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A mostrar mensagens de março, 2013

Páscoa

Em sexta-feira santa, parou a chuva muito pouco antes de subirmos ao castelo, ao santuário e ao altar da Padroeira, para que ao abrir de um pano negro, espreitássemos o calvário. E pelas ruas, com a calçada ainda húmida da incessante chuva de todo o dia, ladeámos em silêncio, o Penitente, anónima figura sem rosto e alvas vestes que transporta a cruz de onde também pendem panos brancos e onde Cristo já não está; os Profetas José de Arimateia e Nicodemos, cada um transportando uma escada usada na descida de Cristo da cruz; os andores de São João Evangelista e Nossa Senhora das Dores, filho e mãe, maternidade de toda a humanidade saída das dores de ao pé da cruz; a Verónica, que da sua generosidade faz imprimir a sangue no pano branco, o rosto sofrido de Cristo; o Anjo do Senhor que transporta o cálice da paixão; Maria Madalena, de negro e pela tradição coberta de infinitos ouros, carregando a taça que recolhe o sangue de Cristo dado como herança à salvação da humanidade; e Cristo, mo

Uma fábula de Páscoa

No tempo em que os animais falavam, ao vivo ou em directo na televisão, existia à beira mar, uma fértil quinta de verdes prados e fantásticos pomares de onde saiam os melhores e mais suculentos frutos. A vida seguia o seu rumo normal com os diferentes animais a partilharem o imenso espaço e a viverem numa paz muito agradável. Mas, num belo dia de verão, algures quando a quinta estava como nunca em festa e recebia em estábulos novos e caros, os animais das quintas vizinhas para uma competição, o Cherne Zé Manel, encarregue da liderança, ambicioso, resolveu partir deixando a dita entregue às cigarras mais faladoras e prometedoras… pela conversa. A Cigarra Pedro avançou primeiro, mas sendo como é um animal em movimento e que só gosta de andar e ser visto “por aí”, cedo abriu vaga para a Cigarra Zé, uma artista que fez com que a quinta virasse uma festa permanente… As crias já não precisavam de ir à escola e podiam acompanhar os seus pais nas longas filas dos Centros Comerciais,

Os cinco e o São João Evangelista

No tempo em que os andores só andavam aos ombros dos homens, e estes, mais do que em procissões, andavam maioritariamente entretidos pelo Alentejo em múltiplas actividades revolucionárias de natureza laica, cedo nos recrutou o saudoso Sr. Domingos para que nos eventos da Semana Santa, nos encarregássemos, eu e os meus quatro amigos, de transportar o andor de São João Evangelista. Bastou termos dado aquele avanço na altura que as mães designam por “pulinho” e aí fomos nós, de voz grossa e buço a rebentar por entre o acne, de amêndoas de açúcar nos bolsos, a carregar o andor nas procissões de Terça-feira Santa, devidamente coberto por um pano negro no breve trajecto entre a Igreja de São Bartolomeu e a Igreja de Nossa Senhora, e de Sexta-feira Santa, então descoberto e enfeitado por fúnebres palmitos, na procissão do enterro do Senhor. Eu, o João Paulo, o Manuel, o Paulo Geadas e o Paulo Quinteiro, inseparáveis, acrescentávamos assim uma actividade nocturna aos dias das férias da P

Um lapso de tempo

Sentado no grande auditório do Centro Cultural de Belém na noite da passada sexta-feira, pela inspiração de Ludovico Einaudi e pela sua interpretação ao piano juntamente com os dez músicos do seu Ensemble, para longe e perto, irrequieto, se me voou o pensamento. A música é dos maiores e mais eficazes indutores de sonhos, um fiel fornecedor de asas… E a música que nos é dada assim sem palavras, sem a imposição das palavras de outros, mas a música impregnada da mais perfeita harmonia dos sons, eleva-nos à condição de poetas, convocando-nos a alma a dar letra e cor à maior verdade do fluir do pensamento... e aos sonhos que nos acodem. À minha frente, um homem passou todo o concerto debruçado sobre um bloco de folhas brancas, e pela arte dos seus traços, por certo tentou registar o seu muito particular roteiro onírico e todos os trajectos por onde o pensamento o levou à boleia da música. Tivesse eu memória e palavras, e muito vos escreveria. Einaudi chamou ao seu último álbum “

