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A mostrar mensagens de maio, 2012

As coordenadas da incompetência

A Senhora D. Merkel, Angela para os amigos, que por certo serão muito poucos, teve dificuldade em assinalar num mapa, a localização da cidade de Berlim, indicando um ponto no território da Rússia, como sendo, em seu douto entender, o sítio onde está implantada a capital da Alemanha, local onde supostamente, e por ser Chanceler, habita. Má vontade colocar esta gafe da senhora no YouTube. Uma pessoa não pode saber tudo, e quem se dedicou a estudar afincadamente a solução para todos os males da humanidade, e quem se dedica à nobre cruzada para salvar o Euro, não pode ter tido tempo para aprender geografia, mesmo a mais básica e doméstica. E depois, vejam poesia neste gesto: - Onde está Deus? - Está em todo o lado. - Onde está Berlim? - Está onde está Deus. Berlim está em todo o lado e dentro de cada um de nós há um Berlinense. O que pode acontecer é que estejamos do lado errado do muro, mas que Berlim nos acompanha sempre, ai lá isso acompanha. Perguntem aos Gregos se não sentem

Ich bin ein Berliner

O avião atrasou-se à saída de Frankfurt mas ainda consigo chegar e ver Berlim com uma réstia de sol. Por aqui, a primavera parece ter-se rendido ao verão, e o tempo está fantástico. O táxi avança pelos bosques verdes e de repente atira-me com o olhar para a nova cidade: o edifício da Filarmónica de Berlim, Potsdamer Platz… O meu hotel é por aqui e eu não resisto a sair para passear um pouco, afogar o cansaço numa cerveja e aproveitar para comer algo, quiçá uma salsicha. No meu percurso de não mais de duzentos metros para a Potsdamer Platz, cruzo obrigatoriamente a linha que assinala no chão o local onde antes se encontrava o muro que separava a cidade, e faço-o no sentido da República Democrática para a República Federal da Alemanha. Apesar de ter tido antes o privilégio de o ter feito em múltiplas ocasiões, não consigo hoje mais uma vez, camuflar a emoção deste pequeno passo que há pouco mais de vinte anos era perfeitamente impossível. É um passo oferecido pela liberdade, e dou g

Gargalhadas de vida

Sempre esse maldito i-phone colado ao teu ouvido, até parece que já nasceu aí. Gosto quando o desligas e te sentas aqui comigo na esplanada para tomar um café. Falamos da vida, falamos de nós sem nos pormos rótulos e sem camuflagens gozando desse prazer supremo que é poder ser nós mesmos e saborear a liberdade e a verdade. Partilhamos as viagens. Tu não paras e o mundo para ti já é demasiado pequeno, tantas vezes o sobrevoas. Recomendas-me o hotel de Berlim, os restaurantes de Amesterdão. Falamos da Espanha que nos encanta, das Tapas, da Mónica Naranjo, de Almodovar, da Chueca… Falamos dos finais de ano em Time Square. E trabalhamos muito. Com o Esteves, a Cristina, a Alexandra, a Margarida… Adoramos o que fazemos e estamos focados no êxito porque não somos feitos da raça de perder. Combinamos as tácticas, os projectos e metemos mãos à obra sem medo e sem perder tempo. Da nossa energia sabemos que nascerá o sucesso do sul, do Alentejo que é meu por berço e teu por adopção. E é no

O historiador, o amnésico e a culpa solteirona

Em Portugal, o desemprego atinge números elevados e nunca vistos anteriormente. Por não terem emprego nem o vislumbrarem no futuro, só no primeiro trimestre deste ano, mais de cinquenta mil jovens abandonaram o país. Por estas duas notícias me terem acompanhado hoje ao pequeno-almoço, permiti que o debate parlamentar de hoje sobre economia e emprego me entrasse pelo tempo de almoço, tendo-me dedicado a escutar a troca de argumentos entre o actual governo e a bancada da oposição composta por aqueles que há um ano eram governo. O circo da miséria e da falta de vergonha e pudor. O vazio de ideias que nos mata definitivamente o futuro. Em Portugal, os políticos são actores que alternam ciclicamente entre dois papéis: o governo e a oposição. São sempre os mesmos, só mudam os papéis e claro, o sítio onde se sentam no hemiciclo. Ao vestirem a pele de governo, os políticos transformam-se em especialistas de história, invocando-a sem tréguas para explicar um presente que é sistematicamen

