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A mostrar mensagens de fevereiro, 2016

Desapertámos a alma para que os braços perdessem o pudor...

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Desapertámos a alma para que os braços perdessem o pudor, as mãos deitassem fora os limites entregando-se inteiras, e para que os nossos olhares tingissem os dias de um inesquecível tom de azul. O céu é este instante que nós sabemos criar, na praia onde os meninos brincam ao sol em rima perfeita com o ouro do meio-dia. Meninos que nasceram assim apenas para nos ensinarem a ser grandes... Porque somos maiores na área aumentada de um abraço, mais altos quando nos deixamos ser colo de alguém, somos pão de riso pelos gestos e pelas palavras, somos gigantes quando as mãos se oferecem em cadeias que parecem não ter fim. E a alma que flui em liberdade nessas praias onde todos brincamos com a areia e as ondas que vão e vêm cumprindo os caprichos da lua. Todos juntos não há quem não ande e quem não sorria… Não há mãos que faltem Todos juntos...

A menina que construía girassóis com as palavras...

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Na terra onde os pardais passam a primavera a brincar com as laranjas das árvores que adornam os passeios, existia uma menina com o inevitável nome de Maria, que vivia numa rua muito larga ladeada por casas imensas e com portas grandes onde tartarugas de metal serviam de puxadores e "campainha" para chamar os vizinhos. Nas portas fechadas, porque aquela que dava acesso à casa da pequena Maria estava quase sempre aberta, e era o cão que dormitava no tapete, que se espreguiçava ladrando ao ver-nos por perto, alertando os da casa que alguém se preparava para entrar. Entre risos e as gargalhadas mais sonoras da rua, a Maria era feliz e brincava com todos os outros meninos, apercebendo-se no entanto que eles cresciam mais do que ela; o que às vezes a deixava triste. A mãe, pessoa sábia e generosa, vendo-a assim apreensiva, oferecia-lhe palavras bonitas, ensinando-a a juntá-las para construir enormes girassóis onde ela se montava depois às cavalitas, ficando bem mais al

Faremos voar o nosso abraço por sobre o asfalto que calou a giesta, e seremos nós a primavera que cumprirá os desígnios deste chão que se fez nosso.

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Faremos voar o nosso abraço por sobre o asfalto que calou a giesta, e seremos nós a primavera que cumprirá os desígnios deste chão que há muito se fez nosso. Porque sonhámos brincando sobre ele, acariciando o barro fresco da terra sob a luz de todas as luas. No irreverente rodopiar com que rasgarmos o vento, o nosso respirar cruzado nos contornos de um beijo inédito deixará palavras desenhadas como pétalas que se espreguiçam ao sol dos meios-dias de Maio. E ao longe os rouxinóis que cantam de dentro dos balsedos adornados de amoras reconhecerão neste voo o gesto cúmplice do seu destino de liberdade. Aquela liberdade que só o amor sabe fazer cumprir. Um beijo que voa dentro dos mais feliz dos abraços.

E quantas palavras tomo eu do mar nessas manhãs de inverno em que ando pelas praias, incessante, a procurar-me?

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Trouxe comigo no porão entre os meus segredos, um bolbo de estrelícias a que tu oferecerás terra, água, cuidados... e o sol que todos os dias beija a tua janela. Veio ali aconchegado entre o tanto de mim que floresce quando os teus beijos tomam a forma de um arado e rasgam a letargia da terra, o chão adormecido da minha espera. Por mais que a Terra dê razão a Foucault e imite o seu pêndulo, girando sobre si mesma e ao redor da luz, a verdade é que nem todos os dias se vestem de sol. Há instantes em que as nuvens escondem o azul do Atlântico, não conseguindo no entanto calar a voz das ondas que o vento amplia num eco imenso em tons de cinza. Monásticos segredos revelados… E quantas palavras tomo eu do mar nessas manhãs de inverno em que ando pelas praias, incessante, a procurar-me? O azul onde persistimos, os bolbos das flores que um dia se espreguiçarão ao sol da tua janela. Estrelícias… em nome da rosa ou de todas as outras flores. 