A avó Dade

Em tempo de inverno, os serões em sua casa tinham sempre o atractivo da braseira acesa e colocada num estrado de madeira, à volta do qual nos sentávamos em cadeiras baixas, também de madeira, com assento de buínho e invariavelmente pintadas de vermelho. Contavam-se histórias desse tempo, ou de “entigamente”, como insistia dizer o avô Chico, e descansava-se dos dias intensos de trabalho que começavam quase sempre pelas 5 da manhã. E para a avó Dade, o descanso do dia passado na apanha da azeitona, nas vindimas, nas matanças do porco ou em outras múltiplas actividades, era feito ali à volta do lume mas sempre agarrada a duas agulhas de tricot com as quais tecia botas de dormir para toda a família e amigos. E era eu que quase sempre a ajudava a preparar o novelo para a sua tarefa… O jantar tinha sempre o privilégio da melhor açorda ou de uma fantástica sopa de tomate carregada de pimento verde, para além de outros acepipes únicos, de entre os quais tenho de destacar os melhores pa

O regresso do Cancro em tempo de Enfarte do Miocárdio

Fiquei ontem a saber que a Rádio Televisão Portuguesa, estação prestadora do serviço público que é paga com o dinheiro dos meus impostos e dos meus concidadãos, irá em breve apresentar na sua programação um espaço de análise com o ex-primeiro-ministro José Sócrates. Soubemos desde sempre que Paris seria uma passagem com a duração dos inevitáveis dois anos de “quebra-memória”, e que o regresso à pátria seria o destino final do homem que nos governou durante 6 anos, o homem que criou as condições para termos de pedir um empréstimo externo e que negociou com a Troika o memorando em implementação. Como é que o homem aguentaria um curso de filosofia numa universidade se ele até o Inglês do seu pseudo-curso de engenharia fez por correspondência a um domingo à tarde? Sabíamos nós, e sabia ele também, que a governação com base no memorando nos traria a esta situação de desespero, facto que facilitaria o nosso rápido esquecimento sobre a sua pessoa e a sua actividade à frente do governo,

A Poesia

Entregues na noite soltos vagabundos cúmplices da lua os olhos ousam palavras: amor… verdade sobreposta à mordaça grilhões da razão de lábios mortos inertes. Insaciável a propulsão do olhar impõe a tua pele às mãos navegantes buscando rumo astrolábio? essas linhas perfeitas seguras caminhos do teu rosto. E acudo a tempo à lágrima que nasce… amor? desejo? dor? alma que escorre pela verdade do olhar. E o corpo todo o corpo anseia louco e trémulo esse beijo completo de um abraço teu. Amor… a poesia… o momento. 21 de Março de 2013 Dia Mundial da Poesia

Primavera

O ânimo é outro e bem melhor, sempre que ainda ensonado e com o toque do despertador a ecoar-me no cérebro, abro a janela do quarto ao jeito de autómato em deslocação para a casa de banho, e sou brindado com uns intensos raios de sol. E maior é ainda este impacto, depois de semanas carregadas de manhãs de nevoeiro e chuva, motes perfeitos para um intenso “sebastianismo” que quase parece destino para o nosso luso triste fado. Hoje, como sempre às 7 da manhã, e segundo o rigor dos astrónomos, exactamente 4 horas e 2 minutos antes do inicio da Primavera. O sol, da forma como é visto a partir da Terra, cruza a linha do equador terrestre que é projectada na esfera celeste, possibilitando dessa forma que no hemisfério norte ocorra o Equinócio de Março, aquele que põe um ponto final no inverno. Do latim, aequus (igual) e nox (noite), o Equinócio marca o momento em que o dia é exactamente igual à noite, e sabemos que Primavera fora, a luz irá gradualmente impor-se à escuridão dessa mesm

