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A mostrar mensagens de fevereiro, 2014

A estirpe e as virtudes

Quase sempre sentado no Estádio da Luz, não tenho a percepção de como Lisboa fica tão vazia à hora em que joga o Benfica. Do Conde Redondo e até Alcântara, é meu e só meu, o asfalto que cruza o Rato, a Estrela e a Infante Santo, como se a cidade tivesse sido desenhada só para mim e como se as luzes que “incendeiam” a Basílica estivessem ali apenas para me sorrir no instante em que eu passar. Não é fácil levar-me a “trair” o Benfica, ainda por cima com um cartão no bolso que me daria livre acesso ao meu confortável lugar e daí aos golos do Gaitan e companhia. Levo comigo no carro o “móbil do crime”: eu e mais quatro amigos que entre o Castelhano, o Português e o inevitável “Portulhol” ou “Espanholês”, damos integralmente corpo à ideia de uma identidade ibérica que vagueia pelo mundo como hoje pelo asfalto só nosso de Lisboa, qual “Jangada de Pedra” de José Saramago. O silêncio morreu no instante em que nos abraçámos na recepção do hotel e ficou definitivamente enterrado no moment

MARIA JOSÉ

Conhecemo-nos há tanto tempo quanto os anos que chegam até hoje desde os dias quentes em que a sede te impunha que gentilmente pedisses um “copo de aba”. Andávamos então no Jardim-Escola da Irmã Celeste, comíamos as aparas das hóstias que as Irmãs preparavam para a missa, cantávamos “as mulheres do monte quando vão à vila…” fazendo todos os gestos da “quebra dos ovos e da fuga das galinhas”; e acabávamos sempre a tarde a escorregar de forma radical nos papelões guardados numa velha arrecadação que existia no lado direito do teu quintal, esse espaço mágico que tinha também uns muros que anos mais tarde foram adaptados às paralelas assimétricas da Nadia Comaneci, sempre que a imitávamos no brilho do seu “10” nos Jogos Olímpicos de 1976, em Montreal. Desde então fomos crescendo, mas sempre uns mais do que outros, que a ti sempre te valeu a grande generosidade da tua fantástica e saudosa mãe que nunca deixava de repetir: - A Zinha agora deu um pulinho. Alturas e centímetros à part

O tempo todo

A cidade acordou não há muitas horas e sente-se o bulício da gente em passo acelerado, aqui e ali até com alguma corrida ao jeito de Obikwelo, não vá o autocarro fugir da paragem. Os veículos motorizados, que são espelho da ansiedade de quem os conduz, aceleram desesperados na ânsia do semáforo passar a verde, instante em que automaticamente soam as buzinas dos que estão ligeiramente atrás. A cidade mais parece o parque gigante de uns Jogos sem Fronteiras onde todos competem por um troféu que não se percebe muito bem qual é. À porta do hospital, à beira do passeio e preparando-se para atravessar uma passadeira das que não têm semáforo e em que os peões ficam integralmente à mercê da generosidade (e do civismo) de quem conduz; um homem com uma velha saca de couro a tiracolo, e daqueles que já se perdeu na contagem dos anos, aguarda apoiado nas suas duas muletas, nada mais do que quinze segundos da “generosidade” de quem corre de carro para não sei onde. Estou ao seu lado, sinto

Palavras

A noite, que caiu há pouco de manso sobre a cidade, devolve-me sempre ao silêncio que pode calar tudo, mas jamais mata as palavras. Nada no universo pode falar mais do que o silêncio. Porque há palavras inquietas que são gritos de memórias eternas, palavras com nome de tanta gente e registo de tantos dias, palavras soltas no silêncio como erva a nascer num campo que a chuva beijou. Há palavras abertas nos braços que acolhem, palavras quantas vezes desprovidas de quaisquer letras e nascidas de olhares que são janelas por onde espreitam sorrisos de alguém. Os sorrisos doces dos amigos. Há palavras de amor em beijos dados à sombra do luar com a cumplicidade do bater incessante das ondas do mar, palavras em rabiscados pedaços de papel que dizem dar verdade ao coração; há palavras de amor nas mãos que se entregam sem reservas nesse instante em que sentimos que há muito a alma se deu à magia de um sonho que não é só de hoje, é eterno em nós. Há palavras de paixão que se soltam à