O Homem é muito mais aquilo que sente do que a idade que tem

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O amor, tal como tudo aquilo que é doce, deixa-nos sempre com a sensação de ter o tempo contado; e às duas por três, julgamos esse tanto do calendário, que até pode ser tudo e a eternidade, atribuindo-lhe um assinalável tom de escassez. Porque o tempo é teimoso e insiste em contrariar o pensamento. Sempre e em qualquer momento… Se não estou contigo e voa acelerado (para ti) o dito pensamento, o tempo espreguiça-se por entre uma inexplicável letargia que incomoda e tem gosto de saudade. Mas por outro lado, em qualquer outro dia, se estou nos teus braços ou estamos os dois sentados ao redor de um chá de cidreira, o pensamento fica quieto saboreando o mundo que os teus olhos lhe dão, voando o tempo como um louco a galgar etapas e a consumir minutos de qualquer maneira. É então que sentimos que escasseia. Ora, se atentarmos que todos os dias têm vinte e quatro horas, cada hora sessenta minutos, e estes sessenta segundos, num puríssimo e muito racional matemático rigor… Semp

Que estranho arranjar-se um dia para falar de amor, se é a vida toda que me ofereces quando saímos os dois para namorar...

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Que estranho arranjar-se um dia para falar de amor, se é a vida toda que me ofereces quando saímos os dois para namorar. O previsível apaga-se rendido à surpresa e até o calendário acaba por se desmoronar... Pode até ser Fevereiro, chover ou fazer frio, mas o teu abraço que me aconchega debaixo de um chapéu verde enquanto caminhamos pelo Rossio, traz com ele o sol que inflama o céu nos dias quentes de Lisboa. Somos nós quem inventa e desenha as pétalas que ressoam das roseiras que suplantam o musgo da calçada, são nossos os corações doces que se escutam um ao outro trazendo-nos à memória aquelas letras das velhas canções que aprendemos no vinil… E dispensamos o chocolate. Deixamos que os gestos acompanhem os olhares no redigir de longas cartas sem papel e sem letras, mas que falam inevitavelmente de amor. Poemas com a rima informal da cumplicidade de quem se deseja com a profundidade de todas as células. Eu amo-te. É claro que sim, e não é só muito, é todo. Porq

E os “Judas” que nunca se “enforcam”…

Exceptuando o contexto litúrgico e alguns enterros do entrudo realizados numas quantas localidades, a verdade é que a comemoração da Quarta-feira de Cinzas não é algo que se veja muito por aí. Eu acho que a principal razão se prende com a interminável Via Crucis e a contínua Quaresma de jejuns onde nos obrigam a passar o tempo. Jejuns do corpo e sobretudo da alma, naquele estado em que já nada se estranha. Vejamos… O fim-de-semana do Carnaval, supostamente de folia, é a estação perfeita para anunciar que “Portugal cai pela enésima vez” com a cruz da Economia sobre os ombros e com um “Simão de Cirene” em versão União Europeia que cobra demasiado para nos “ajuda” a chegar… ao Calvário, que é afinal onde tudo isto sempre acaba. - Classe média toma lá mais austeridade. Levas com uma folga no recibo de ordenado e vai gastá-la na Galp. A multidão divide-se e inverte os papéis. Os que antes cantavam “Grândola” agora assobiam (para o lado) a “Mula da Cooperativa”; e vice-versa.

