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A mostrar mensagens de agosto, 2011

Um eléctrico chamado Lisboa

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Apesar de hoje percorrer a distância entre Vila Viçosa e Lisboa pela Auto-estrada A6 em pouco menos de 2 horas, jamais me esquecerei das minhas primeiras viagens a Lisboa, feitas de comboio e que duravam cerca de 6 horas. Na parte final destas viagens, tinha o privilégio de entrar em Lisboa pela sua porta maior, o Tejo, fazendo a travessia desde o Barreiro até ao Terreiro do Paço, mais propriamente até à estação de Sul e Sueste. Pelo facto dos meus tios viverem na Ajuda, chegados ao Terreiro do Paço, apanhávamos o eléctrico 18 e aí seguíamos nós passando por S. Paulo, Santos, pelo Calvário, Alcântara e Santo Amaro. Sempre apreciei estas viagens e apesar dos autocarros de dois andares também serem uma tentação para um rapazito Calipolense chegado à cidade, os eléctricos foram sempre o meu meio de locomoção preferido em Lisboa. Os populares “amarelos da Carris”, de bilhete e acesso mais económico, predispuseram-se desde sempre a receber a gente do povo mais genuíno de Lisboa, e, sent

O vulcão que não se apaga

Quando entrei no ano de 2011, fi-lo na companhia de um grupo de amigos no qual se encontrava o meu amigo Rogério. De taça de espumante na mão, a vermos ao longe a imponência iluminada do Mosteiro da Batalha, e quando as aldeias em volta se entretinham numa disputa de cor e estrondo pelo melhor fogo de artificio, brindámos ao novo ano e fizemos votos de prosperidade e dias bons. Nessa noite, como aliás em todas as outras noites e dias em que estivemos juntos, o Rogério, sempre o mais velho do grupo, para além de cozinheiro-mestre, foi o indutor da boa disposição, o mote para nos rirmos e sentirmos felizes. O seu invejável sentido de humor associado a uma inteligência e perspicácia superiores, fizeram com que nem eu, nem ninguém acredito, tenha estado alguma vez com o Rogério sem ter a oportunidade de dar das melhores e das mais sentidas gargalhadas da sua vida. O Rogério nasceu para ser antídoto do silêncio e da tristeza. O olhar do Rogério, o seu ar tranquilo, o seu falar a sério

Bica, pastel de nata, imperial, bom peixe e descontrolo orçamental.

Sempre encarei o regresso de férias com um sentimento misto de lamento pelo fim das ditas e pelo fim dos dias bons de descanso em sítios diferentes dos do meu dia-a-dia, e também de conforto por dar resposta à vontade de voltar que a bendita saudade lusa sempre provoca em nós. Abrir a janela pela manhã e ver o azul do Atlântico, sair de casa e sentir o nosso calor de verão, comer um simples peixe grelhado acompanhado de batatas e legumes temperados com azeite e vinagre, comer uma açorda de coentros acompanhada por uma posta de pescada e um ovo cozido, tomar um café dos nossos, e, quando podia e não era diabético, acompanhar o café com um valente pastel de nata, essa verdadeira maravilha da doçaria cá do burgo, que não tem igual por esse mundo fora, tratar a cerveja por imperial e acompanhá-la de um prato de tremoços, comprar “A Bola” e saber as últimas notícias do Benfica, poder falar ao telefone com os amigos sem estar preocupado com o maldito “roaming” e as suas taxas elevadas, cons

