Lusitanos

Estar só e calado à mesa de um café em Zurique, depois de ter pedido um capuccino, em Inglês, não colocou quaisquer entraves ou inibições, ao diálogo que um casal de Portugueses mantém na mesa ao lado da minha.
Vejo-os pelo canto do olho, discretamente, estarão na casa dos cinquenta, ele ao estilo Mister Restaurador Olex 2012 e ela de cabelo armado e ao jeito muito próprio e eterno da D. Madalena Iglésias, mas num louro tal que aparecido em Fátima daria impressão de novo milagre do sol.
Ele e ela, falam de amores, e eu não posso fugir ao incómodo por estar a escutar. Mas o capuccino está quentíssimo.
Volto a olhar para eles.
Pela conversa tive por momentos a impressão de que se trataria do Tony Carreira e da Ágata, em parceria artística e partilha de letras de canções.
Amor, ciúme, traição, o picante do ilícito…
O Português é romântico e eu já poupei uma ida ao Pavilhão Atlântico.
Pimba.
Regresso a Portugal e talvez mais movido pela curiosidade estilo visita ao Ground Zero de Nova Iorque, do que pela necessidade de compras, entro no Pingo Doce que fica próximo de casa.
O ambiente está calmo apesar das filas longas e dos carrinhos muito cheios.
Vou para a fila mais perto da entrada, a única que tem uma funcionária de bata branca, antecipo que a alva farda será pelo facto de estar situada mesmo em frente do armário dos medicamentos.
A fila avança lentamente até ao momento em que um senhor com o carrinho carregado de gelados, descobre que o preço que lhe estão a cobrar é muito superior ao da anunciada promoção que o levou à sua aquisição.
Dá-se uma réplica do “”Terramoto de 1 de Maio de 2012”, são trocados impropérios entre o cliente e a funcionária, que num ápice, de farmacêutica pré-fabricada passou a “peixeira”, de mão na anca, avental preto e socas.
Olho a cena de longe e aprecio este inolvidável momento de Revista à Portuguesa, improvisado e de qualidade.
Parque Mayer? Para quê?
De facto somos assim, e assim gostamos de gastar energias e libertar-nos das amarras da crise. Dentro de nós há sempre uma Ivone Silva ou um Vasco Santana, em estado lactente.
Somos “pimbas”, gostamos do amor fatal e qual Romeu e Julieta?
O fado é nosso.
Mas também, lusitanos, aqui ou pelos quatro cantos do mundo, se não fossemos assim, não teríamos tanta graça e não seriamos tão bons como realmente somos.
Eu, lusitano me confesso.
E até me chamo Quim Barreiros.

Comentários

  1. Sem dúvida que não teríamos tanta piada, aliás em filmes onde é retratado o português, com esses mesmos esteriótipos. Bem mas ao menos somos, e o que interessa é sermos felizes assim.

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