Pai

O importante será sempre o amor que nos une, esse amor que brilha intenso na expressão dos beijos, abraços, palavras, olhares, silêncios, amuos, nas gargalhadas e em todos os gestos, mesmo os mais pequenos. E o amor tem o sabor do bolo com a forma de pato que me compravas na Pastelaria Azul em cada regresso do cinema, e que eu comia alegre no meu despertar na manhã seguinte. E o amor carrega o sonho e as asas desse papagaio de papel que fizemos juntos com o Zé Artur e que depois fomos os três lançar na encosta do castelo. E o amor tem o conforto da tua mão na minha fronte, peles de uma só pele, nesse meu “regresso ao mundo” no despertar da anestesia na cama do hospital. E o amor tem a confiança da tua mão na minha, o sentir do teu respirar bem junto a mim, quando estando os dois em frente ao pequeno espelho, me ensinaste as regras do bem barbear, nessa primeira vez que peguei numa lâmina para rapar os pêlos da minha face de catorze anos. E o amor carrega as cumplicidades de

Revolução, precisa-se!

É ainda com os Euros que levantei no multibanco em Lisboa, que em Viena consigo pagar a minha fatia de Sachertorte e o chá que elejo para a acompanhar. A união monetária persiste sobre os restos mortais da união económica da velha Europa. Já o sabia mas confirmo-o nas notícias que me chegam de Lisboa em mais uma pornográfica exibição pública de sadismo do Marquês Gaspar no Peep Show de luxo das suas conferências de imprensa. E não há nenhum, de entre os milhares de assessores, que diga à criatura que quando se saca às pessoas mais de metade do ordenado e se secam as reformas dos pobres, não se conseguindo nunca cumprir os objectivos, neste caso de comprovada disfunção na localização dos testículos que é impeditiva de demissão, o mínimo que se exige é humildade e não arrogância? Recebo as chicoteadas dos números e deficits e com nitidez, acodem-me à memória as palavras da minha amiga Evdoxia Marinakou, grega de nascimento e por paixão, que quando um dia partilhei com ela os &

Francisco

Em perfeito contraste com os últimos dias, há hoje um sol intenso a brilhar sobre Lisboa, no momento em que o avião descola da Portela e a progressiva conquista da altitude me revela aos poucos esse privilégio do Tejo pintado de um intenso tom de azul. Vislumbro a lezíria e sei que daqui a pouco, a rota para Munique em escala para Viena, me oferecerá a Beira Baixa, palete de infinitos verdes salpicada de aldeias, monumentos de granito nascidos da mão dos Homens, perfeitas guardiãs dos melhores e mais verdadeiros segredos da nossa história. Não temo andar de avião, mas rezo sempre que descolo de algum aeroporto. Não o faço portanto por medo, faço-o por hábito, e questionando-me sobre o porquê da preservação deste hábito, talvez a visão da terra vista no privilégio da perspectiva de um pássaro que voa, e hoje, do Tejo, da Lezíria e da Beira, seja um convite a que eu, crente em Deus, o louve pela magnifica obra da criação. E invariavelmente rezo como sempre me ensinaram: um Pai No

Cloreto de potássio, lactose e resina

Quando de repente um empregado de um restaurante no centro de Lisboa me pergunta a medo se eu falo Português, fico chocado e não resisto a olhar em volta, cedo constatando que a crise retirou os Portugueses de alguns territórios da cidade, reservados hoje quase exclusivamente a estrangeiros que deles usufruem como se de um parque temático de história e gastronomia, se tratassem. E nós ali, tão giros e tão “tugas”, sob os efeitos dos seus intrigados olhares, sentindo-nos quais lontras (e não vale fazer piadas com o peso e/ou o volume), Eusébio ou Amália, atracções de um lugar de entrada barata, para eles, claro. Uma espécie de “Portugário”. Valha-me o despertar no dia seguinte e o personalizado tratamento da dona da pequena pastelaria junto a minha casa, que me chama pelo nome e a quem já nem preciso de pedir a bica. E hoje, enquanto falamos do sol e por ele nos deixamos levar até aos ansiados dias de Páscoa que iremos passar no campo, eu no Alentejo e ela na Beira Baixa, a tele

“Alentejanês”