A Desonestidade e Infidelidade nas Guerras do Coliseu

Orgulho-me de nunca ter deixado de votar em eleições legislativas, europeias e autárquicas; votei em todos os referendos; não me inibo de expressar a minha opinião sobre os mais diversos assuntos, fazendo-o publicamente na grande maioria das situações; acredito em causas e em pessoas; porém, muito dificilmente conseguirei filiar-me num partido político. E sei porquê... Da esquerda à direita os partidos não se inibem de menosprezar as suas bases e raízes ideológicas, sempre que está em causa o poder e a defesa do clã de amigos reunidos em torno de um interesse algures na órbita desse mesmo poder. O militante conta muito mais do que cidadão. Há exemplos para todos: a perseguição aos críticos no PCP, a manipulação na sucessão de Louçã no BE, as guerras surdas entre os herdeiros de Sócrates, Costa e Seguro no PS, as irrevogáveis atitudes de Paulo Portas no CDS; e este fim-de-semana assistimos a mais um triste episódio em directo do Coliseu dos Recreios com a ressurreição de Relvas

O caminhar feliz de um homem abraçado a palavras de amor

A manhã está húmida e envolta numa espécie de chuva envergonhada que incomoda muito pouco, “borrifos” que parecem até ter trazido o benefício de alguma trégua ao frio que às primeiras horas do dia quase nos consegue enregelar todos os ossos. Vou em passo seguro e sinto como as cidades se nos entregam e se fazem nossas quando as percorremos assim no pleno gozo da liberdade de uma manhã de sábado. Caminho há cerca de um quarto de hora e sabe-me muito bem quando transponho as portas e me sento no velho café que tem montra para a azáfama do mercado das flores. Quando preparava a minha primeira visita a Amesterdão, o meu amigo Pedro Marcelo passou-me uma lista de locais a visitar, e estava lá este café. Penso no Pedro. É interessante como as pedras, as cidades e os lugares, nos sobrevivem, não deixando porém de preservar de nós, infinitas memórias guardadas por vezes em mínimos detalhes, memórias que se soltam assim no meio de improváveis dias de passeio. Acho que da sua nuvem,

As lusas dores no “país das maravilhas”

Um colega Indiano que nasceu e vive no Reino Unido com a sua família, pediu-me hoje informações sobre as celebrações do treze de Outubro em Fátima, local onde pretende estar juntamente com os seus pais na concretização de uma vontade de há muito. As suas raízes Católicas, que cruzam o Hinduísmo e a Igreja Anglicana de Sua Majestade, derivam de uma avó nascida em Malaca e que tal como nós falava a língua de Camões. Numa breve conversa trivial de não mais de cinco minutos, o gosto intenso e único da diversidade e da liberdade, detalhes de um sonho chamado Europa e que tantas vezes parece destinado à marcha atrás. Uma nação, da mesma forma que um espaço de nações, é definida pelas pessoas, muito mais do que qualquer particularidade geográfica, índice económico ou outro. E são as pessoas e a fidelidade à sua essência num espaço conjunto de desenvolvimento e de respeito, o expoente máximo da liberdade. Não tardou o gosto amargo da mais triste realidade… Há pouco li num jornal as

O sonho por entre as sombras

Tem um intenso tom cinza de inverno, o momento em que o avião se faz à pista sobrevoando a costa que denuncia um mar revolto. O Norte tal qual o Atlântico. Andam demasiado agitados os mares da Europa, e o tecto de nuvens que persiste sobre Lisboa, estende-se até aqui aos arredores de Amesterdão. Confirmo-o desde o confortável e inspirador “Fernando Pessoa” da frota da TAP. Hoje vim a bordo da poesia. Passo acelerado entre a multidão de gente que parece andar louca e acelerada, mas que afinal segue segura do seu destino entregando-se sem reserva às inúmeras placas que “adornam” todo o espaço. Não tarda e estou sentado numa carruagem do comboio que tem essa estranha sinalética que impõe o silêncio. Nem conversas, nem telemóveis e nem sequer o ruído das malas de viagem a rolar sobre a alcatifa. No mundo do ruído, o silêncio só acontece se for assim imposto como regra. E há uma passageira, guardiã do espaço, que faz “xiu” quando o lusitano já não consegue mais e rebenta numa

