreiro da luta política tem o estilo e o conteúdo das guerrilhas e das eleições para a direcção de uma associação de estudantes de qualquer escola secundária, onde impera a maturidade própria da adolescência. Os actores são maus, sem talento, preocupados sobretudo com a imagem, b

Auto de Fé / Acto de Fé

Na passada terça-feira, num dos inúmeros programas existentes nas nossas televisões, que colocam um jornalista desportivo à conversa com 3 “ilustres” adeptos, cada um representando um dos designados três clubes grandes, o adepto do Futebol Clube do Porto abandonou o estúdio quando confrontado com os comentários do adepto do Benfica sobre as últimas escutas telefónicas envolvendo o presidente do clube do norte. A justificação foi a recusa em participar num “auto de fé”. Estranha atitude. Que incoerência e como é curta a memória. Quem é que ao longo dos últimos anos tem sido o grande “inquisidor” no futebol nacional queimando em autos de fé, tudo e todos os que se atravessam no caminho de um percurso cheio de vitórias que não são por certo fruto apenas do mérito desportivo? Quem é que ao longo dos tempos tem fomentado essa ridícula guerra norte sul, de querer ver Lisboa a arder, num país com unidade cultural, política e social, com diferenças é óbvio, mas com as fronteiras definidas há m

Viva a República!

Comemoramos hoje o 100º aniversário da implantação da república em Portugal. Embora respeitando as opiniões e as posições dos monárquicos, sou no meu intimo convictamente republicano e tenho por isso motivos para hoje celebrar esta data em que o regime republicano veio substituir uma monarquia que há muito se divorciara do país real e que com frenéticas mudanças de governo, demonstrava não ter já projectos ou soluções para o país. Também não foi fácil o percurso da república mas com a monarquia em Portugal, não acredito sinceramente que estes últimos cem anos pudessem ter sido melhores. Apesar de todos os pecados e defeitos do regime, sinto-me confortável por de cinco em cinco anos, ser chamado a manifestar a minha opinião relativamente à primeira figura do estado, e muito dificilmente poderia aceitar que essa liderança fosse entregue por herança a alguém, independentemente da minha vontade e da dos outros cidadãos do meu país. Acredito pois na república e acredito que ela carrega os p

José Sócrates – Nova colecção Outono / Inverno 2010

Na passada semana, veio o Senhor Primeiro-Ministro de Portugal, em disputa de audiências com um jogo do Benfica para a Liga dos Campeões da UEFA, dar uma conferência de imprensa em que apresentou um conjunto de medidas de austeridade, medidas muito fortes e penalizadoras para todos nós, digo eu. Há cerca de um ano atrás, quando se preparava para ganhar as eleições, este mesmo senhor, transmitiu, em coro com a comunicação social que o venera e lhe faz eco, a ideia de que Portugal era o melhor sitio do mundo para se viver, tendo todos eles, o Sr. Sócrates e a comunicação social, ridicularizado a então líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, alcunhando-a de mensageira da desgraça, pelo facto de ela não prometer o paraíso aos eleitores, prometendo apenas rigor e verdade na gestão do país, que caminhava para uma situação financeira muito grave. Em Portugal, falar verdade e ser verdadeiro não dá votos. Continuamos a acreditar e a deixarmo-nos ir atrás do canto do cisne, continuando a assumir a

O estado do Estado Social

Motivados pela proposta de revisão constitucional do Partido Social Democrata, em minha opinião inoportuna porque muito longe das prioridades do país no momento presente, temos assistido às mais variadas intervenções de profissionais da política, na defesa do Estado Social em geral, e do Serviço Nacional de Saúde em particular. Defendem que o estado é que deve garantir os cuidados básicos de saúde à generalidade da população. Estou totalmente de acordo com esta posição, não podendo porém rejeitar a ideia de haver pessoas que pretendam, tendo meios para isso, socorrer-se de sistemas privados que assegurem esses mesmos cuidados. Aliás mais do que concordar, exijo que o estado cuide de forma eficaz da saúde da generalidade dos cidadãos, assentando esta exigência na legitimidade de quem paga os seus impostos, de quem colabora com uma elevada percentagem do seu salário, para a manutenção e melhoria do Estado Social. É pois com perplexidade que mais uma vez assisto à manifestação da mais pur