Se há quem diga que o Porto é uma nação, não haja dúvidas de que o Alentejo não lhe fica atrás. A cultura e a nossa forma tão própria de ser e estar delimitam as fronteiras de uma terra que sinto minha e que será para sempre a minha casa. Uma terra de gente bem-disposta e que carrega esse privilégio de saber rir de si própria em infinitas anedotas, naquilo que é prova de uma boa e afinada auto-estima. É que, mesmo nas dificuldades, do bom tinto e da boa comida, sabemos “sacar” importantes e fundamentais efeitos anti-depressivos. E entre sobreiros e a imensidão das searas, olhando os horizontes que parecem não ter fim e naquele que é o espaço de todos os afectos, desenvolvemos uma forma única de comunicar. Hoje apeteceu-me partilhá-la convosco. Atentem então na forma como nos exprimimos e vejam se entendem o nosso linguajar. E ao ler, não se esqueçam de oferecer às palavras aquela sonoridade dolente que nós roubamos ao campo nos dias de intenso estio em que não corre sequer o fr

Olisipo

Por mais que a brisa a tente, e por muito que o inverno, a vento e chuva, lhe assinale as noites, Lisboa jamais se renderá ao frio. E o luar é acendalha, mote perfeito. E pelo trinar da guitarra e pelo fado, viela a viela, se incendeia a cidade que mais do que cidade, é berço e lugar património de todas as almas.  Maga maior de entre todas as pátrias do universo, provo-lhe a alquimia num breve instante, numa noite de sábado, olhando o Rossio, de Ginjinha na mão e a tragos adoçando o ser, ali algures entre São Domingos e o Teatro Nacional, à sombra do Palácio da Independência, escutando a voz dorida de um mendigo que troca fado por pão, no caminho que nos leva ao Coliseu. E a alquimia de Lisboa está nessas palavras que dela brotam, letras nascidas poesia pela verdade que “roubam” à alma da gente. A alma, a mesma que o teu olhar deixa transparecer e me fala nessa aparente quietude de um sofá embalado pela música de um canto vindo do Pireu, mediterrânicas confluências e cumplici

Mulheres

Sempre que viajo até à mais profunda das memórias e reencontro aquele exacto momento em que posso começar a contar a minha história, revejo sempre a minha casa, cheia de mulheres. A minha mãe, costureira, desenvolvia a sua actividade no domicílio, e entre as “raparigas” aprendizes que a ajudavam, as clientes que chegavam a todas as horas para fazer as provas diante de um enorme espelho implantado na parede, e as tias e avós que chegavam sempre depois do almoço para ajudar nos alinhavos e nos chuleios, eu cresci, aprendi a falar e a sonhar, embalado por este insuspeito grupo de mulheres com largo espectro etário, pelo mimar sem limites que chegava através do doce das suas histórias, das suas cantigas, dos seus colos e dos seus olhares. Estas tantas e tão fantásticas mulheres foram as minhas mestras na arte dos afectos. Pouco tempo antes de entrar para a Escola Primária, os meus pais inscreveram-me no Jardim Escola (assim chamávamos à Pré-Primária) que funcionava no Lar Juvenil da Sa

Com garra e com fé… à luta e sempre a sorrir

“Sopa Azeda” era a alcunha bem colocada a uma catequista que existiu em tempos na minha terra, mulher de uma corrosiva acidez nas palavras e que por ambição de respeitabilidade, tinha há muito amputado o sorriso. É assim, geralmente, no país do “muito riso, pouco siso”. Ser optimista é sinal de imaturidade e irresponsabilidade, e ser carrancudo e antipático, pessimista militante, é meio caminho percorrido para atingir a tão desejada e dita respeitabilidade. Por dever de prudência, por imposição do pudor na auto-castração no reconhecimento do prazer, a perspectiva do “copo meio vazio” impera geralmente sobre a do “copo meio cheio”, que poderia ser aplicada a qualquer igual quantidade de líquido no dito recipiente. É fado e marca de lusitanidade este receio crónico de que mesmo que estejamos bem e a desfrutar do paraíso, no instante a seguir poderemos morrer… “Nunca diga que está bem!”. Não falo aqui obviamente das pessoas, muitas nos tempos que correm, que não vislumbram qualq