O triste destino do fiambre numa sandes à mercê do fogo

É Terça-feira, 18 de Fevereiro do ano de 2014. O dia revela o sol, e ao fim de muitas semanas, consigo fazer-me à estrada sem ser "fustigado" pela chuva ao jeito de um banho em cascata de generoso caudal. De Lisboa a Coimbra, pela hora do almoço, a rádio conta-me a história de um país de sucesso onde a miséria morreu e é intensa a esperança nos melhores e mais fantásticos dias. A fonte: Pedro Passos Coelho numa conferência internacional algures na zona de Lisboa. O dia continua sem chuva e que bom passar as 18 horas ainda com sol, prova de que o tempo está a acelerar de encontro à primavera. De Coimbra a Lisboa e ao cair da tarde, a rádio conta-me a história de um país triste, falido e a morrer afogado na miséria. Um país de mão estendida a pedir esmola e à mercê da generosidade do mundo. A fonte: António José Seguro na mesma conferência internacional algures na zona da grande Lisboa. Duas viagens, duas perspectivas e uma realidade, eu literalmente "entala

Aquele fim de tarde ou um momento especial que me abraça

O resfriado e a chuva persistente convidam ao sofá e à escrita que afortunadamente se suspende para o aroma de um café também temperado por palavras… mas as da conversa do amigo que chegou para que por entre o cheiro a pão quente que a máquina já exala e a vista do Cabo Espichel que a janela ao longe oferece, pela amizade se possa partilhar a vida. Não tarda que descongele a sopa de feijão que a mãe outro dia lá deixou por casa e eu, entretanto já novamente só, retomo a escrita. De repente e em sentido inverso há uma mensagem que chega e congela o coração: a saúde de uma amiga poderá estar em risco. Contactos, telefones, pesquisas… A coisa afinal pode não ser tão grave quanto aparenta. Tempo de respirar fundo. As últimas mensagens trocadas já reflectem uma maior tranquilidade e com muita mais paz me entrego à sopa de feijão que, confirmo, tem aquele toque único que é carícia da Mãe Inácia, a única pessoa do universo que me considera magro apesar dos meus 80kg. Toca o telef

Era uma vez…

Depois da revisão da ortografia que gerou mais desacordo do que acordo entre toda a gente que fala Português; depois da actualização do Código da Estrada e do estabelecimento de novas regras para a abordagem de rotundas; depois da avalanche “reformadora” imposta pela Troika que até levou à suspensão de feriados nacionais… Impõe-se que se proceda rapidamente a uma revisão das histórias infantis pois o conteúdo e a “moral” das ditas estão perfeitamente desajustados da realidade. De facto, todos nós que somos pais, avós, tios, professores, etc; estamos a ser confrontados com um olhar de desdém por parte dos petizes que não conseguem entender em que raio de mundo é que nós fomos buscar semelhantes argumentos e a aprender a tirar tais conclusões. Não entendem porque ficamos felizes com desfechos impossíveis e sem qualquer aplicabilidade. Por exemplo, na história do Capuchinho Vermelho as crianças têm dificuldade em entender a preocupação com a avó. Porquê vir o lenhador a retirar a ido