Festas dos Capuchos / Vila Viçosa

Numa tradição que se repete a cada ano no segundo fim-de-semana de Setembro, estamos a viver as Festas dos Capuchos em Vila Viçosa. O largo fronteiro ao antigo convento dos frades franciscanos, um pouco afastado do centro urbano da vila, transforma-se numa sala de visitas para onde todos convergimos, Calipolenses ou não, para podermos conviver num verdadeiro espírito de família. Eu, tal como muitos dos que amando esta terra, o fazemos à distância, multiplicando este amor pelo peso da infinita saudade, não falto nunca a esta chamada à “reunião de família”. Aqui, sob a protecção da Senhora da Piedade, do Senhor dos Aflitos, de S. Luís e S. Tiago (sim, porque em Vila Viçosa cada largo tem sempre três igrejas), encontramos os amigos que não se esquecem nunca mas que se vêem de ano a ano, e contamos, partilhamos, as incidências e os acontecimentos de mais uma etapa de vida que, de Setembro a Setembro, acabámos de cumprir. Falamos das nossas vidas, e projectamos e partilhamos o futuro. Aqui,

Portugal a arder

A cena repete-se todos os anos. Do programa de férias, faz parte esta preocupação com o país que arde, com as pessoas cuja vida se encontra em risco, com a floresta que desaparece, com os bens pessoais e bens públicos que são devastados, etc. Passam os anos, sucedem-se os governos, as câmaras municipais, e nada, mesmo nada, muda. Recordo-me do ano de 2003. Durante o mês de Agosto, Portugal ardeu de uma forma brutal, era então primeiro-ministro o actual presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso. As consequências dos incêndios foram tremendas. Passaram 7 anos. Os protagonistas de hoje são a oposição da altura mas os argumentos são os mesmos. Em Portugal é sempre assim. Mudam os intérpretes mas a canção é sempre a mesma. E para mal dos nossos pecados, a canção de sempre é um triste fado. Porque não se obriga os proprietários dos terrenos, a começar pelo estado e pelas suas instituições, a limpar as matas e os terrenos à sua responsabilidade? Porque não se penaliza seriamente quem pra

A memória dos heróis

Com o objectivo de acompanhar uma colega no momento do funeral de um seu familiar, desloquei-me hoje ao cemitério do Alto de S. João, em Lisboa. Mais propriamente ao talhão dos combatentes, um espaço próprio onde repousam os restos mortais daqueles que em alturas diferentes da nossa história, combateram pelos ideais da pátria lusitana. Fiquei chocado com o estado de degradação e de total abandono deste espaço, numa dimensão que não tenho dúvidas em classificar como sendo de manifesta falta de respeito. Há ervas daninhas por todo o lado, as placas metálicas enferrujadas, lixo acumulado, terra arrastada pelas chuvas e acumulada em todo o espaço, etc. Não interessa se as guerras que os tornaram heróis foram mais ou menos aceitáveis e compreendidas, o que importa é que no seu tempo, estes homens levaram ao limite o seu amor à pátria Portugal. Não interessa se estas pessoas têm ou não têm família. É ao estado que compete tratar dos seus heróis. O estado que é generoso a oferecer subsídios d

Ilha do Pico

Imagem
No mar, a terra se fez ao alto, P’ra dizer a toda a gente, Por um Pico, rei de basalto: “Está aqui Portugal presente”. Francisco Caeiro Horta / Faial, 13 de Julho de 2010

Para sempre, ROSA!

Todos nós crescemos beneficiando da inspiração de “ídolos” que podem ser oriundos da área do desporto, da música, do cinema, etc. No campo muitas vezes apenas dos sonhos, são as pessoas que nos dão asas. A única pessoa de quem eu posso dizer verdadeiramente que sou fã, é sem dúvida a Rosa Mota. Num tempo em que Portugal apenas competia para estar presente, foi a pessoa que ensinou à minha geração, que é possível estar presente e ser o melhor, vencer. Jamais esquecerei as tardes e as madrugadas em que acompanhei esta mulher franzina e cheia de garra, a deixar adversárias para trás e a galgar quilómetros só para ter o prazer de ver subir no lugar mais alto do pódio, a bandeira de Portugal. Recordo-me de uma maratona em 1987 em Roma, nos campeonatos do mundo, em que a Rosa deu uma volta solitária pela Cidade Eterna e após cortar a meta, cansou-se de esperar pela adversária que chegou para a prata. E aquela madrugada em Seul em que a Rosa fez quilómetros e quilómetros com uma alemã e uma a

A Casa dos Marcos RARÍSSIMOS

Imagem
Por razões de ordem profissional, há já algum tempo que conheci e tenho vindo a interagir com a associação de doentes “Raríssimas”. Nesta associação confluem pessoas que carregam consigo as chamadas “Doenças Raras”, assim designadas por atingirem um número muito reduzido de pessoas em todo o mundo. São muitas e diversas estas doenças. O coração que bombeia vida nesta associação é a Dra. Paula Brito e Costa, mãe de uma criança com uma doença rara, o Marco, que tendo partido há já algum tempo deixou vivo na mãe o seu maior sonho: a construção de uma escola onde ele pudesse viver com os outros meninos raros como ele. No passado dia 1 de Julho tive o privilégio de estar presente na Moita, na cerimónia de lançamento da primeira pedra deste sonho, designado legitimamente “A Casa dos Marcos”, um edifício que dentro de algum tempo albergará o sonho de mais de 100 Marcos raros, num projecto que confirma que quando confluem as vontades de público e privados, o mundo avança mesmo. No rebuliço med

Força PORTUGAL!