Roma – Messina – Atenas – Éfeso - Creta

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O título deste post foi o roteiro da minha última semana, a bordo do navio “Navigator of the Seas”, um verdadeiro hotel de luxo, flutuante, americano, em conjunto com mais de 4000 mil almas, sendo 3200 passageiros como eu. Mais de 1000 italianos e quase 1000 americanos, pertencendo muitos destes últimos, à parte “burgessa” dos sobrinhos do Tio Sam, aqueles que olham para a Acrópole com o mesmo interesse com que eu vejo na TV o resumo do jogo ente o União da Madeira e o Ponta do Sol, daqueles que com ar inteligente nos perguntam de imediato ao dizermos que somos de Portugal: - Isso é na Europa, não é? Mas vizinhanças à parte e, convenhamos que em ambiente de férias, estas “anedotas” até nos divertem, verdade seja dita que o “Navigator” cumpriu exemplarmente a sua missão de fornecedor de conforto e que melhor teria sido impossível para numa semana poder em segurança visitar locais tão importantes e significativos, com eficácia e sem quaisquer incómodos. Só falharam as comunicações e

Preciosíssimos construtores de fé

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Há precisamente 45 anos, no dia 6 de Agosto de 1966, a ponte 25 de Abril, então Ponte Salazar, era inaugurada, e eu, com apenas um mês e um dia de existência, era baptizado na Igreja de S. Bartolomeu em Vila Viçosa. Por vontade expressa dos meus pais, nesse domingo dizem que muito quente de Agosto, eu nasci para a fé católica e fiz a “ponte” para a comunidade dos crentes. Hoje, dia 6 de Agosto de 2011 estou acompanhado pelos meus pais, em Roma, o lugar maior e centro do catolicismo, e assinalo este dia com alegria e já adulto, renovo e reforço os votos de fé que os meus pais então por mim fizeram. No nosso passeio de hoje, quando íamos da Praça de Espanha em direcção à Fontana de Trevi, mesmo quase a chegar a esse lugar mítico abençoado para sempre pelo romance de Mastroiani e Ekberg, numa pequena igreja, vejo-me com os meus pais ante o túmulo de S. Gaspar del Búfalo, Santo e fundador dos Missionários do Preciosíssimo Sangue, desde há muito os responsáveis pela minha paróquia de se

Veneza - Roma

O comboio deixou lentamente a estação de Santa Lucia, em Veneza, e olhando à direita, a imensidão da água e a infinidade de pequenas ilhas, quase nos dão a ilusão de termos dispensado os carris e estarmos a andar directamente sobre a água. Apanhando-se em terra firme, o comboio acelera fazendo jus à sua condição de Alta Velocidade. Já que a nossa está agonizante intoxicada pela crise financeira, resta-nos aproveitar a dos que estando também em desacerto financeiro, se anteciparam e aceleraram antes os comboios. Paramos em Pádua mas sem tempo para ir visitar o nosso Santo António, que descansa aqui mas será sempre da terra onde nasceu, a nossa Lisboa. Segue-se Bolonha, a cidade que para além da famosa Esparguete à Bolonhesa passou também a ser conhecida pela “encolhe cursos”, e depois, Florença. E aí está o pecado e crime do dia. Passar por Florença e não descer do comboio para pelo menos cumprir o mínimo triangulo Catedral / David / Uffizi é motivo para pena capital. A redenção o

Veneza

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O táxi é um barco que nos traz de uma forma “italianamente” veloz do aeroporto até esta avenida de água, majestosa, que é o Grande Canal. Por entre palácios, gôndolas e turistas, desembarco após ter passado por debaixo da Ponte de Rialto e mergulho no emaranhado de ruas, excessivamente estreitas por estes dias, tanta é a gente que por elas circula. É verão e Veneza alugou o rés-do-chão do seu território a comerciantes e turistas, que quão formigas agarradas a uma migalha de pão, se colam a máscaras de Carnaval, cristais de Murano, Pinóquios de madeira, enfim, algo que possam levar para os seus lares de forma a testemunhar que um dia estiveram aqui na cidade onde todos alguma vez sonhámos poder vir namorar. Para olhar a verdadeira Veneza, a de todos os dias, a dos Venezianos, é necessário olhar para o que fica para lá de cinco metros acima do solo. Observo um gato que do alto da sua janela não se deixa perturbar e nunca perde a pose altiva mesmo quando as “paletes de Americanos”, o