Amo-te

Amo-te. Tu sabes. Repito-o todos os dias sem data ou hora marcadas, mas quase sempre quando o sol já vai alto na manhã. E também à noite… Quando se solta a poesia que só fala de ti e não se cansa de cantar uns olhos que me trazem o céu. Tu sabes, são os teus olhos. Amo-te. Às vezes “falamos” pelo silêncio… E para o amor, o silêncio é sempre mais verdadeiro do que as palavras, aproximações tão redutoras que adjectivam e dão dimensão àquilo que carrega em si a perfeição absoluta e é infinito. Mais verdadeiros são os beijos e os abraços. Por eles, fizeste do antes de ti, pedaços simples e sem história no contexto da minha própria história. Amo-te. Mas nunca trocamos flores. Mantemo-las vivas por entre as árvores do campo que nos dão sombra e fazem caminho ao sonho de pisar todos os trilhos mão na mão. Amo-te. E a mais ninguém poderei um dia voltar a dize-lo, depois de ser teu como sou, e depois de te amar tanto como amo. Porque, de que vale o depois, como ta

A minha luta com o anti-ciclone

Escrevo de frente para um mar demasiado inquieto, o Atlântico à mercê de um vento fortíssimo que também parece querer entrar à força pela janela do meu quarto, uma brisa tão violenta, que entre gritos e sussurros, me faz acreditar que o Adamastor deixou o seu “Cabo” e veio para aqui espalhar as suas tão temidas “Tormentas”. Aqui ao leme da nau deparo-me com uma série de consequências práticas: voo cancelado, mais uma noite em São Miguel, uma ida forçada à Loja Chinesa aqui do lado para comprar cuecas e meias (e a minha mãe que sempre me repete que não devemos trazer a roupa à conta dos dias porque pode acontecer algo…) e lá vou ter de fazer esse tão grande “sacrifício” de comer mais um Bife à Regional carregadinho de “Pimenta da Terra” e uma Morcela com Ananás, quando chegar a hora de ir jantar. Fosse eu dado a superstições e facilmente diria que num dia treze e à beira de uma Sexta-feira, isto seria mais do que expectável. Sofresse eu da mania da perseguição ou carregasse em mi

Uma noite e o próprio fado

À frente da minha janela vejo o Atlântico que me enche o olhar de azul até ao horizonte, a linha onde não sabemos se o azul é céu ou mar, mágica ilusão de um beijo na eterna paixão que une a Terra ao infinito celestial. Atrás de mim os vulcões de São Miguel vestidos de verde e bordados de hortênsias, as histórias e os mistérios guardados em lagoas que num despudor saudável bebem do céu e da Terra, as cores... e às vezes o azul. Aqui, Português no cais onde as gaivotas matam saudades da terra, o difícil é não ter alma de marinheiro, raro é ter no peito outro suspiro que não o fado. E do fado carrego a memória de uma noite de há uns dez anos, à conversa nos claustros do Convento de São Francisco, a Pousada de Beja, com José Luís Nobre Costa e o Professor Joel Pina, respectivamente, guitarrista e viola de tantos fados e tantos fadistas do meu tempo e de todos os tempos. Num dos acasos, num desses momentos inesperados que são bombons que a vida carrega nos bolsos da nossa história

A voar ao sol para lá das nuvens

Eu sei que é difícil acreditar, mas garanto-vos que o sol ainda brilha radioso por cima destas nuvens que literalmente nos querem afogam. Vejo-o e desfruto dele enquanto vos escrevo cá de cima cruzando os céus em direcção a Ponta Delgada depois de ter atravessado as ditas nuvens e me ter sentido como o sumo no interior de uma garrafa de Compal agitada pelas mãos de um empregado de café com muita pressa. E que saudades eu já tinha deste sol cuja ausência me levou inclusive a agendar uma sessão terapêutica anti-depressiva de Bolas de Berlim na companhia da minha amiga Vanda... Antes tomarei o anti-diabético, não se preocupem. Ainda há pouco a caminho do aeroporto fiz a segunda circular debaixo de uma chuva dissolvente (do que resta da minha paciência) que depois de todos os procedimentos de check-in, bagagem e segurança, me colocou no impulso de um café. Até chegar a esse "sorvo negro e quente indutor de energia" tive ainda de percorrer toda a zona de lojas, e foi int

Quando uma criança pede “cocó”

