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A mostrar mensagens de março, 2014

MANUEL JOÃO

Nenhum dos muitos e felizmente bons amigos que tenho se importará que eu diga que és o melhor de todos esses amigos. Não aplico aqui nenhuma escala especial de avaliação, digo isto apenas porque sinto que somos afinal muito mais irmãos do que propriamente apenas amigos. Um irmão extra oferecido pela vida e escolhido por mim por claro mérito teu. És feito da “massa” das pessoas de excelência, e eu por ti, ponho as mãos no fogo pois sei que jamais me queimarei. Crescemos juntos e a nossa amizade terá sempre a nossa idade, alicerçada nessa partilha que hoje fazemos à mesa do Restauração como antes fazíamos nas salas do teu segundo andar, alinhando os bonecos de um improvisado Jardim Zoológico e uma cidade cheia de carrinhos miniatura da Matchbox com que depois brincávamos. Brincávamos mas já com a ambição de ser homens quando fumávamos cigarros Kentucky às escondidas e atirávamos as “beatas” para o telhado. À hora do lanche, a tua mãe chamava-nos sempre para uma torrada e um Su

A essência eterna das estevas

Brilha intenso o sol da primavera quando cruzo o Douro saindo do Porto, e estrada fora, a manhã de sábado me oferece a tranquilidade de uma viagem no privilégio dos meus pensamentos. Sigo embalado pelo silêncio e pelas cores do campo que a manhã me vai revelando. É pelas bandas de Santarém que encontro o Tejo e não tardo a ver-me entre sobreiros na estrada que cruza a lezíria e me leva até à Branca. O caminho está agora repleto da perseverante nobreza dos sobreiros e um pouco mais à frente, depois de uma curva da estrada, não resisto a parar junto a uma esteva enfeitada de uma infinidade de flores brancas que me sorriem. É cedo e há tanto tempo que não acaricio o resinoso pé de uma esteva. Toco-lhe e arrasto depois os dedos até ao nariz oferecendo-me o aroma das ruas da minha terra quando a esteva secava à porta dos fornos antes de oferecer ao pão, chama e aroma; e assaltam-me as recordações do avô Joaquim a explicar-me a paixão de Cristo nos traços das pétalas, e de como a so

Acção de graças

Num dos dias desta semana chegou-me um pedido inédito e nada fácil: escrever a oração de acção de graças para uma eucaristia. Andei a matutar no assunto, e dei-lhe voltas até me decidir sentar e rezar, com a diferença em relação às demais vezes, de ter o i-pad na mão e ir escrevendo. Mandei o resultado ao meu querido amigo Padre António Júlio e à minha querida amiga teóloga Maria Manuela, para além dos outros amigos envolvidos na “encomenda”. Todos gostaram. Partilho convosco o que escrevi / rezei, espero que gostem e, se for o caso, rezem comigo. ACÇÃO DE GRAÇAS Louvado sejas Senhor das Searas Senhor do Pão Alimento eterno Senhor alento de todos os meus dias Senhor dos meus sorrisos Da minha paz Senhor das minhas mais doces e profundas alegrias Louvado sejas Senhor Rei de toda a Terra Senhor das Águas Saciar da minha sede Senhor de todos os meus passos Alívio das minhas dores Pai das minhas forças Senhor alento na morte de todos os meus cansa

Ele há dias…

Estar na cidade do Porto e tomar o pequeno-almoço na mesma sala do Pinto da Costa no dia a seguir a uma derrota do Benfica no Estádio do Dragão, é uma experiência quase tão agradável quanto escorregar por um corrimão de lâminas e aterrar com o traseiro num alguidar de álcool puro. Foi difícil mas sobrevivi e lá parti com as feridas em processo de acelerada cicatrização até à manhã de trabalho que decorreu sem quaisquer sobressaltos ou recaídas do doloroso processo futebolístico de carácter agudo. O restaurante do almoço tem ao lado uma loja “A Vida Portuguesa” e não resisto a entrar até porque tenho a incumbência de “espreitar” alguns presentes. Confesso que gosto do conceito da loja que vem de encontro às minhas memórias através de produtos e marcas eternas como os lápis de cor da “Viarco”, os chocolates da “Regina”, os sabonetes “Feno de Portugal” ou os limpa metais da “Coração”. Mas a “Vida Portuguesa” já não é definitivamente a mesma, nem com a presença de todas estas marc