Lusitanos

Estar só e calado à mesa de um café em Zurique, depois de ter pedido um capuccino, em Inglês, não colocou quaisquer entraves ou inibições, ao diálogo que um casal de Portugueses mantém na mesa ao lado da minha. Vejo-os pelo canto do olho, discretamente, estarão na casa dos cinquenta, ele ao estilo Mister Restaurador Olex 2012 e ela de cabelo armado e ao jeito muito próprio e eterno da D. Madalena Iglésias, mas num louro tal que aparecido em Fátima daria impressão de novo milagre do sol. Ele e ela, falam de amores, e eu não posso fugir ao incómodo por estar a escutar. Mas o capuccino está quentíssimo. Volto a olhar para eles. Pela conversa tive por momentos a impressão de que se trataria do Tony Carreira e da Ágata, em parceria artística e partilha de letras de canções. Amor, ciúme, traição, o picante do ilícito… O Português é romântico e eu já poupei uma ida ao Pavilhão Atlântico. Pimba. Regresso a Portugal e talvez mais movido pela curiosidade estilo visita ao Ground Zero de N

Totus Tuus

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Faz hoje precisamente 30 anos que o Papa João Paulo II visitou Vila Viçosa. Etapa da sua visita a Portugal, um ano após o atentado na Praça de S. Pedro, em Roma, foi à sombra do “Pomar das Laranjeiras” que o Papa falou aos trabalhadores da terra durante uma Celebração da Palavra. Viviam-se ainda primaveras e verões mornos no período pós - Reforma Agrária. Desde essa manhã de sol de Maio que Vila Viçosa passou a ser a única localidade do continente Português,a sul do Tejo, que foi visitada por um Papa, sendo a “nossa” Igreja dos Agostinhos, o único templo que no mesmo território, mereceu a singularidade da visita da figura máxima da Igreja Católica. Foi um dia que ficou na história de Vila Viçosa e muito particularmente na história de cada um de nós. Tínhamos começado cedo a preparar a visita, e sem dificuldade pois há séculos que nós Calipolenses, nos habituámos a receber visitantes ilustres. Colocámos colchas em todas as janelas, brancas e amarelas, as cores do Vaticano na Aven

A laranja nº 200

Esta é a 200ª laranja produzida neste Pomar e por isso quero torná-la especial. Sumarenta e mais doce que todas as demais, produzo-a directamente para todos vós, os meus queridos amigos, agradecendo por ela e com ela, a vossa amizade, companhia e presença que deu sentido a estes dois anos feitos de partilha, de comentários, escritos ou não, de palavras mais ou menos envergonhadas, dois anos de sentimentos expressos por lágrimas, saudade e risos, dois anos cheios de muitos e bons incentivos e de algumas e legítimas críticas. Será sempre a diversidade a alimentar e a garantir a riqueza da humanidade. Dois anos em que consegui o que mais queria: estar junto de vós, alimentar os meus dias da vossa amizade e reforçar os elos fortes que a vida, de forma privilegiada, nos ofereceu para que nos mantivéssemos unidos. Só pela vossa amizade foi possível manter e reforçar as memórias, não deixar morrer a história, da terra, dos nossos e de todos nós, foi possível pensar e repensar o presente, s

Cuidados paliativos

Confesso-vos que sou por natureza, um optimista, e mesmo quando me sinto cair, acredito sempre que estou a meio de um processo de tendências positivas, num movimento que me oferecerá o balanço para chegar mais alto. Recusando as visões catastróficas e negativas, olho sempre um copo meio de água na perspectiva de meio cheio. Porém, e apelando ao bom senso, tento temperar de realismo esta perspectiva positiva pois um optimista que não o faça, arrisca-se a ultrapassar a linha da insanidade mental, expondo-se à situação do “totó” e do “parvinho contente”. O nosso primeiro-ministro é como eu, um optimista, e tem, pelas suas afirmações mais recentes, uma perspectiva positiva do desemprego, reconhecendo que ele carrega a oportunidade para qualquer cidadão mudar de vida e chegar mais longe. O problema é que se esqueceu de temperar o seu optimismo com o bom senso, e mais do que isso, com o respeito e o sentido de estado. O desemprego atinge em Portugal números nunca antes vistos e arrasta p

