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A mostrar mensagens de fevereiro, 2012

Um dia raro

Amanhã será 29 de Fevereiro, o dia mais raro porque só de quatro em quatro anos marca presença no nosso calendário. No meio deste ambiente acinzentado pela crise, o Pomar lança um repto, entendendo que deveremos utilizar este dia “extra”, super oferta dos anos bissextos, como tempo dedicado ao prazer, numa atitude positiva, profiláctica ou terapêutica no que às possíveis depressões diga respeito. Saboreemos o gosto, por exemplo, da concretização do que andamos a adiar há algum tempo ou então da adrenalina de fazer algo “fora da caixa”. Não resisto a dar algumas sugestões: - Fazer uma declaração de amor; - Dar o beijo mais romântico e picante do universo; - Comer uma Bola de Berlim com creme sem pensar na dieta; - Beber um copo de vinho ao pôr-do-sol; - Usar aquela roupa ousada que tenho medo seja alvo de crítica; - Ir ao cinema ver um dos filmes premiados dos Oscares; - Publicar um post contra o Cavaco, o Passos Coelho ou a Troika; - Ir a uma sex shop e comprar umas cuecas c

FESTIVAL RTP DA CANÇÃO / 3 de Março

Não importa COMO TUDO COMEÇOU, mas por certo FOI MAGIA, esta ideia de convocar poetas e CHAMAR A MÚSICA, para que no inicio de Março, quando ainda vem longe o VERÃO mas a primavera já espreita e por isso brilha o SOL DE INVERNO, ocorra a FESTA DA VIDA, o espaço de todos os SONHOS MÁGICOS que é o Festival da Canção, para muitos e para mim, UM GRANDE GRANDE AMOR. Faz-se SILÊNCIO E TANTA GENTE espera pelo Eládio e pela Zanatti, para que ELE E ELA venham dar inicio à competição, sempre na certeza de que por aqui A LUTA É ALEGRIA e de que no final, ANTES DO ADEUS, SEMPRE HÁ SEMPRE ALGUÉM, que com mais ou menos PLAYBACK, consegue vencer e gritar BEM BOM. A canção vencedora poderá ter um ritmo intenso como que a convidar-te: - DANÇA COMIGO! Ou então ser ESTA BALADA QUE TE DOU. Esses pormenores são COISAS DE NADA porque o que importa é que ganhará sempre o canto da nossa LUSITANA PAIXÃO, o choro da SENHORA DO MAR, o folclore de DAI-LI-DOU e das danças de roda de TODAS AS RUAS DO AMOR, o c

A Dama do Cinema ganhou o Oscar

Quando se apagam as luzes da sala e nos deixamos transportar para o mundo que as imagens na tela nos revelam, acontece a verdadeira magia do cinema: com os cinco sentidos despertos, entregando-nos todos, e sem um auto-bloqueio às emoções, conseguimos passar a porta que se nos abre aos sonhos. E como é bom sonhar e entregarmo-nos aos sonhos. Quem não o souber fazer resigna-se à banalidade da vida. Jamais saberemos onde começa e acaba a genialidade de um filme, se no realizador, nos actores, nos diálogos, no argumento, na banda sonora, no operador de câmara que captou um plano incrível… Nesta onírica aventura todos são importantes e indispensáveis para o eficaz recrutamento dos sentidos. Mas hoje, no rescaldo da entrega dos Oscares relativos a 2011, permitam-me que me centre na figura daquela que em minha opinião é a maior actriz de cinema do nosso tempo e de quem sou fã incondicional: Meryl Streep. As suas invulgares capacidades miméticas permitem-lhe que seja fantástica na interpr

Adopções

A “Casa da Democracia” lusitana voltou hoje inexplicavelmente a dar um pontapé na Constituição da República, lei suprema pela qual se deveria nortear, no momento em que rejeitou a proposta de lei que permitiria a adopção por casais homossexuais. Afinal, e ao contrário do que afirma a Constituição, quando falamos de orientação sexual, os Portugueses não são todos iguais em direitos, e deveriam ser. Culpa também da lei coxa que permite a união civil entre pessoas do mesmo sexo pois na altura da sua aprovação acabou por legitimar uma “união de segunda” e sem direitos equiparados à união de pessoas de sexos diferentes. Mas nesta questão, permitam que me foque no essencial e que são obviamente as crianças e os jovens passíveis de adopção. Pátria mãe da burocracia e último bastião da família tradicional, os processos de adopção em Portugal são vergonhosamente lentos e assentes em avaliações que se fixam nas capacidades económicas e nos modelos mais conservadores de família, não indo a fun

Um serão de Fevereiro

Da imprevisibilidade dos dias se faz a esperança que nos move e motiva: - E se de repente ali, naquela curva do caminho se nos morrem os Mostrengos e Adamastores e se nos abre o Índico da pimenta… É proibido hesitar porque somos heróis, somos Gamas no querer e na garra, mestres de sonhos, e só os sonhos, por mais ousados ou ridículos, são bússola, astrolábio e carta de marear. No porto da chegada se faz a festa e de chegadas e festa se constroem os momentos maiores que nos marcam o tempo e nos fazem viver. Sobre a mesa há uma jarra de rubras rosas que falam de amor, e a esperança hoje tem a cor dos nossos olhares, primeiro hesitantes e depois tranquilos, que se entrelaçam deixando que o relógio os transporte juntamente com a alma, para o tear dos mais doces e prolongados afectos. Sinto que cheguei. Não quero partir jamais.