Douro

A estrada trepa pela alta montanha, e lá no cimo, no instante em que o olhar se entrega em exclusivo ao horizonte, vislumbro as coroas de granito em infinitas montanhas iguais a esta que me dá guarita e de onde eu espreito. O granito de milénios, cinzelado e feito a voz dos Homens no perpetuar de tantas lendas. Lá em baixo, a serpentear e a pintar de azul todos os recantos do vale, há um rio baptizado com nome de ouro, que das montanhas recebe a devoção do íngreme declive se deixar morrer, fazendo-se escada longa e de mil degraus por onde os deuses e os céus poderão descer para beijar a bênção destas eternas águas. E nos degraus expostos sem reservas ao sol e aos aromas do rio, de certo por mérito e privilégio de Baco, cresce o vinho perfeito por entre arbustos e as amendoeiras que o tardio inverno fez tingir de branco. Aqui e ali, nas curvas do caminho que se fazem mais generosas para o olhar no irresistível contemplar do rio, erguem-se nobres ou simples casas dos Homens, e a

Um fim-de-semana na quinta da Avó Teodora

Com base na minha experiência de tio extremoso, recomenda-me a prudência que jamais deixemos avós e netos num mesmo espaço durante muito tempo, tal o elevadíssimo risco de danos irreversíveis sobre mobiliário, roupas, instalação eléctrica, alimentos, etc. Ou seja, este intercâmbio geracional resulta habitualmente num encontro de rastilho e fósforo, e é capaz de fazer explodir tudo aquilo que com ele coabite na ausência de uma possível e pronta intervenção racional da nossa parte. Foi pois uma irresponsabilidade terem colocado ontem a “avozinha” Teodora Cardoso, septuagenária Presidente do Conselho das Finanças Públicas e que já deve alguns anos à reforma, em amena “cavaqueira” com o Grupo Parlamentar do PSD, os “netinhos” que adoram brincar aos referendos e que colam cartazes nas paredes como quem cola cromos na caderneta. Ao melhor estilo “apartamento da Sónia Brazão”, a senhora recomendou que não se taxe mais o ordenado mas que seja aplicada uma taxa sobre cada levantamento que

NATÁLIA JOÃO

Os anjos nunca têm asas e nem sequer precisam saber caminhar para nos guardarem envoltos no conforto dos maiores afectos e nos ajudarem a cruzar os dias de uma forma feliz. Os anjos ensinam-nos a linguagem perfeita do amor. Os anjos são mestres, lutadores, destemidos heróis e guerreiros da fé que buscam todos os horizontes e que jamais aceitam os maus destinos como inevitáveis. Os anjos alimentam-nos da força que transporta os sonhos desde a utopia até à expressão de uma vontade possível. Os anjos desconhecem a cor da distância e perpetuam-se junto a nós pela força com que nos querem. Os anjos são poetas que sabem ler a nobreza que existe escondida nos detalhes mais pequenos e mais simples dos dias. Os anjos sorriem com o olhar, fazem-nos sorrir também a nós e abraçam-nos pelas palavras temperadas de uma inigualável doçura. Os anjos inspiram-nos a ser maiores, coerentes, honestos, generosos, autênticos, bons, verdadeiros… Natália, no dia em que cumpres sessenta anos, e

Uma tarde e tantos abraços

Gosto tanto do inesquecível sabor de cada regresso a casa. Será sempre mágico aquele instante em que o olhar regressa para abraçar as ruas, as pedras, as árvores… todos os detalhes que são cúmplices da minha História. O velho campanário da Senhora da Conceição “impõe” sempre aos lábios uma Ave-Maria, prenúncio dos beijos perfeitos que me estão reservados no primeiro abraço ao meu pai e à minha mãe. E os sorrisos e os olhares da gente, a expressão do afecto de tantos amigos, serão sempre um tesouro reservado para cada um dos meus regressos a Vila Viçosa. A sala que guarda de forma mais nobre todas as marcas da nossa herança, tinha flores sobre uma mesa e duas janelas abertas para a Praça de todas as minhas melhores memórias. No ar, a envolver os vossos sorrisos e os vossos olhares, soltámos as “palavras” a que eu apenas ofereci letras, porque são a poesia de todos nós no reflexo de um mesmo sentir sobre dias simples, únicos e tantas vezes perfeitos na forma de nos tornar feli