Nós... desfocados

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Traçámos uma linha a preto que nos disfarça o olhar, e nas faces colámos um tom rosado que importámos directamente de um boião com código, anti-alérgico e devidamente padronizado. Abrigámos o cabelo do ar rebelde com que usualmente o beija a brisa do mar, e mais tarde, mascarámos os gestos e as palavras vestindo-lhes um albornoz de sensatez e calçando-lhes as discretas alpergatas do correcto. Sustivemos o suspiro e o grito, diluindo-os no interior de uma discreta máscara cinzenta; aquela que é preta, branca, que pode ser tudo... não sendo quase nada. E não nos esquecemos do aplicador que espalha sobre nós o perfume da mediana discrição. Nós... desfocados. Talvez nos dispamos de disfarces e possamos mostrar-nos na transparência que nos revela a identidade e a vontade, nem que seja apenas no hiato breve de uma qualquer Terça-feira. Que a riqueza do mundo é a diversidade na festa de sermos autênticos, e tudo mais é um ridículo e estranho Carnaval.

A poesia jamais será cativa das mãos que a pintam ou dos lábios que a cantam…

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A poesia jamais será cativa das mãos que a pintam ou dos lábios que a cantam… das palavras. O coração é o amor, muito mais do que o fisiológico detalhe que nos mantém vivos em corpos de qualquer dimensão. Há pois uma essência como a das rosas que persiste e brilha no silêncio dos gestos e de tudo aquilo que se possa dizer. Uma essência que vive para lá da tão ténue cortina de um adeus. Em poucos dias... O meu amigo Zé ficou a saber que não vai pintar por uns tempos e a Fernanda aguarda também no hospital a oportunidade de se restabelecer e não tardar a poder dançar com a alegria com que o fez connosco no último sábado. Porque os dias às vezes nos calam os gestos. A minha querida Céu Seabra partiu deixando-nos o silêncio por entre o amor gigante que semeou por nós nas tardes em que nos sentámos juntos a sonhar coisas bonitas para os seus meninos. Foi um anjo que passou para me ensinar a sorrir na festa de ser eu. Mas os anjos são pertença do Céu. Também esta sem

Um Santo, uma Rainha, um Thriller e um especialíssimo dia 3 de Fevereiro

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Não são comparáveis em qualquer escala, sobretudo no impacto que tiveram   e têm para estes meus quase cinquenta anos. Na série “O melhor de…” partilho hoje convosco dez emoções em outros tantos momentos daqueles que não se esquecem. Uns totalmente inesperados e outros para os quais até comprei bilhete. UM SANTO A PASSAR-NOS À PORTA Na manhã do dia 14 de Maio de 1982, o Papa João Paulo II visitou Vila Viçosa e passou literalmente pela porta da nossa casa. Não me deitei e passei a noite no Castelo com os meus amigos. De manhã e depois da Celebração da Palavra, juro que cruzei o meu olhar com o do Papa ali à esquina da Casa dos Cantoneiros. Já terei cruzado o meu olhar com o de muitos Santos anónimos, mas este tocou-me especialmente. Uma paz que soube a beijo do Céu. UM THRILLER EM MILÃO No final de uma tarde de Junho de 1997 ao chegar ao Hotel Principe di Savoia , em Milão, tive de fazer prova de hóspede para poder ultrapassar a barreira policial. Michael J

Somos tudo do tanto que de nós se espreita num beijo…

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Há mãos que nos destapam os sentidos por entre o muito subtil encontro à esquina de um instante qualquer. Mãos eleitas de entre tantas que nos abraçam. E enquanto as palavras saem toscas mas enleadas nos aromas das flores que são prenúncio do melhor mel, quem nos olhar com atenção percebe claramente que já nada separa esse tempo, do sonho que fomos guardando na mais recôndita intimidade de nós mesmos. Morreram então já os equívocos na muito estreita e tão curta viela que se abre em nós para um beijo. Com janelas com vista para o rio. Como que se quiséssemos tomar de um trago todas as palavras de amor. Nós somos tudo do tanto que de nós se espreita num beijo… E seguimos depois empurrando o tempo, e até inventando Fevereiro, só para que não tarde nunca a primavera, e para que ela possa entrelaçar as flores nas palavras que as tuas mãos vão descobrindo por entre a festa completa dos meus sentidos.