O infinito valor do raro

Imagem
Hoje, neste inverno que se faz de frio mas também de muito sol, resguardo-me à sombra de uma laranjeira deste Pomar, e partilho convosco aquela que é a foto da minha infância em que eu me apresento com o maior sorriso. Eu sou o menino da camisola azul e ao meu lado tenho o tio João. Não me recordo de ter tirado esta foto, algures entre os dois e os três anos, mas sempre que sobre ela falámos, nunca os meus pais deixaram de comentar a alegria e a minha excitação por este momento. O tio João era um dos irmãos do meu avô materno e tinha a particularidade de uma altura rara, o que associado ao seu coração de Homem enorme me proporcionou dos momentos mais valiosos e marcantes da minha infância. A foto faz prova. O sorriso de uma criança nunca mente. Recordo-me dos dias felizes e simples em casa do tio João e a tia Maria, os dois irmãos solteiros que tinham ficado assim para se cuidarem mutuamente, e recordo-me de caminhar de mão dada com o tio em pequenos passeios pelas redondezas da

Os cabeçudos e os bombos no funeral do Entrudo

Era uma vez um país periférico do sul da Europa, Portugal, acabado de entrar na década de oitenta do século XX. Não havia Euros nos nossos bolsos (não é que agora os tenhamos, mas isso é por outras razões), não havia centros comerciais e hipermercados, não havia televisão a cores e tínhamos apenas dois canais públicos de TV, não falávamos ao telemóvel e não enviávamos SMS’s, só víamos uma telenovela por dia, não havia “bolicaos” e levavam-se sandes para a escola, não havia cartões multibanco e caixas na parede para levantar dinheiro, usávamos mapas impressos e não havia GPS’s… Mas imagine-se, tínhamos Carnaval. E melhor do que isso, tínhamos vontade de brincar ao Carnaval. E agora? Agora, tudo a Troika levou. Até o Carnaval. Por decreto ou por ausência dele, o país está a trabalhar por estes dias de Entrudo, tradicionalmente gordos, mas que por força da crise estão demasiado escanzelados. Acabar com o Carnaval era mesmo necessário? Não me parece que de todo o seja. Não é por a

Paula

Foi ontem, domingo. A missa de São Bartolomeu tinha terminado há pouco e à sombra da igreja que foi do Convento dos Jesuítas, o frio tinha a intensidade que faz doer, empurrando-nos para o conforto do Café Restauração para junto de uma bica quente. Mas deixei-me ficar por ali mais um pouco. Estou entre a minha gente, os amigos, a família, muito do meu património afectivo que para sempre me fará dizer que Vila Viçosa é a minha casa. Orgulhosamente, a melhor das casas. Beijos, sorrisos, abraços, piadas, boletim clínico, novidades… E o seu olhar triste. A dor maior do universo, a morte da filha, matou-lhe definitivamente o sorriso. Somos parentes e não apenas pelo facto de o sermos, eu gosto muito dela. Durante anos vivemos próximos naquele espaço mágico e privilégio único dos Calipolenses, que é o Terreiro do Paço e a Ilha da Porta dos Nós, partilhando os trabalhos, as doenças, as alegrias, os carnavais e as demais festas, os estudos, os sucessos e os insucessos, no fundo, as vid

Viver

Partir ou ficar? Sim ou Não? Rir ou Chorar? Querer ou não querer? Persistir ou desistir? Continuar ou parar? Falar ou calar? Dar ou reter? Do entrançado das decisões e das escolhas, se tecem os dias e acontece viver, nesse tear em que se processa o confronto perpétuo entre a chama da emoção e o rigor frio da razão. Sem normas ou procedimentos, da indecisão, da dúvida, da incerteza, se alimentam os sonhos e se nos nascem as asas de acreditar que o futuro sim, será tudo aquilo que quisermos ser. Mais longe ou mais perto? O paraíso é sempre o lugar onde queremos estar. Pela verdade de nós mesmos devemos ir sempre, matando pela coerência para connosco, os certos ou os errados que se nos apontem. E a verdade é a alma. E a inspiração será sempre o amor.

Contrastes

O frio corta de tão intenso quando saio à rua pela manhã, mas mirando muito para lá no horizonte como quem procura a Ponte e o Cristo Rei, não paro de me surpreender com a intensidade de um sol resplandecente de um tom forte de amarelos e vermelhos. O carro está gelado, o volante intocável de frio, mas lá está ele redondo e em todo o seu esplendor. Daqui a algumas horas, aliviará o frio. O frio e o sol. O telefone tocou pela hora de almoço e anunciou que o momento do adeus que há dois meses andamos a tentar em vão adiar, está inevitavelmente perto. Não sei se chore, se deva rezar… Mas esta anunciada partida dos que amamos é uma amputação programada de uma parte de nós mesmos. Conscientes, estamos à espera do momento em que morreremos também um pouco. O telefone tocou e num turbilhão de palavras empenhadas em entender a festa do coração, falou incessantemente de amor. E amor afinal nada mais é do que vida. A minha vida. Chego a casa cortando com o rosto o frio da tarde e recordo e