PAULO JOSÉ

Os nossos dias eram sempre divertidos e repletos de boas e francas gargalhadas por entre as infinitas brincadeiras, embora algumas vezes sofrêssemos daquele mal de amuos que é típico dos amigos, algo que passava sempre e se resolvia numa questão de uns breves minutos. Estávamos sempre ali entre a travessa do João Paulo, o Celeiro e a Praça; e nas férias grandes, quando tu ias para o Barreiro, sentíamos saudades tuas que tentávamos compensar com a troca de uns postais dos correios iguais àquele evocado na canção dos Rios Grande. Aí e em meia dúzia de breves linhas, tu falavas sempre das idas à praia e eu contava-te como ia a vida por aqui, e fazia-te um ponto de situação relativamente à caderneta de cromos que estivesse na moda e que poderia ser o “Vickie” ou “Homens, raças e costumes”, etc. Tu voltavas sempre uns dias antes de as aulas recomeçarem e a tempo de pores em prática a tua grande invenção: as cábulas em harmónio. Pela quantidade de matéria que tu colocavas em letra min

A poesia e todos os dias

São seis e meia da manhã quando desço pelo elevador e entrego na recepção a chave do quarto, acertando então as contas com o funcionário que, simpático, me convida a tomar um café e a comer algo do que se encontra numa mesa próxima de nós, compensando dessa forma a ausência do pequeno-almoço que só começará a ser servido às sete. Bebo sumo de laranja e como um croissant na companhia de um outro hóspede de quem desconheço tudo e inclusive o nome. Por estarmos os dois ali frente a frente, acabamos por encetar uma conversa daquelas que começam com referências às condições atmosféricas e acabam a falar das viagens que nos esperavam a ambos. E este pequeno-almoço improvisado tem um gosto bem melhor porque as palavras vieram romper o silêncio, e no final houve o breve afecto de um aperto de mão com votos de um bom dia. O meu carro tem um agradável perfume a café que “salta” directamente do copo com tampa que trouxe do hotel, quando saio da garagem e percebo por entre o nevoeiro que mu

Pai

Sob o céu de um intenso azul, as pedras soltas das desenhadas calçadas de Lisboa “impõem” o meu abraço ao teu caminhar. Lado a lado, damos passos curtos ao ritmo a que respiras; que pela linguagem única do amor, há muito os nossos corações se habituaram a esta cumplicidade que os torna apenas um, mesmo quando dispensamos as palavras e vamos absortos em outros pensamentos… Eu sei, as pedras de Lisboa eram perfeitamente dispensáveis como pretexto para caminharmos assim. Há muito que o fazemos, a pé ou até de lambreta naquele tempo em que me seguravas à tua frente e eu me sentia o dono do mundo “cortando” o quente do estio e bebendo a brisa única carregada de aromas do nosso Alentejo. Já passaram muitos anos e o tempo só mudou aquele pequeníssimo detalhe de quem ampara quem neste “voar” pelos dias, porque entre nós há o eterno destino de um abraço, perpétuo enleio em que os nossos braços copiam a alma, e onde eu serei sempre, por tudo e por minha mais pura vontade, um dos teus dois

As heranças por entre os “passos” trocados

Sobre o altar e numa folha disponibilizada pelo pároco e pela catequista, o meu sobrinho João assina o nome dele e, na linha imediatamente por baixo, assino eu, assegurando dessa forma que ele está preparado para receber o baptismo. Um momento muito simples e informal por entre mais oito pares de crianças / padrinhos, mas que não consigo deixar de sentir como uma passagem de testemunho entre a minha e a sua geração, porque a fé fará sempre parte desse pack das heranças da alma. Na igreja de arquitectura demasiado minimalista e com aquele toque de “provisório” que nós, os “Portugueses suaves”, toleramos como “definitivo”; eu vou jogando cumplicidades com o João através de sorrisos e umas piscadelas de olho. De aí a muito pouco, o padre irá enredar-se e tropeçar nas suas próprias palavras quando tentar explicar às crianças a transfiguração e o rosto de Jesus Cristo. Não é fácil… O sol do meio-dia beija Lisboa de uma forma tão despudorada e sensual que, acabada a missa e já sozi

Nós “Pimba”