A manhã de Segunda-feira revela finalmente o sol e confirma que a “Stephanie” já “voou” para outras bandas. Depois da tempestade, a bonança também se manifesta pela ausência de trânsito no IC19, e ao redor do Estádio da Luz parece que já nada de estranho anda pelos ares. Com o meu pai, chego cedo à Sala de Espera do Hospital da Luz onde aguardamos a vez para uma consulta de oftalmologia. A sala está repleta. No silêncio que é quebrado apenas pelo constante e irritante ruído que anuncia a chamada até ao balcão de atendimento do detentor da senha com um determinado número, segundo indicações de um ecrã muito colorido; uma criança com não mais de três anos faz ouvir a sua voz: - Oh mãe leva-me a fazer cocó. E a mãe cumpre as “ordens” e atravessa a sala de mão dada com o miúdo por entre os sorrisos das dezenas de pessoas, porque ninguém pode ter deixado de escutar o pedido feito num tom de voz que só tem desculpa pelo facto de se ser criança. À minha frente e a assistir a es

As cúpulas das “Catedrais”

Traindo o seu sofá numa tarde de domingo, sai um homem de casa debaixo de um temporal imenso porque acredita na vitória do seu Glorioso, e em vez de uma chuva de golos (ou da tão previsível água) leva com uma dita de lã de vidro com aspecto peçonhento. Eu bem sei que quem se mete com “Stephanie’s”, sejam elas tempestades ou princesas, tem sempre uma forte probabilidade de acabar em situações pouco recomendáveis… Mas, enfim… Definitivamente este não foi um bom fim-de-semana para as cúpulas das “Catedrais”. Agora a cobertura da Luz, mas antes, as cúpulas das verdadeiras catedrais. Há muito que admiro D. Manuel Clemente, o agora Patriarca de Lisboa, reconhecendo-lhe um toque de uma inteligente subtileza e modernidade no pensamento. Mas ouvi-lo dizer numa entrevista que “a sociedade é também o conjunto de costumes, tradições, ideias força e valorizações genericamente assumidas”, afirmando simultaneamente que há legitimidade para um plebiscito sobre os direitos das minorias, tudo p

Sábado

A noite trouxe a sonora perseverança do vento no recorrente e estridente empurrar da chuva contra a vidraça. “Gosto muito de ti”. As palavras de amor, as que matam os silêncios, sobrepõem-se sempre a tudo e a todas as lembranças; e abraçam-se a nós no solitário frio de uma noite de tormenta. Sigo pela saudade… A manhã trouxe o sábado, mas sem que o sol conseguisse romper as densas nuvens que persistem neste choro sobre o nosso inverno. Da vidraça molhada é hoje impossível espreitar o mar. Mas há esse beijo matinal da minha mãe, secreto e mágico elixir que pelos dias me faz sentir menino. E há sorrisos e conversa à mesa na hora do pequeno-almoço. Como sempre que estamos juntos. Pela rotina do café, do jornal, do folhear dos livros na Bulhosa, das compras… deixo-me ir até à hora em que o Cozido de Grão já se denunciou e invadiu de aromas as escadas do prédio, uma espécie de “passadeira” sensorial para a família que chegará para o almoço, o código de acesso para quem carr

O “centro” e as suas poucas virtudes

Nos poucos anos de liceu em que estudei Francês deparei-me com a dificuldade em escrever as palavras com a acentuação correcta, aguda ou grave, facto determinante para qualquer língua mas que para o Francês é definitivamente crucial. Assim e sempre que surgia a dúvida, eu recorria a uma técnica que desenvolvi em conjunto com os meus colegas e que consistia em colocar os sinais numa vertical perfeita. Competia depois ao professor escolher qual a inclinação correcta. De forma mais ou menos consciente eu estava a encarnar e a dar uso à nossa peculiaridade genética que determina que “no centro é que está a virtude”. E por isso todos nos esforçamos por estar no “centro”, esse ponto confortável com vista para um e outro lado da questão e que nos deixa a um brevíssimo passo do “sítio destinado ao estacionamento das modas”. À pergunta: - Como estás? Respondemos quase sempre: - Mais ou menos. O “centro” na resposta que não é carne nem peixe, aliás, não é nada porque o “mais” an