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A mostrar mensagens de maio, 2018

Crescer sem “matar” a Cinderela…

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A Maria (chamemos-lhe assim) era minha companheira na Escola Primária de Vila Viçosa, e acreditava que os reis e as rainhas eram seres tão especiais que nem tinham de urinar ou defecar. Sempre que a contrariávamos, chamando à liça as grandes panelas de cobre existentes na cozinha do Paço, e o óbvio prenúncio da imensa quantidade de comida ingerida pelas reais criaturas, e que seria objeto de um processo digestivo, ela defendia-se dizendo que ao visitar o famoso Paço tinha visto todos os humanos e normais recantos, à exceção de casas de banho. Estávamos no início dos anos setenta, tínhamos seis ou sete anos, e era tão fácil acreditar nas lendas e nas histórias que os avós nos contavam ao serão, e que, despudoradamente nos treinavam na arte de misturar a realidade com a mais inusitada ficção. Nesse tempo desconhecíamos o impossível, e ainda nem sequer desconfiávamos das dores implícitas ao crescimento. Talvez só ali pelos catorze anos, nos tenhamos começado a aperceber de tal.

As viagens e as manhãs com flores…

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Das manhãs como esta, com sol e o oceano ao fundo, colho braçadas de flores que coloco junto ao peito, quando me encosto assim, ao parapeito, bebendo sumo de laranja e comendo um pedaço de pão com queijo. Depois faço-me à estrada com o destino marcado no GPS, e, na lembrança e na voz, uma música qualquer que guardei de outras “viagens”. Hoje rumo a norte, e quilómetro a quilómetro, e rio a rio, vou-me relendo aos poucos em tudo aquilo que o coração vai debitando no pensamento. Paro numa Área de Serviço para tomar um café, e reparo que chegou uma notícia ao meu telefone, confirmando a imprevisibilidade dos dias. Não há viagens nem caminhos iguais, mesmo que os pórticos das portagens possam ser os mesmos. Agora acodem-me ao pensamento as tardes de Vila Viçosa, os meus amigos, as empadas de galinha da D. Cesaltina e o capilé que ajudava a repor forças entre as brincadeiras na travessa do Belhuca ou no passeio largo em frente ao café do Sr. Cândido. Ainda bem que todos os dia

“Cheirando a feno casado com hortelã”…

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Há muito de Ary no instante em que piso a plateia da Altice Arena para assistir à primeira Eurovisão de Portugal: “cheirando a feno casado com hortelã”. É o campo do qual sempre serei pertença, e eu, o menino que jamais deixarei que se apague em mim, “com um ribeiro à cintura”, tal qual a menina de 1971, porque o género pouco importa nestas coisas de sonhar, Faço questão de abrir os braços, não só porque o momento me parece enorme para o agarrar, mas porque preciso de reservar espaço para que caibamos todos. Hoje, diretamente do celeiro do Senhor Domingos, em Vila Viçosa, e trinta e oito anos depois de termos acreditado que o Cid venceria em Haia, aqui estou com todos os amigos, mesmo que de todos, só cá esteja eu. É preciso "amar pelos dois", três, quatro... A partilha dos sonhos cria os amigos eternos. “Corram descalços rente ao cais, abram abraços”, e eu cumpro essa vontade da Madrugada de 1974 cantada em 1975. Quem corre descalço, assim, de medos e de pre

A minha mãe...

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No tempo em que me levavas pela mão até à missa das seis da tarde em São Bartolomeu, aos domingos, depois de termos preparado, juntos, um pudim Mandarim para o jantar, eu chamava por ti, às vezes, a meio da noite, para que viesses ajeitar-me a cama, porque ela estava enxovalhada. - Mãe! Ainda hoje, nos dias e nas noites “amarrotadas”, eu continuo a chamar por ti, e da mesma forma: como quem reza. Porquê? Porque o teu abraço me veste o céu. Continuamos a ir juntos à missa, mas agora sou eu quem te dá o braço, sentindo que, apesar de ter mais vinte e quatro centímetros de altura, jamais te acharei pequena. Pelo contrário, vejo-te gigante, e imagina tu, que, muitas vezes, quando caminhamos assim, penso que todo o melhor de mim são coisas que me deste. O demais, a pobreza onde essa excelência se dilui e às vezes se perde, são coisas que eu inventei. Mãe, também não me lembro, se alguma vez te disse que tu és a minha casa, que és o amor que não se cala mas onde o silênci