Velha Europa

Do Centro de Congressos de Florença, na Fortezza da Basso , até ao meu hotel, a dois passos do Rio Arno, tenho o privilégio de um fim de tarde muito especial, caminhando tranquilamente por uma das cidades da Europa que carrega mais e melhor história. Avanço por ruas estreitas de bairros muito populares e chego à zona entre o Mercado de S. Lorenzo e a Igreja dedicada ao mesmo Santo, e Panteão dos Médici, deixando de ver as portas das residências porque o meu caminho fica então ladeado por infinitas barracas de souvenirs, oportunidade para comprar couros e tecidos. Paro para comprar uma T-shirt e o rapaz, de Calcutá, na Índia, aproveita para fazer um estudo de mercado sobre os novos modelos de camisolas para a época de verão. Entre uma bandeira italiana e uma vespa, lá lhe dou a minha opinião, pago a T-shirt e sigo. Estou a chegar à zona da Catedral, a Duomo , e as barracas já desapareceram, dando lugar a cafés e lojas de marcas de luxo, daquelas em que só nos é permitido desfrutar d

Maria Inácia

Mãe, jamais quero sair daqui, deste abraço doce e perfeito do teu olhar sobre mim, este despojado mirar, meu eterno abrigo, templo do amor maior nascido da abnegação e da força de conseguir amar muito mais do que saber amar-se a si. Mãe, meu infinito superlativo de amar. Mãe, a minha paz é o teu sorriso, o meu alento as tuas palavras, as tuas mãos o meu guia, e os teu beijos, esses tantos que te dou em mil abraços, são o insuflar da vida feliz dos meus sonhos tornados realidade. Mãe, terá sempre o teu nome, o meu grito na noite e nos perigos, será sempre, mãe, que me ocorrerá no medo. Mãe, certeza, segurança, força e esperança deste menino que por ti e para ti, jamais desistirá de o ser. Mãe, por mais que o tempo passe e por mais que o espelho insista em desmascarar-me o sonho, não quererei nunca deixar de estar aqui sentado ao teu lado, em tardes de estio sem uma brisa mas com marca de eternidade, nesta cadeira pequena de tinta, cor e flores garridas de Alentejo, para que entre o

“Campeon”

José Mourinho, treinador do Real Madrid, é campeão de Espanha. Para muitos e para mim é o melhor treinador do mundo. Por ser bom, por ser o melhor, por saber que o é, por ter orgulho em sê-lo e por querer ser sempre ainda melhor, por cá chamam-lhe arrogante, provando esta nossa apetência para conviver melhor com a mediania e a mediocridade do que com a excelência, para além de sermos alérgicos ao sucesso dos demais. Exemplo de liderança e de eficácia e competência na condução de uma equipa com vista ao sucesso, José Mourinho é afinal um exemplo a seguir que caso se multiplicasse em múltiplas áreas, tornaria Portugal bem melhor. Parabéns José Mourinho.

Um doce pingo sobre a revolução

Damaia, 1 de Maio de 2012 / 8.30 Horas Na sua residência na Damaia, Maria da Piedade Faísca acorda ao som do rádio despertador que comprou numa excursão da VEFA a Alcácer do Sal. Sintoniza a Rádio Romântica sempre na esperança de que o “éter” lhe ofereça o som do seu querido Tony Carreira. Hoje é feriado, o que é pouco relevante para uma reformada como ela, mas por ser primeiro de Maio vai cumprir o seu programa habitual deste dia, sempre em conjunto com a sua amiga Maria Inocência Rebimba, e que há muitos anos consta de uma ida ao Cemitério do Alto de S. João à campa dos seus falecidos, antigos companheiros na Guiné e agora sepultados no talhão dos combatentes. Como todos os anos, descerão a Morais Soares até à esquina com a Almirante Reis a fim de se incorporarem na manifestação da CGTP, acompanhando-a até à Fonte Luminosa. Aqui ouvirão os discursos, gritarão palavras de ordem e comerão umas farturas, que costumam ser boas nas barracas dos feirantes que se instalam por ali. Na m