Amigos

O domingo amanheceu cinzento, e é de sombras que se me fazem as margens quando cruzo o Tejo rumo a Almada, e depois, pela A6, me entrego ao Alentejo para um breve regresso a casa. A invernia reserva-me o asfalto só para mim, numa quietude que é desde logo adoptada pelos pensamentos, esses tantos que voam à medida que saboreio a majestade dos sobreiros rasgando o horizonte, nosso conforto e privilégio único de filhos da planície. Dormi muito pouco, muito menos que o habitual, nas noites de Sexta e Sábado. A inauguração da casa do André e da Catarina, e a comemoração dos cinquenta anos do JP, foram pretextos para jantares de amigos, e entre as gargalhadas, as conversas, as confidências e as cumplicidades, se fizeram muito curtas e voaram, todas as horas destes serões especiais. E o presente faz-se e adoça-se desta amizade. Por alturas de Montemor começa a chover de forma intensa, e a estrada é definitivamente só minha enquanto os pensamentos e as memórias me dão o conforto de u

Padre António Simões

Nas ORIGENS, o nosso encontro na Quinta de Santo António, em Évora, no primeiro serão do Convívio Fraterno número 147, no qual participei. A sua aparente timidez frente-a-frente com os sonhos dos meus quase dezasseis anos. As primeiras, poucas, palavras, os mútuos sorrisos, acompanhados do lado dele por um incontrolável rubor, e eu cedo a surpreender-me e a descobrir-lhe a bravura, qual “forcão” raiano nas “lides” do ser maior e melhor, porque bravos, verdadeiros heróis, são os fiéis indiscutíveis aos MANDAMENTOS da alma. Com as palavras como inspiração, o olhar como cúmplice da sua verdade, e o ser e todos os gestos, como testemunhos, aprendi com ele respostas para muitas das minhas inquietações e provei esse doce gosto de trilhar os caminhos para a verdadeira FELICIDADE. PECADO teria não ter tentado seguir o seu exemplo, “operacionalizando” a fé, nessa busca constante de CRISTO LIBERTADOR, o Cristo que é a verdadeira resposta para a vida. Cristo, afinal de contas, o seu e o

Impõe-me o dever que eu também vá…

Um Povo que não se revolta perante as injustiças e os ataques à sua dignidade, é um Povo que se demite de o ser. A identidade de uma nação não está nas suas fronteiras, está no código genético marcado a garra, força, espírito de luta, orgulho e liberdade, de Gente unida não só pela história, mas também pela alma presente de onde brota a vontade e a fé do melhor destino, um inolvidável futuro comum. A defesa da minha dignidade e o meu patriotismo exigem pois que eu hoje saia à rua. Faço-o sem partido, perdi-o algures, não sei onde, neste mar da mediocridade que há muito, há décadas, nos “governa”. Faço-o pelo passado e pelo presente, e sempre, tendo em conta o futuro. Direita ou esquerda? Antes, agora ou depois? Não me interessa, também o faço como manifestação de total intolerância pelas vãs desculpas típicas da imbecilidade e da incompetência. Faço-o por imposição da fé, na manifestação de uma total intolerância perante a injustiça dos poderosos, todos unidos, no aniquilar d

Olhar o céu

Um helicóptero branco rasga os céus de Roma, transportando um Papa que o deixa de ser, por certo, por inspiração divina, mas objectiva e racionalmente, por expressão da sua própria vontade. Estranha a imagem da cúpula de São Pedro em momento de “Sede Vacante” no adeus a um Papa que não morre, apenas voa neste visível e humano “céu” por cima das nossas cabeças. Fala-se de renovação e alimenta-se a esperança. De facto, não é necessário morrer para mudar o curso da história. Basta querer, basta voar, e a esperança acontece… É a tarde do último dia de Fevereiro e quis a sorte que o meu olhar se entregasse ao perfeito céu da cor mágica e infinitamente branca de Lisboa. Subo a rua de São Bento e o céu é meu, mesmo sem o desenhado voo da “Gaivota” cantada por O’Neill. E entre mim e o céu, há rubras sardinheiras nas janelas de Amália e um pouco mais abaixo, numa casa forrada a azulejos azuis, há uma amor-perfeito em tons de amarelo que, em jeito de desafio, me espreita debruçado do