No dia em que li no jornal Expresso que o Oliveira e Costa pediu prescrições no caso BPN e vai poupar assim cerca de 9,9 milhões de Euros… Depois de através do mesmo jornal ter tomado conhecimento de que uma deputada do PSD eleita pelo círculo do Porto, Maria José Castelo Branco, ter chorado em plena reunião do seu grupo parlamentar porque se via forçada a mudar o seu voto e a chumbar a co-adopção porque caso contrário perderia lugar nas próximas listas eleitorais do partido… Depois de ter lido a afirmação de Pedro Santana Lopes a referir que “José Sócrates foi um Primeiro-Ministro com visão”… Após ter ouvido António José Seguro afirmar que o PS “sabe governar com rigor, disciplina orçamental e pôr as contas públicas em ordem… Confesso que nada me surpreendeu a escolha pela RTP, via Festival da Canção e para representar Portugal na Eurovisão, de uma canção assumidamente pimba da autoria do Emanuel. É que neste país, se não emigraram já, a poesia e a música estão “enterradas”

O “formol” dos afectos e a eternidade dos amigos

De repente e por conta de uma foto partilhada no Facebook, o serão de ontem acabou por me proporcionar uma agradabilíssima conversa com duas eternas amigas, companheiras de tantos dias de brincadeiras e cumplicidades na rua em que eu nasci em Vila Viçosa, exactamente a rua retratada na foto partilhada. E a Rua de Três, como sempre chamaremos à nossa Rua Gomes Jardim, juntou-nos aos três numa animada e ciber tertúlia de amigos. Sem que nos déssemos conta cruzámos as onze da noite a falar sobre o papagaio do Sr. Ezequiel, ave que por estar mesmo em frente à minha janela, cumprimentava a minha mãe com um ruidoso “bom dia” sempre que pela manhã ela abria a dita janela (e por conta dele a minha primeira palavra foi “olá”; a D. Palmira, que tinha nêsperas no quintal e que não era propriamente bem-disposta, um pouco como a vizinha Jerónima que nos molhava com água atirada da janela onde passava os dias, sempre que por brincadeira lhe batíamos à porta; as tardes passadas à porta da Avó Ba

O país perfeito co-adoptado pelo FMI

Portugal é hoje um país socialmente perfeito. Organizado com base em famílias em que coabitam modelos femininos e masculinos, os filhos são educados de forma exemplar num contexto de respeito; nunca há casos de pedofilia; há a prática de um puro equilíbrio económico; não há quaisquer sinais ou evidência de violência doméstica por entre a riquíssima partilha dos mais puros valores; e não há infidelidades por parte dos pais que apenas se relacionam fisicamente em pura e assumida monogamia em actos sexuais que têm em vista a divina reprodução da espécie humana. A prostituição masculina e feminina morreu por culpa desta monogamia e da ausência de clientes, não há casas de alterne, motéis e outras pensões de curta permanência. Nem pensar em haver divórcios, adultérios, traições, abortos, etc. Por vezes até se torna monótona tão acérrima fidelidade aos mandamentos e a total ausência de depressões porque todos somos efectivamente muitíssimo felizes. Os filhos perfeitos destes santo

Os dias tristes sem as flores

O meu amigo António disse-me hoje pela manhã que em Trás-os-Montes e por estes dias de um sol de quase primavera, as flores das amendoeiras já estão de partida. O esplendor branco e rosa que enfeitou as árvores, despede-se agora beijando despudoradamente a terra e oferecendo aos nossos pés um alvo e inédito tapete, o manto que por terras do sul bem se ajusta às lendas e às saudades da neve de uma Princesa Moura. Mesmo racionalmente sabendo que num destes dias chegará o fruto e que esta despedida cumpre o inevitável ciclo da vida, jamais deixaremos de sentir saudades dos dias mágicos das flores. É normal. De forma mais ou menos marcada, todos nós carregamos na alma as virtudes e a sensibilidade de um poeta. E um poeta sempre se condói na hora de dizer adeus às flores, mesmo quando elas são assim brevíssimos detalhes do tempo e carregam em si mesmas, um intenso sabor a lendas e gosto de ilusão. Mesmo sabendo que as flores acabam sempre por voltar. Também por estes dias têm

“Barriga cheia não acredita em fome alheia”