Imagem
Que a Cidade do Cabo nos traga de novo a Boa Esperança e a força de vencer todos os “Adamastores”.

Bento de Jesus Caraça

Imagem
Um dos Calipolenses mais ilustres e uma figura de grande relevo no século XX Português.

Cavaco

Ontem, num jantar em Oeiras com a Associação Nacional dos Jovens Empresários, o Presidente da República, reforçou a ideia já transmitida no seu discurso do 10 de Junho, acerca da “situação insustentável” do país e do “excesso de endividamento externo” como a razão primeira para os sérios problemas económicos que o país atravessa. O Partido Socialista já reagiu a estas afirmações salientando a sua inconveniência, sobretudo tendo em conta a falta de coesão institucional que pode fazer perigar ainda mais a nossa imagem perante os mercados. Será que em Portugal ninguém tem hoje a possibilidade de manifestar a sua opinião? De se indignar? Teremos todos de alinhar em silêncio no cortejo de solidariedade aos que se apresentam agora como os salvadores da pátria mas que foram os principais agentes neste processo de desgovernação e descredibilização? Ser patriota, agora e sempre, é defender a pátria, o que neste momento está nos antípodas de defender quem nos governa. Não terá o cidadão Aníbal C

eSCUTas!

Aí está mais uma exibição cheia de glamour dos nossos políticos que na hora de prestar contas apresentam invariavelmente as facturas ao cidadão contribuinte. Até onde chegará a ausência de pudor? De assinalar e aplaudir o recurso às altas tecnologias. Somos por certo o país do mundo com maior sofisticação nos métodos de cobrança. Só nós poderíamos ter inventado a Via Verde, os Chips, etc. Que imaginação, essa das portagens regionais! Definitivamente, vivam as eSCUTas. As que não dão em nada e as que darão alguma coisa para equilibrar as contas.

José Saramago (1922 – 2010)

Lisboa despediu-se hoje do único Homem que levou a literatura em língua Portuguesa à glória do Nobel. Tal como em vida, também na morte, Saramago gerou polémica. Acontece sempre assim quando se transportam connosco convicções fortes e quando se defendem sem rodeios todas as causas em que acreditamos. Para além da discussão em torno da presença ou não do Presidente da República nas cerimónias fúnebres, a polémica maior foi sem dúvida a criada pelas declarações da Santa Sé acerca da personalidade de Saramago. Em minha opinião é um ataque desmesurado e completamente fora de tempo. Na hora da sua partida, prefiro pessoalmente concentra-me na genialidade do escritor que me prendeu à sua escrita e em muitas horas me ajudou a navegar nas ondas dos sonhos, fazendo-me simultaneamente pensar de forma crítica sobre o mundo onde vivemos e sobre a sociedade na qual somos agentes activos. Jamais visitarei Mafra sem me recordar de Blimunda e sem sentir nos meus ombros, o peso daquela pedra gigante qu

O pomar das laranjeiras

Foi sem dúvida o título da canção dos Madredeus no seu brilhante álbum Existir que me levou a olhar assim para o lugar onde nasci e cresci, e que homenageio assim na hora de baptizar este espaço onde quero partilhar convosco o meu e o nosso mundo: Vila Viçosa. Na terra calipolense as vias principais estão bordadas com infinitas laranjeiras, e tudo acontece, a vida acontece, à sombra dessa árvore de fruto. Aprendi a distinguir e a usufruir das diferentes estações do ano ao ritmo definido pelas flores, os frutos e os aromas desta árvore. Foi à sombra das laranjeiras, sobretudo nos dias quentes de verão e primavera que estabeleci os laços com os amigos no decurso de longas conversas e infinitas partilhas de sentimentos e convicções. Foi nos ramos mais irregulares dos seus troncos que imaginei os aviões que fizeram parte de todas as brincadeiras e viajei infinitamente pelos quatro cantos do mundo da minha imaginação. Foi pela regra de não colher uma laranja que reforcei a aprendizagem do v