No dia em que recebi pelo correio um sobrescrito com alguns cupões de desconto em cartão para compras nos Hipermercados Continente, o patrão da SONAE, grupo detentor dessa cadeia de lojas, e personalidade com direito a nome na FORBES na lista das pessoas mais ricas do mundo, defendeu a legitimidade para os baixos salários em Portugal, tão-só porque eu e os meus e seus concidadãos, somos afinal “malandros” e não produzimos tanto quanto os Alemães, uma atitude supra-patriótica capaz de fazer muito pela economia nacional e atrair investidores, uma atitude “generosa” a justificar no fundo aquela ideia de que “com amigos assim, para quê ter inimigos”? Mas de repente, e perante esta inevitabilidade da minha pobreza, os cupões fizeram lembrar-me as senhas das Conferências Vicentinas que permitiam receber o pão dos pobres; e o cartão de fidelidade à marca Continente que tenho na carteira passou simplesmente a ser um adereço de acesso à caridade do seu iluminado e endeusado patrão através de

“Estas palavras nascidas dos dias”

Há tardes que nos abraçam pela força do afecto que transparece do olhar dos amigos, são as tardes que valem a pena e que passam directamente para o sector “inesquecível” da memória dos momentos mais especiais. Eu confesso-vos comovido que jamais poderei esquecer a tarde de ontem, dia 9 de Março de 2014, e o calor desse vosso tão grande abraço. Há trinta anos, quando cheguei a Lisboa e descia o Chiado a sentir ao redor de mim os passos do Carlos da Maia e do João da Ega na descrição única de Eça em “Os Maias”, ou quando entrava na Bertrand para matar a saudade e o vício do aroma do “pó dos livros”; estava muito longe de sonhar que algures numa tarde de Março de um ano qualquer, eu iria estar por ali envolto na atenção e no carinho de centenas de amigos, todos ao redor das palavras simples que os dias me vão ditando. “Estas palavras nascidas dos dias” é um despretensioso livro de afectos escrito por inspiração das coisas mais pequenas de todos os meus dias, quando os sonhos oferec

Mulheres de A a Z

AMIGAS – São muito amigas e generosas, e por isso, estou certo que não levarão a mal esta brincadeira. BALANÇA – A evitar. É o objecto mais odiado. CALÇADO – Nunca é demais. DIETA – O destino eternamente adiado. ENXAQUECA – A maior cúmplice. FOFOCA – “Eu odeio… Olha, não digas a ninguém mas parece que…” GORDA – Lê-se FORTE. HIDROGINÁSTICA – A esperança para a tão aguardada reconciliação com o bikini. INTEGRAL – O pão da fé em deixar de pedir o XL na Zara. JÓIAS – Pequeníssimos detalhes capazes de comprar boas vontades. KGs – Aquilo que sobra sempre do peso das outras. LÁGRIMAS – Tão fáceis e um trunfo tão grande. MALAS – Labirintos para telemóveis ou “o insustentável peso do ter”. NUANCES – É inútil tentar distinguir de Madeixas. OPINIÃO – “Cada um tem direito à sua desde que no final a minha prevaleça”. PLÁSTICAS – O segredo para o desenhar de bocas geneticamente impossíveis. QUÍMICA – A sua ausência é a melhor desculpa para não passar à componente FÍS

Senhora D. Liberdade

Quando cheguei a Lisboa em 1984 vindo de Vila Viçosa, a Liberdade tinha dez anos e veio comigo. Com os meus dezoito anos de então, esta espécie de irmã mais nova tornou-se muito próxima de mim, de tal forma que fomos os dois crescendo e fortalecendo simultaneamente a nossa relação de família por via da tolerância, do respeito pelo Homem e pelas diferenças que lhes são inerentes, por via do livre pensamento, pela força e união no derrubar das desigualdades, das injustiças, etc. Passeávamos juntos no Bairro Alto e de vez em quando tomávamos um copo de tolerância em algum dos muitos bares que iam abrindo por ali; íamos juntos ao Quarteto ver os filmes na ausência total de censura política ou de mercado; apanhávamos o mesmo autocarro para ir comprar livros do Saramago, do Cardoso Pires, do Garcia Marquez, do Vargas Llosa… à Barata, à Buchholz e a tantas outras livrarias da cidade; fomos ouvir a mesma música ao coliseu, ao Pavilhão dos Desportos, à Reitoria da Universidade de Lisboa ou